Siri

Mestre em Ecologia e Recursos Naturais (UFSCAR, 2019)
Bacharel em Ciências Biológicas (UNIFESP, 2015)

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Os siris são crustáceos decápodas da infraordem Brachyura, comumente confundidos com os caranguejos devido a sua anatomia e ocupação de habitat semelhantes. Assim como os caranguejos, siris fazem parte da dieta humana e representam uma parcela considerável da pesca global de crustáceos marinhos.

Diferente dos caranguejos, os siris possuem o último par de patas modificadas em “remos”, adaptadas para natação. Contudo, isso não os impede de se mover habilmente na terra, onde costumam se deslocar majoritariamente para os lados. Os siris são exclusivos de ambientes com elevada salinidade, como os oceanos e os ecossistemas estuarinos (como os mangues), onde ocorre mistura de água doce e salgada. Adicionalmente, seus corpos costumam ser mais achatados, lhes concedendo uma forma mais hidrodinâmica, apresentando extremidades laterais pontiagudas. Os siris costumam ser menores que os caranguejos, atingindo um tamanho médio de 20 cm.

Um siri em seu habitat natural. Observe o último par de patas, adaptado para facilitar a locomoção na água. Foto: Thomas Hoang / Pixabay

Os registros fosseis de siris e caranguejos mais antigos datam da era Jurássica, a 160 milhões de anos atrás. Partes de suas carapaças rígidas de quitina são as porções mais encontradas, mas a ausência de indivíduos completos dificulta seu posicionamento de parentesco filogenético com as espécies viventes. No Jurássico, com a formação de grandes extensões de recifes de corais em oceanos rasos e quentes, o registro fóssil indica que houve uma grande radiação de decápodas. Entretanto, no fim deste período geológico, alterações climáticas causaram um declínio deste ecossistema, reduzindo a diversidade de caranguejos e siris, que só voltariam a se tornar diversos e abundantes novamente no Cretáceo.

Os siris exploram muito bem seus habitats, nadando, caminhando e até mesmo escalando árvores ou pedras. Seu primeiro par de pernas são modificados, com pinças fortes usadas para explorar o ambiente, defesa e captura de alimento. Algumas espécies são consideradas territorialistas, afugentando invasores da mesma ou de outras espécies. Os siris são dioicos e se reproduzem através de fertilização interna (cópula), com desenvolvimento indireto (pois ocorrem estágios larvais).

As fêmeas carregam a massa de ovos fertilizados, podendo conter milhões de ovos, aderida na porção inferior de seus cefalotóraces. Depois de duas semanas as larvas são liberadas no ambiente, onde vivem de maneira livre nadante por até um mês e realizam sucessivas mudas até atingirem estágios juvenis, onde apresentam a aparência mais parecida com os adultos.

Siris são criados em cativeiros e são consumidos em várias partes do mundo. Foto: DCChefAnna / Pixabay

Em relação aos seus hábitos de vida, os siris são onívoros generalistas, se alimentando de fungos, bactérias, algas, detritos de matéria orgânica, moluscos e outros crustáceos. Realizam a digestão após a ingestão dos alimentos em cecos digestivos ligados ao estômago, onde são liberadas enzimas utilizadas para facilitar a quebra das substâncias e sua absorção. Possuem um coração no tórax com diversas artérias irradiando hemolinfa pelo corpo. Deste modo, através da hemocianina (pigmento carreador de oxigênio) conseguem vascularizar e nutrir os demais órgãos e tecidos corporais. As trocas gasosas ocorrem quando a hemolinfa passa pelas brânquias, que são os principais órgãos respiratórios dos siris. Uma curiosidade sobre caranguejos e siris é o fato de que a hemocianina possui em sua estrutura cobre, concedendo uma leve coloração azul à hemolinfa.

Quanto ao sistema nervoso e sensorial, os siris possuem um gânglio cerebral conectado a musculatura corporal através de nervos e receptores sensoriais nas pernas, antenas e olhos. O gânglio cerebral também é responsável por controlar a secreção hormonal, que controla funções reprodutivas e inicia o processo de muda, quando todo o exoesqueleto do animal é renovado. Possuem também cromatóforos, células especiais que armazenam pigmento e lhes concedem coloração que varia entre tons de vermelho, amarelo, laranja e até mesmo azul. Esta característica é compartilhada com os caranguejos.

Referências:

Gomes, E.G., 2015. Efeitos do cobre e da salinidade na excreção de amônia e parâmetros associados à osmorregulação no siri-azul Callinectes sapidus (Master's thesis).

Hickman, C.P., Roberts, L.S. and Keen, S.L., 2016. Princípios integrados de zoologia . Grupo Gen-Guanabara Koogan.

Krobicki, M. and Zatoń, M., 2008. Middle and Late Jurassic roots of brachyuran crabs: palaeoenvironmental distribution during their early evolution. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology263(1-2), pp.30-43.

Arquivado em: Crustáceos
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