Dipirona

Por Diego Marques Moreira

Mestre em Neurologia / Neurociências (UNIFESP, 2019)
Especialista em Farmácia clínica e atenção farmacêutica (UBC, 2019)
Graduação em Farmácia (Universidade Braz Cubas, UBC, 2012)

Categorias: Farmacologia
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A [(2,3-diidro-1,5-dimetil-3-oxo-2-fenil-1H-pirazol-4-il)metilamino] popularmente chamada de dipirona também conhecida como metamizol foi produzida pela primeira vez em durante o ano de 1920 pela empresa alemã Hoechst AG, sua produção em massa se iniciou em 1922 porém em 1970 alguns países como os EUA proibiram sua venda por ser capaz de causar agranulocitose (alteração caracterizada pela diminuição das células sanguíneas ou ausência de leucócitos), porém em muitos países, como no Brasil, essa droga é de venda livre e isenta de prescrição médica.

Fórmula estrutural da dipirona sódica.

A dipirona é uma das drogas mais utilizadas no Brasil para o alívio de febre e dores, como as dores de dente, neuralgias, dores de cabeça e miosites. Dentre os fármacos que contém a dipirona como parte da composição temos o Lisador®, Dorflex®, Neosaldina®, Novalgina® e Buscopan composto® e em todos estes, estão presentes bulas indicando os riscos associados ao uso. No Brasil este fármaco está disponível nas formas farmacêuticas solução oral e injetável, gotas e comprimidos.

Farmacocinética: por administração intravenosa (IV) são obtidos altos níveis plasmáticos e seus efeitos podem se iniciar dentro de 30 minutos a 1 hora e podem durar até 6 horas. Sua metabolização é hepática e dentre os metabólitos da dipirona temos 4-metil-amino-antipirina (4-MAA), 4-amino-antipirina (4-AA), 4-acetil-amino-antipirina (AAA) e 4-formil-amino-antipirina (FAA), seus efeitos analgésicos estão correlacionados com as concentrações dos metabólitos ativos MAA e AA, e são excretados via renal.

Farmacodinâmica: Os metabólitos ativos 4-MAA e 4-AA são responsáveis pela inibição da síntese de prostaglandinas por sua ação nas enzimas Ciclooxigenases (COXs), porém seus mecanismos de ação analgésicos ainda não estão bem elucidados pois podem ocorrer de a nível do sistema nervoso central e periférico. Para o efeito antiinflamatórico e analgésico a dipirona depende principalmente da inibição da síntese de Prostaglandinas pelo bloqueio da COX 2 interferindo também com a produção de citocinas pró-inflamatórias como a IL e a FNT e em decorrência da inibição da COX 3 periférica há o efeito antipirético e analgesia semelhante ao paracetamol pela inibição da COX 3 central (figura 2). Além disso, interferência a nível de substância P, neurocinina 1 e na via da PKC podem também contribuir para a obtenção de um efeito antinociceptivo.

Possíveis mecanismos relacionados ao efeito analgésico da dipirona. Traduzido e adaptado de: JASIECKA, A.; MAŚLANKA, T.; JAROSZEWSKI, J. J. Pharmacological characteristics of metamizole. Polish journal of veterinary sciences, v. 17, n. 1, p. 209, 2014.

Efeitos colaterais: de acordo com a literatura, comparada a outras drogas da classe de analgésicos não opioides a dipirona é relativamente segura. Os efeitos mais comuns são desordens gastrointestinais como náuseas, vômitos, dores abdominais e diarréia, porém ainda mais segura quando comparada aos demais anti-inflamatórios não-esteroidais. A dipirona também mostra um potencial efeito hepatotóxico porém durante o tratamento são baixos os riscos de desordens hepáticas. O efeito mais controverso é o da agranulocitose, alguns estudos mostraram que o risco de desenvolver leucocitopenia , agranulocitose ou até mesmo anemia aplástica (doença onde há baixa produção dos três elementos figurados do sangue pela medula óssea) eram grandes quando administrada de forma prolongada porém por anos estudos mostraram resultados divergentes quanto a estes riscos.

Alguns estudos mostraram que a dipirona não causa anormalidades congênitas, o que indica que seu uso é seguro para gestantes, porém nos três primeiros trimestres de gestação sua classificação de segurança é C (benefício do produto pode justificar o risco potencial) e no terceiro é D (Evidências de risco em fetos, só utilizar quando benefício justificar risco).

Referências:
Burke A, Smyth E, Fitgerald GA - Analgesic-Antipyretic and Antiinflmatory Agents; Pharmacotherapy of Gout, em: Brunton LL, Lazo JS, Parker KL – Goodman & Gilman´s The Pharmacological Basis of Therapeutics, McGraw-Hill 11th ed N York ,2005, p 671.

JASIECKA, A.; MAŚLANKA, T.; JAROSZEWSKI, J. J. Pharmacological characteristics of metamizole. Polish journal of veterinary sciences, v. 17, n. 1, p. 207-214, 2014.

Vale N., Desmistificando o uso da Dipirona. Medicina Perioperatória Cap126, p 1111-1113.

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