Passeata dos cem mil

Mestre em Educação (UFMG, 2012)
Especialista em História e Culturas Políticas (UFMG, 2008)
Graduada em História (PUC-MG, 2007)

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Durante o ano de 1968, a ditadura militar sofreu com uma série de levantes populares que demonstraram a insatisfação com o regime militar e ocasionaram a edição do AI-5, em dezembro daquele ano. Uma dessas manifestações foi chamada de Passeata dos Cem Mil, ocorrida em 26 de junho em decorrência da morte do estudante secundarista Édson Luis de Lima Souto.

As manifestações populares e a repressão policial

Em 1968 diversas manifestações populares, como as greves de Contagem e de Osasco, levaram a radicalização do regime militar que via em tais atos sinais do avanço do comunismo no país.

Diversas manifestações estudantis também ocorreram naquele ano, nenhuma com mais repercussão do que o protesto estudantil devido ao atraso das obras no restaurante universitário Calabouço. Apesar de servir péssima comida, o preço era acessível a grande parte dos estudantes naquele contexto de política de arrocho salarial promovido pelos militares. Durante a manifestação, a polícia chegou de forma truculenta e acabou matando a queima roupa o estudante. Sua morte causou comoção nacional e seguiram-se dias de protestos por diversas cidades do país.

A passeata e o apoio popular

Em 26 de junho foi marcada a manifestação, permitida pela polícia devido às más repercussões acerca do conflito entre militares e estudantes em outra manifestação cinco dias antes que foi chamada pela imprensa de "sexta-feira sangrenta".

Os manifestantes se concentraram na Avenida Rio Branco, no centro do Rio de Janeiro, e saíram dali às 14h em marcha em direção à Igreja da Candelária, onde havia acontecido a missa de protesto contra a morte do estudante. Ao chegar na Igreja, o líder estudantil, Vladimir Palmeira fez um discurso em protesto contra a ditadura militar, relembrando a morte do estudante. Mais tarde, preso e torturado, Vladimir foi um dos quinze presos políticos enviados ao México no episódio do sequestro do embaixador Charles Elbrick, em 1969.

Portando faixas com dizeres contrários à ditadura, o grupo chegou a cerca de 100 mil manifestantes. Com duração de aproximadamente três horas, a passeata foi encerrada sem confronto policial às portas da Assembleia Legislativa.

Dessa forma, a Passeata dos Cem Mil, como ficou conhecida, foi considerada uma manifestação que demonstrou aos militares a maturidade dos manifestantes em torno da luta contra o regime militar e a insatisfação popular diante dos métodos utilizados para reprimir qualquer um que fosse contrário às decisões do governo.

Apoiadas por intelectuais, artistas, estudantes, políticos de esquerda, organizações sindicais e paramilitares, além de parte da Igreja Católica, as manifestações estudantis de 1968 balançaram a segurança dos militares quanto ao apoio da população à manutenção da ditadura no país, o que foi respondido, em 13 de dezembro daquele ano com a edição do AI-5 e o fechamento do Congresso Nacional.

Bibliografia:

PAES, Maria Helena Simões. Em nome da Segurança Nacional: do golpe de 64 ao início da abertura. São Paulo: Atual, 1995.

SCHWARCZ, Lilia M.; STARLING, Heloisa M. No fio da navalha: ditadura, oposição e resistência. In: Brasil: uma biografia. São Paulo: Cia das Letras, 2015, p. 437-466.

Arquivado em: Ditadura Militar
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