Cartas falsas de Artur Bernardes

Graduada em História (UFF, 2017)
Mestre em Sociologia e Antropologia (UFRJ, 2012)
Graduada em Ciências Sociais (UERJ, 2009)

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Cartas falsas de Artur Bernardes foi o nome pelas quais ficaram conhecidas duas cartas publicadas nos dias 9 e 10 de outubro pelo jornal Correio da Manhã que supostamente haviam sido escritas por Artur Bernardes ao senador Raul Soares. Naquela ocasião, Bernardes era o presidente do estado de Minas Gerais e estava concorrendo à presidência da República. Nestas cartas continham ofensas a Nilo Peçanha, seu concorrente na disputa presidencial, e também um questionamento da integridade moral das forças armadas.

  • 1° Carta – Teria sido escrita no dia de 3 de junho de 1921. Nela o marechal Hermes da Fonseca era chamado de “sargentão sem compostura”. O banquete em que foi lançada oficialmente sua candidatura ao cargo de presidente do Brasil foi classificado como uma “orgia”. A respeito dos militares dizia que era necessário que entrassem na disciplina e ao se referir ao então presidente da república Epitácio Pessoa, afirmava que era necessário que ele demonstrasse pulso e energia : “punindo severamente esses ousados, prendendo os que saíram da disciplina e removendo para bem longe esses generais anarquizadores. Se o Epitácio, com medo, não atender, use de diplomacia, que depois do meu reconhecimento ajustaremos contas. A situação não admite contemporizações, os que foram venais, que é a quase totalidade, compre-os com todos os seus bordados e galões
  • 2º Carta - Teria sido escrita no dia 6 de junho de 1921, se referia a uma prorrogação da Convenção, “porque ela deveria ter sido realizada antes da chegada do Nilo, pois com V. disse, esse moleque é capaz de tudo. Remova toda dificuldade como bem entender, não olhando despesas”.

A situação política tornou-se caótica. Uma semana depois das publicações, ao viajar para o Rio de Janeiro como o intuito de ler sua plataforma de governo, Bernardes foi recebido com tomates e ovos podres. Quando questionado sobre a autoria das cartas, negou, apontando erros gramaticais que ele não cometeria. Uma comissão formada pelo Clube Militar declarou, após exame pericial, que as cartas eram falsas. Mas, outra comissão alguns dias depois discordou do resultado anterior atestando que as cartas haviam sido mesmo escritas por Artur Bernardes.

Em 24 de março de 1922, Jacinto Guimarães e Oldemar Lacerda confessaram a falsificação das cartas afirmando que esse ato tinha cunho político, pois pretendia eliminar a candidatura de Bernardes em favor do marechal Hermes da Fonseca. A autenticidades das cartas continuou em discussão até o momento da posse de Bernardes, pois, havia o argumento de que teriam ocorrido pressões e subornos para que confessassem a falsidade das cartas.

A divulgação de tais cartas gerou uma forte oposição do militares a Bernardes, além de funcionar como mecanismo aglutinador de diversas correntes descontentes com a forma como a política vinha sido feita. Desse modo, algumas divergências internas existentes entre as oligarquias foram aguçadas o que serviu de justificativa para a organização de grupos que eram contrários ao sistema político vigente na época.

A hostilidade das forças armada dirigidas à Artur Bernardes não foi, porém, suficiente para determinar uma derrota do candidato no pleito eleitoral, sendo eleito em 10 de março de 1922. Contudo, esse episódio provocou reações como as revoltas tenentistas que marcaram o início de esgotamento da sociedade agroexportadora e um processo de crise do Estado Oligárquico que desembocou na Revolução de 1930.

Bibliografia:

http://atlas.fgv.br/verbetes/cartas-falsas

Apostila Ciências Humanas, pré-vestibular. História do Brasil 3 – República I. São Paulo, Editora COC.

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