Objetividade e subjetividade em Ética

Mestre em Filosofia (UFRJ, 2012)
Especialista em Planejamento, Implementação e Gestão da Educação (UFF, 2015)
Graduado em Filosofia (UFRJ, 2010)

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A divisão entre subjetivistas e seus críticos surge do debate sobre a natureza dos valores morais. Mas o que são esses valores? Estamos acostumados a considerar o custo de uma mercadoria, que é seu valor econômico, e em outros casos dizemos que um objeto, um relógio, por exemplo, que por mais antigo e usado, não é descartado por possuir valor emocional. Esses valores estão relacionados aos seres humanos e suas culturas. Uma pérola é apenas um objeto para a natureza, resultado do mecanismo de defesa de alguns moluscos, mas é utilizada como adorno por nós.

Os valores morais mantêm certa relação com os demais valores, a saber, são valores que dependem dos seres humanos, pois caso não existíssemos, não haveria valores morais, ou comportamentos sendo avaliados como errados ou corretos. Posicionar-se quanto ao grau dessa dependência é o que divide os filósofos em subjetivistas e objetivistas. Quando pensamos que matar é errado, certamente poderíamos encontrar um sentimento ou algo em nossa educação moral que explique nosso posicionamento moral quanto a esse ato. Em todo caso, dificilmente consideraríamos que esse ato é moralmente errado porque sentimos que seja ou porque fomos educados a acreditar que seja.

O tipo de subjetivismo que estabelece uma relação direta entre os valores, especialmente os morais, e gostos ou preferências pessoais é considerado radical. É indiferente, também, a complexidade na qual nos encontramos. Precisamos perceber que cada indivíduo:

“pertence a uma época e, como ser social, se insere sempre na rede de relações de determinada sociedade; encontra-se igualmente imerso numa dada cultura, da qual se nutre espiritualmente, e a sua apreciação das coisas ou os seus juízos de valor se conformam com regras, critérios e valores que não inventa ou descobre pessoalmente e que têm, portanto, uma significação social.” (VÁZQUEZ, 2007, p. 143)

Essa consideração permite concluir que os valores morais são fruto de construções histórico-sociais e que, por isso, não podemos acreditar que haja algum valor que independa desse processo. Caso exista, esse valor seria universal, ou seja, válido -- compreensível e aceitável -- por qualquer pessoa ou cultura.

Ao mesmo tempo em que essa consideração pode servir de base a perspectivas subjetivistas, também não podemos deixar de considerar que nenhuma sociedade, tribo ou grupo de pessoas possui conduta moralmente impecável. As ações de qualquer pessoa podem ser criticadas, pois não existem agentes morais perfeitos. Consequentemente, não podemos eleger nenhuma moralidade como modelo a ser seguido.

De acordo com Russ Shafer-Landau (2010), os críticos dos valores morais objetivos poderiam aceitar que o caráter de ser absoluto está relacionado com a rigidez, ou seja, seriam aquelas regras e princípios que não admitem exceções. Mas essa característica não estaria diretamente relacionada com o status dos princípios ou valores morais, a saber, se são objetivos ou não.

“Nada na própria ideia de uma realidade moral objetiva requer que regras morais sejam absolutas. [...] Essa qualidade das regras morais de serem absolutas está relacionada com o seu rigor: se pode-se ou não sequer quebrá-las. Não há conexão direta entre questões de status e questões de rigor. Isso fica claro quando tratamos das leis naturais. Várias leis biológicas e psicológicas admitem exceções, e por isso não são absolutas, apesar delas serem objetivas.” (SHAFER-LANDAU, 2010, p. 322)

Mesmo com essa ressalva, a questão não chega a uma solução simples. A definição clássica do que é subjetivo aponta para os sentimentos ou preferências de alguém, que podem ser comunicadas e compreendidas, mas que não pertencem à esfera dos fatos. O que é objetivo só o é porque pode ser indicado, ou se constitui, como um fato.

Se os valores morais forem objetivos, então eles adquirem o status de fatos, e não seriam considerados expressões de desejos, esperanças, etc. Essa questão é epistemológica, pois diz respeito a se os valores ou fatos morais podem ser reconhecíveis e a como os conheceríamos. Já que as pessoas não tiveram uma orientação moral comum em sua educação, associando a isso a própria influência do meio social e as questões individuais, como seríamos capazes de alcançar tal conhecimento?

Leia também:

Referências:

SHAFER-LANDAU, Russ. Moral Realism: A Defence. Oxford: Clarendon Press, 2003.

_____. The fundamentals of Ethics. New York: Oxford University Press, 2010.

VÁZQUEZ, Adolfo S.. Ética, 29a ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.

Arquivado em: Ética, Filosofia
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