Carbamatos

Mestre em Neurologia / Neurociências (UNIFESP, 2019)
Especialista em Farmácia clínica e atenção farmacêutica (UBC, 2019)
Graduação em Farmácia (Universidade Braz Cubas, UBC, 2012)

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Carbamatos, também chamados de Uretanos, são compostos orgânicos derivados do ácido carbâmico (compostos nitrogenados) com ação anticolinesterásica, ou seja, capaz de inibir de forma reversível a ação da enzima Acetilcolinesterase (AchE), responsável pela a degradação da acetilcolina (uma molécula neurotransmissora) tornando-a, muito mais ativa nas fendas sinápticas causando hiperexcitação celular. São utilizados como inseticidas, fungicidas e parasiticidas no setor agrícola.

Compostos químicos da classe dos carbamatos

Dentro desta classe há diversas substâncias com grau de toxidade variado, podendo ser prejudicial aos animais e seres humanos. Mundialmente distribuído, é a principal classe utilizada como inseticida, possuindo em torno de vinte e cinco (25) compostos diferentes. Dentre os compostos desta classe temos o moban, aldicarb, e carbaril sendo que o mais conhecido entre eles é o aldicarb, ou como é popularmente conhecido, “chumbinho”. Esse tem sido destacado por conta das tentativas de suicídios e intoxicações em crianças. O Aldicarb é classificado pela Environmental Protection Agency (EPA), agência de proteção ambiental dos Estados Unidos, na mais alta categoria de toxicidade, tendo sido estabelecido o controle estrito para o uso. Apesar de serem tóxicos os carbamatos, com exceção do Aldicarb, são considerados relativamente menos tóxicos, mais seguros portanto, quando comparado aos outros grupos de agrotóxicos como os organoclorados e organofosforados.

Fórmula estrutural plana do aldicarb.

Envenenamento por carbamatos

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) ocorrem aproximadamente cerca de três milhões de envenenamentos por utilização incorreta ou tentativa de suicídio, por ano e dentre esses casos aproximadamente 220.000 mortes. No Brasil segundo o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX), casos de intoxicações por agrotóxicos são a terceira causa mais comum de intoxicação no território nacional, perdendo apenas para intoxicação por medicamentos e por por peçonhas de animais. Ainda de acordo com a SINITOX, só no ano de 2000 no Brasil ocorreram cerca de 14.401 intoxicações em crianças até 9 anos, sendo que desses 1.567 casos tiveram como agente tóxico algum tipo de pesticida, no caso de agrotóxico de uso agrícola (264 casos), uso doméstico (606 casos), produtos veterinários (77 casos) e os raticidas (620 casos). Segundo Martins (2014), os episódios de intoxicação, por diferentes tipos de exposição, ocorrem pela facilidade de aquisição do produto no mercado, principalmente informal, favorecendo ocorrências tóxicas no ambiente domiciliar, principalmente por crianças, com ingestão acidental, além das tentativas de suicídio e homicídio por adultos.

Por esse motivo a utilização incorreta de produtos agrotóxicos acabou se tornando um problema de saúde pública, principalmente em países em desenvolvimento como o Brasil, cujos quais há maior índices de morbidade e mortalidade causadas por essas substâncias.

Os carbamatos possuem toxicidade média em relação aos outros produtos encontrados no mercado, porém o aldicarb dentre todos eles é o que apresenta maior risco por sua característica físico-química. Os casos de intoxicação por esse produto em geral são graves, pela sua alta taxa de mortalidade devido a condutas médicas inadequadas para diagnóstico e tratamento, em alguns casos muito tardio, levando a 20% de óbitos.

Como os carbamatos agem no organismo

De forma geral, os carbamatos são normalmente absorvidos pelo organismo pelas vias oral, respiratória e cutânea, enquanto o composto químico “aldicarb” é absorvido com facilidade no trato gastrointestinal e, intensidade relativamente menor, através de tecidos cutâneos (pele). Sua metabolização é em geral rápida, sem ocorrência de bioacumulação ou efeitos carcinogênicos, teratogênicos, mutagênicos ou imunotoxicidade como ocorre com outras classes como organoclorados. Sua eliminação acontece principalmente por via urinária e por via entero-hepática, quando ocorre pela via biliar, prolongando a sintomatologia. As manifestações clínica dependem principalmente da via de administração (ou maneira que o indivíduo fora exposto), do tempo de exposição do produto e da dose.

Tratamento

O tratamento mais comum utilizado é o carvão ativado diluído em soro fisiológico e o antídoto de escolha é a atropina, podendo também ser utilizado outros medicamentos para reversão de outros sintomas relacionados com a intoxicação.

Bibliografia:

Fukuto, T R (julho 1990). «Mechanism of action of organophosphorus and carbamate insecticides.». Environmental Health Perspectives. 87: 245–254. ISSN 0091-6765.

DE SOUZA VIEIRA, Luiza Jane Eyre et al. Envenenamento por carbamato em crianças: estudo descritivo. Revista Brasileira em Promoção da Saúde, v. 17, n. 4, p. 193-199, 2012.

MARTINS, Ericka Helena Costa. Intoxicações por aldicarb no estado da Bahia, Brasil. Revista Baiana de Saúde Pública, v. 29, p. 77, 2014.

MEDEIROS, Márcia Noelle Cavalcante; MEDEIROS, Marília Cavalcante; SILVA, Maria Beatriz Araújo. Intoxicação aguda por agrotóxicos anticolinesterásicos na cidade do Recife, Pernambuco, 2007-2010. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 23, p. 509-518, 2014.

Arquivado em: Compostos Químicos
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