Ciclo da borracha

Mestre em História (UFAM, 2015)
Graduado em História (Uninorte, 2012)

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O chamado ciclo da borracha pode ser dividido em duas fases. A primeira vai da década de 1870, quando o surto migratório ganha forma na região norte do Brasil, até os anos 1912, quando há uma retração da economia gomífera ocasionada pelo crescimento da concorrência internacional. A segunda fase foi alavancada pela Segunda Guerra Mundial, no contexto da Era Vargas e marcada por uma verdadeira Batalha da Borracha, onde milhares de soldados sangravam as seringueiras para suprir demandas da indústria norte-americana. Ambas foram acompanhadas por grandes fluxos migratório de outras regiões do país.

Como base da economia gomífera no ciclo da borracha, o sistema de aviamento não pode ser pensado sem seus principais elementos: o seringal, o seringalista e o seringueiro. O seringal era formado por uma espécie de barracão, onde moravam os “patrões” e algumas famílias de trabalhadores, formando um vilarejo. Era geralmente localizado próximo a rios para facilitar o abastecimento de mercadorias e escoamento da produção. Como unidade produtiva e social o seringal também se constituía pela posse de uma imensa área conectada por caminhos onde se localizavam as seringueiras. O seringalista era conhecido como “patrão”, o dono dos meios de produção que comandava seus capatazes, gozando dos privilégios de mando. O seringueiro provinha das camadas mais pobres da população e, na maioria das vezes, era o migrante nordestino que, imerso num sistema de endividamento do qual dificilmente conseguia escapar, vivia numa condição semi-escravista, à mercê dos “patrões”.

A partir dos dados sobre demografia na Amazônia, podemos considerar que o ciclo da borracha esteve relacionado à grande migração nordestina para a região. Tal fenômeno emergiu à medida que o processo de vulcanização da borracha tornou-se conhecido. Este fluxo foi motivado pela fome e miséria que assolava grande parte da sociedade brasileira no Segundo Reinado no Brasil. Nos anos 1870, os governos incentivaram a migração como uma forma de amenizar os conflitos sociais resultantes da concentração fundiária iniciada ainda no Período Colonial. Os conflitos no campo, a seca que se alastrou pelo nordeste e o sonho de uma vida melhor levou muitos migrantes a buscar alternativas. A partir dos anos 1940 até 1960, somaram-se aos mais de 35 mil nordestinos que já estavam na região outros 54 mil dos quais mais da metade migraram do Ceará com financiamentos do Banco de Crédito da Amazônia.

Pode-se considerar que, para além dos recursos naturais extraídos ao longo daquele período, outros recursos altamente explorados foram o sangue e o suor de milhares de nordestinos que desfaleceram na Amazônia sem poder resistir às doenças e aos enganos do modo de produção gomífera. Além disso, as condições em que se criavam os seringais, nem sempre eram amistosas. Estas resultaram, muitas vezes, em grandes conflitos com os grupos indígenas da Amazônia. O resultado foi que milhares de seringueiros foram mortos pelos índios e muito mais indígenas foram mortos nesses confrontos. Etnias inteiras foram dizimadas em troca do estabelecimento dos seringais. Se as vidas dos seringueiros eram muitas vezes desvalorizadas, as vidas dos indígenas nem parecem ter sido postas a preço tamanha a crueldade com que foram perseguidos e escravizados em pleno despontar do século XX.

Referências bibliográficas:

CHEROBIM, Mauro. Trabalho e comércio nos seringais amazônicos. Perspectivas: Revista de Ciências Sociais, 1983. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/108221/ISSN1984-0241-1983-6-101-107.pdf?sequence=1; Acesso em: 11 set. 2017.

MONTEIRO, Jorgemar. Seringal, seringalista e seringueiro. Centro Cultural dos Povos da Amazônia. Disponível em: http://portalamazonia.globo.com/detalhe-artigo.php?idArtigo=210; Acesso em: 07 set. 2017.

SILVA, Maria de Andrade. A Borracha passada na História: Os Soldados da Borracha durante a Segunda Guerra. Monografia para obtenção do grau de Bacharel em História. Universidade do Estado de Santa Catarina. Florianópolis: 2005. Disponível em: https://pt.scribd.com/document/15856847/SILVA-MAria-A-Borracha-passa-na-Historia-Os-Soldados-da-Borracha-na-Segunda-Guerra-Mundial; Acesso em: 05 set. 2017.

SILVA, Antônio Carlos Galvão da & SILVA, Josué da Costa. Seringueiros na Amazônia. Disponível em: http://www.neer.com.br/anais/NEER-2/Trabalhos_NEER/Ordemalfabetica/Microsoft%20Word%20-%20AntonioCarlosGalvaodaSilva.ED2V.pdf; Acesso em: 19 set. 2017.

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