Domingos Jorge Velho

Mestre em História Comparada (UFRJ, 2020)
Bacharel em História (UFRJ, 2018)

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Domingos Jorge Velho (1641-1705) é um personagem histórico brasileiro. Assim como outros chamados de “bandeirantes”, Jorge Velho era considerado mestiço, desbravador e um aventureiro que conhecia e circulava pelo interior do Brasil em busca de metais, pedras preciosas e indígenas para serem escravizados. Nasceu na vila de Parnaíba, em São Paulo, em 1631 e destacou-se por liderar a expedição que conseguiu a maior vitória militar dos colonos contra o Quilombo de Palmares, em 1694 e 1695.

Seu ofício como apresador, este passou cerca de 25 anos adentrando os sertões do nordeste, e sua experiência em batalhas contra quilombolas e indígenas considerados “bravios” o tornou conhecido como exterminador de índios, também graças a sua notória violência e truculência.

Era mameluco (mistura de branco com indígena), tetraneto de índios tupiniquins, mas já era aportuguesado, características comuns a vários bandeirantes paulistas. Apesar disso, como todo bandeirante, não estavam entre as figuras de mais respeito e prestígio na sociedade colonial, mas era considerado praticamente um bárbaro.

Historiadores citam frequentemente o comentário do bispo de Pernambuco, que o descreveu como um homem selvagem: “Nem falar sabe... nem se diferencia do mais bárbaro dos Tapuias e, apesar de se dizer cristão e ter se casado há pouco, lhe assistem sete índias concubinas.

Pintura a óleo de Benedito Calixto (1853-1927), feita em 1903, atualmente no Museu do Ipiranga. Pintada 200 anos depois da morte de Domingos Jorge Velho.

Em 1671, Domingos Jorge Velho uniu-se à bandeira de Domingos Afonso Sertão, adentrando o interior do Piauí, Ceará e Maranhão. Esteve à frente da campanha que matou e capturou milhares de indígenas de diversas etnias, principalmente aqueles conhecidos como pimenteiras. Esta expedição se estendeu até o ano de 1674, tendo como resultado a ocupação e a fundação do Piauí (ainda não no seu formato atual), com o estabelecimento de colonos e criação de gado.

Após esta empreitada, Jorge Velho prosseguiu adentrando e conquistando terras no Ceará e na atual Paraíba. Em 1680, dirigiu-se à Piancó, onde comandou ataques contra os índios icós e sucurús. Estas expedições levaram vários anos.

Investidas contra o Quilombo de Palmares

O feito que lhe deu maior notoriedade no mundo colonial foi o ataque bem sucedido contra Palmares, em 1694-1595. O quilombo, o maior de toda a América, naquele momento contava com mais de 50 mil pessoas, entre ex-escravizados, indígenas e pessoas vindas do norte da África.

A mobilização contra Palmares se deu depois de quase um século de organização e resistência aos ataques de bandeiras, solicitados pelas autoridades coloniais. Com a ascensão de Zumbi dos Palmares, em 1678, multiplicaram-se as investidas quilombolas contra povoados e fazendas das redondezas. Já haviam sido enviadas, sem sucesso, vinte e cinco expedições com a intenção de reprimi-lo.

Em 1686, o governador de Pernambuco, João da Cunha Souto Maior, diante do insucesso das expedições anteriores, solicitou a ajuda do experiente Domingos Jorge Velho e começaram as negociações para sua contratação. Só em 1691 ficaram acertados os detalhes contratuais. O bandeirante exigiu a concessão de sesmarias (terras), perdão dos crimes cometidos e 1/5 dos indígenas aprisionados na expedição.

Com uma tropa estimada em nove mil homens, Jorge Velho deu início à expedição em 1694, tendo como o apoio a tropa pernambucana de Bernardo Vieira de Melo. Assim, após 22 dias de cerco, atacou o quilombo e destruiu sua principal aldeia. Mas só em novembro de 1695 conseguiu efetivamente dar um duro golpe na engenhosa defesa do Quilombo de Palmares. Depois, é claro, de um longo tempo de resistência por parte dos quilombolas. Zumbi teve sua cabeça cortada e enviada para Recife. Estima-se que pelo menos 15 mil quilombolas defenderam Palmares.

Historiadores encontraram ordens régias de 1694 a 1699, solicitando o bandeirante a organizar expedições punitivas contra indígenas da confederação dos Cariris e outras etnias no Maranhão. Assim, partiu com missionários locais em busca da dominação e catequização de indígenas maranhenses, pernambucanos e cearenses.

O Destino de Domingos Jorge Velho

Pelos serviços prestados à Coroa, Jorge Velho recebeu uma grande quantidade de terras e a patente de Mestre de Campo. Obteve também licença para fundar duas vilas na Paraíba. No final de sua vida, residiu em Piancó, alto sertão da Capitania da Paraíba, casou-se com Jeronyma Cardim Fróes e veio a falecer em 1704, aos 64 anos, segundo relatos posteriores de sua própria esposa.

É importante ressaltar que a figura heroica dos bandeirantes foi construída a partir do século XIX, quando intelectuais e homens de poder da época buscavam encontrar personagens históricos para encaixar em uma história nacional de ares grandiosos. Diferente das representações em que os bandeiras apresentam em poses semelhantes a de monarcas europeus, seu trabalho e sua vida era ganha através da violência, aniquilação e a escravização de indígenas e africanos não integrados ao sistema colonial. A grandiosidade dos quadros e dos monumentos é um fenômeno que contrasta com a realidade das ações de homens como Domingos Jorge Velho.

Referências:

MONTEIRO, John Manuel. Negros da terra. Índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo, Companhia das Letras, 1998.

TAUNAY, A. História geral das bandeiras paulistas. São Paulo, H. L. Canton, 1924-50.

VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil colonial (1500-1800). Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

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