Bombardeio de Manaus

Mestre em História (UFAM, 2015)
Graduado em História (Uninorte, 2012)

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O Bombardeio de Manaus (1910) pode ser caracterizado como um problema de ordem política e econômica que tomou forma no Governo de Antônio Constantino Nery (1904-1907). As crises partidárias e oligárquicas, características da Primeira República no Brasil (1889-1930), dividiram a Assembleia do Amazonas entre partidários do então Governador Antônio Clemente Ribeiro Bittencourt (1908-1912) e seu antecessor. A divisão teria resultado do modo como os partidários de Bittencourt criticaram os empréstimos obtidos da empresa de capital privado Société Marseillaise, os contratos públicos e desvios de verbas ocorridos no governo de Constantino Nery.

Uma acusação feita em 1908, pelo Governador em exercício, Coronel Raymundo Affonso de Carvalho, que naquela ocasião substituía Constantino Nery por conta de uma licença relacionada à prováveis “problemas de saúde” e sua posterior renúncia ao Governo, em dezembro de 1907, evidenciava a preocupação do Coronel por assumir um Estado “avariado em suas finanças”. Antônio Bittencourt endossava as questões apresentadas por Affonso de Carvalho, indicando que além do senador Silvério Nery, irmão de Constantino Nery, ter esvaziado os cofres públicos com gastos pessoais, os empréstimos feitos da Société Marseillaise não teriam sido repassados, endividando o Estado e abrindo um buraco na Receita. Além disso, a crise econômica levou ao atraso nos pagamentos de servidores públicos, incluindo a Polícia Militar. No quadro social, o Amazonas passava por problemas na área da saúde e segurança pública. Mortandades decorrentes de epidemias de malária, tuberculose e varíola afetavam os municípios, donde muitas pessoas migravam para Manaus; os presídios estavam superlotados e o Ciclo da Borracha demonstrava sinais de retração.

De acordo com Aguinaldo Nascimento Figueiredo, o ponto crítico daquelas disputas oligárquicas ocorreu na manhã do dia 8 de outubro de 1910, quando a cidade de Manaus foi alvo de um bombardeio naval, encabeçado pelo Comandante da flotilha Marinha de Guerra, como parte do apoio dado ao então vice-governador do Estado, Antônio Gonçalves Sá Peixoto, ligado ao oligarca Pinheiro Machado, simpatizante de Constantino Nery. O motivo alegado para o bombardeio teria sido a recusa do governador Antônio Bittencourt em deixar o cargo, contrariando a decisão tomada pelo Congresso amazonense que havia deliberado pela suspensão de seu mandato. As razões que fundamentaram sua cassação estavam relacionadas ao possível descumprimento de algumas determinações legais, especialmente àquelas relacionadas a questões comerciais, além de acusações de má gestão financeira e certos “abusos” que desagradaram seus desafetos, apoiadores de Constantino Nery.

Estado do Bazar ao final da tarde de 8 de outubro de 1910. Foto: autor desconhecido. Via Wikimedia Commons.

Após o bombardeio, que destruiu vários prédios no Centro de Manaus, o palácio do Governo foi invadido, vários prédios foram fuzilados e se estabeleceu um verdadeiro caos na cidade. Após algumas manobras evasivas e sob forte pressão da oposição, Antônio Bittencourt renunciou. Articulações baseadas na Política dos Governadores se constituíram como parte de suas estratégias políticas para voltar ao poder. Antônio Bittencourt articulou apoio com o Presidente da República, Nilo Peçanha, e militares vindos do Pará, retornando ao poder naquele mesmo ano.

Nesses termos, o Bombardeio de Manaus pode ser pensado como parte das lutas interinas apoiadas por grupos externos, caracterizando um jogo político articulado que não se resume às disputas locais, apesar dos embates ocorridos entre a oligarquia Nery e os simpatizantes de Bittencourt, mas se conecta às questões políticas mais amplas de caráter federal que evidenciam a relação entre poderes locais e a esfera republicana a partir de bases coronelistas articuladas com a Política dos Governadores.

Referências:

FEITOSA, Orange Matos. À sombra dos seringais: militares e civis na construção da ordem republicana no Amazonas (1910-1924). Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-27082015-104735/en.php; Acesso em: 03 de dez. 2017.

FIGUEIREDO, Aguinaldo Nascimento. História do Amazonas. Editora Valer, 2011.

Arquivado em: Brasil Republicano
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