Aleloquímicos

Graduação em Farmácia e Bioquímica (Uninove, 2010)

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O termo alelopatia tem origem grega, surgindo da união das palavras allelon (de um lado para o outro) e pathós (sofrer), significando mútuo e prejuízo, respectivamente. O conceito descreve como um indivíduo, planta ou micro-organismo pode exercer influência sobre o outro, de modo a lhe causar benefícios ou malefícios. Esta ação é regulada por compostos químicos, conhecidos como substâncias alelopáticas, também denominados aleloquímicos ou produtos secundários.

A interação alelopática pode ser definida como uma série de processos que envolvem a síntese de produtos secundários por plantas, algas, bactérias e vírus, de modo a influenciar no crescimento e desenvolvimento de sistemas biológicos e agrícolas.

Os organismos vivos apresentam muitas formas de se comunicarem entre si, sendo que a comunicação química é feita através de substâncias denominadas agentes semioquímicos. Nesta situação, há a interação entre um agente doador, que sintetiza e emite os compostos semioquímicos específicos e, o agente receptor, que irá detectá-los, seja através de sensores ou receptores moleculares. Dentre esses, estão os feromônios e os aleloquímicos, que apresentam ação distinta. Os feromônios são produzidos pelos organismos e excretados no ambiente, sendo detectados por indivíduos da mesma espécie, provocando mudanças específicas no comportamento deste segundo. Exemplos são os feromônios sexuais, úteis na reprodução, pois provocam a atração entre o macho e a fêmea. Nos cães, durante a reprodução, há a liberação de feromônios pelas cadelas que irão atrair os machos, que independente da raça, pertencem à mesma espécie, mas não atrairão porcos, por exemplo. Já os aleloquímicos são biomoléculas intermediárias, que atuam na interação entre dois indivíduos pertencentes a espécies diferentes. São comuns na interação entre plantas e insetos. Assim, enquanto os feromônios atuam na comunicação intraespecífica, entre membros de mesma espécie, os aleloquímicos passam a atuar na comunicação interespecífica, entre espécies distintas.

Os aleloquímicos apresentam terminologias específicas, de acordo com a natureza do agente doador e do receptor dessas substâncias. São assim divididos em três classes: os alomônios, cairomônios e sinomônios.

  • Cairomônios: é um composto ou uma mistura de compostos que favorecem a espécie receptora, causando desvantagem ou danos para o emissor. São geralmente produzidos por uma presa e percebidas pelo predador. Exemplo está na vespa parasitóide Cardiochiles nigriceps que responde aos compostos orgânicos produzidos pelas glândulas da lagarta Heliothis virescens, que se alimenta das folhas das maças e do tabaco.
  • Alomônios: são compostos geralmente utilizados para a defesa da espécie. Assim, favorecem a espécie emissora. Exemplos são as substâncias repelentes produzidas pelas formigas e os compostos do metabolismo secundário produzidos por plantas. As aranhas-bola do gênero Mastophora sintetizam alomônios que se assemelham ao feromônio sexual produzido por fêmeas de duas espécies distintas, atraindo os machos destas espécies para então capturá-los através de uma bola de seda pegajosa.
  • Sinomônios: quando ambas são favorecidas, tanto o emissor, quanto o receptor. São identificados na interação entre planta e herbívoro, herbívoro e predador. Exemplos são as interações que se estabelecem entre a formiga e o pulgão, assim como entre a planta e o parasitoide. Quando a planta está sofrendo ataque, inicia a liberação de compostos voláteis, com a atração dos predadores deste herbívoro.

Considerando que as plantas são imóveis, a principal função dos aleloquímicos por elas produzidos será a proteção ou defesa contra o ataque de herbívoros, fitopatógenos ou à invasão de outras plantas. De acordo com a estrutura química desses aleloquímicos, podem ainda ser divididos em cinco grupos: ácido cinâmico, flavonoides, terpenoides, esteroides e alcaloides. A maioria desses compostos ocorrem na forma de glicosídeos, substâncias que podem ser tóxicas. Assim, os glicosídeos se combinam com açúcares e perdem sua toxicidade, se tornando inócuas para a planta.

O estudo das substâncias químicas que intermedeiam as relações entre organismos pertencentes a mesma espécie, ou entre espécies diferentes, possibilita o avanço e a descoberta de novos compostos para o manejo de pragas.

Bibliografia:

Pires, Nádja de Moura; Oliveira, Valter Rodrigues. Alelopatia. EMBRAPA Digital, Capítulo 5. Disponível em < https://www.alice.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/910833/1/BMPDcap5.pdf>.

Reis, Analú Campos. Identificação dos semioquímicos envolvidos na comunicação do besouro Rhinostomus barbirostris (coleóptera: curculionidae). Dissertação de mestrado. Ilhéus: UESC, 2017. Disponível em < http://nbcgib.uesc.br/ppgquim/dissertacao/Dissertacao_AnaluR.pdf>.

Sá, Marcus Madolesi. Ecologia Química: o papel dos semioquímicos na comunicação entre insetos. Click Ciência. Disponível em <http://www.clickciencia.ufscar.br/portal/edicao16/artigo1_detalhe.php>.

Thomazini, Marcílio José. A Comunicação Química entre os Insetos: Obtenção e Utilização de Feromônios no Manejo de Pragas. EMBRAPA Digital, Capítulo 17. Disponível em < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/56267/1/CAP-Marcilio.pdf>.

Arquivado em: Bioquímica
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