Genocídio sérvio

Mestra em História (UFRJ, 2018)
Graduada em História (UFRJ, 2016)

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O termo genocídio sérvio costuma dizer respeito a certos eventos ocorridos no contexto de dissolução da Iugoslávia como Estado-nação e, principalmente, durante a Guerra da Bósnia (1992-1995). Neste sentido, o massacre de Srebrenica é considerado o pior incidente, contando com mais de 8.000 vítimas.

Origem da Iugoslávia

As origens do Estado da Iugoslávia estão no fim da Primeira Guerra Mundial, quando o Império Austro-Húngaro foi desmembrado. Por meio da Declaração de Corfu, aprovada em 1917, os territórios imperiais remanescentes foram unidos no chamado Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos. Apenas dez anos mais tarde, porém, houve uma renomeação para Reino da Iugoslávia e a proibição do uso de símbolos nacionais. Era o início de uma série de problemáticas ligadas à heterogeneidade cultural-religiosa da região.

Conflitos internos: religião e cultura

Entretanto, como os sérvios eram predominantes do ponto de vista político-militar, croatas e eslovenos não tinham alternativas a não ser aceitar a união na forma da Iugoslávia e lidar com as pressões internas. A solução funcionou durante a invasão alemã durante a Segunda Guerra Mundial e o posterior governo do presidente vitalício Josip Broz Tito. Após a morte deste no início da década de 1980, porém, o equilíbrio entre as repúblicas do norte (Croácia, Bósnia e Eslovênia) e as do sul (Sérvia, Kosovo e Macedônia) rompeu-se, com as tensões entre sérvios, croatas e bósnios explodindo na chamada Guerra da Bósnia, que se iniciou em 1992. No conflito, as disputas religiosas entre os diferentes grupos também tiveram o seu papel: no caso, em sua maioria, os sérvios eram cristãos ortodoxos, os croatas eram católicos e os bósnios eram muçulmanos.

Mapa da Antiga Iugoslávia e suas regiões. Ilustração: pablofdezr / Shutterstock.com (adaptado)

Guerra da Bósnia

A Guerra da Bósnia foi um confronto desencadeado pela declaração de independência da Bósnia. Embora Eslovênia e Croácia já tivessem defendido sua autonomia anteriormente, os sérvios invadiram apenas a Bósnia. Pouco depois da União Europeia reconhecer a manifestação de independência da Bósnia, um exército de quase 200.000 homens cercou a capital Sarajevo, iniciando um cerco que durou 43 meses. Tendo como objetivo estabelecer uma República Sérvia, as tropas perseguiram e executaram dezenas de milhares de civis em uma campanha étnica liderada pelo general Ratko Mladic e o então presidente sérvio Radovan Karadzic.

Líder sérvio Radovan Karadzic, em conferência em 1993. Foto: Northfoto / Shutterstock.com

No processo de “cumprir o destino da nação sérvia”, nas palavras de Mladic, os momentos mais trágicos seriam a tomada de Sarajevo e o massacre de Srebrenica. Em Sarajevo, o bombardeio sobre casas seria incessante, os atiradores atingiam tudo que se movia e meninas jovens eram estupradas. Perto do final da guerra, em julho de 1995, o enclave bosníaco de Srebrenica foi invadido, mesmo que estivesse oficialmente sobre a proteção da ONU. Milhares de meninos e homens seriam sistematicamente executados quase que de imediato na pior execução em massa desde os crimes nazistas. Parte considerável dos corpos seria inclusive escondido para que a dimensão do massacre ficasse oculta.

Acordo de paz

Pouco depois, em dezembro, com a intervenção da ONU e a aproximação de tropas inimigas da capital sérvia Belgrado, foi assinado o Acordo de Dayton, que pôs fim ao conflito. Radovan Karadzic foi condenado a 40 anos de prisão, enquanto Ratko Mladic foi indiciado à revelia devido ao fato de ser um fugitivo. Em 2011, porém, ele seria capturado e, em 2017, condenado à pena perpétua por seu envolvimento no ocorrido em Srebrenica. Até hoje, porém, existem controvérsias políticas e jurídicas a respeito da existência ou não de um genocídio. Exemplo disso são as palavras do presidente eleito da Sérvia, Tomislav Nikolic, em 2012, que se referiu ao evento apenas como “graves crimes de guerra”. Anteriormente, em 2007, o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) atribuiu à Sérvia a culpa de violações de leis internacionais, mas não de genocídio.

Bibliografia:

https://oglobo.globo.com/mundo/entenda-que-foi-genocidio-de-srebrenica-durante-guerra-da-bosnia-22096838

https://br.historyplay.tv/hoje-na-historia/ocorre-o-massacre-de-srebrenica

https://www.dw.com/pt-br/iugosl%C3%A1via-um-estado-fadado-a-fracassar/a-46560595

https://www.dw.com/pt-br/1917-declara%C3%A7%C3%A3o-de-corfu-tentativa-de-unir-eslavos/a-319598

https://www.wdl.org/pt/item/9187/

https://jornalggn.com.br/artigos/revisitando-e-questionando-o-genocidio-de-srebrenica-por-ruben-rosenthal/

https://oglobo.globo.com/mundo/ex-general-servio-condenado-prisao-perpetua-por-genocidio-na-bosnia-22096301

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-42079338

https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/nao-houve-genocidio-em-srebrenica-diz-presidente-servio-2vm1fuh42rt1hy4g6ok9tyoum/

https://www.cmjornal.pt/mundo/detalhe/servia-nao-cometeu-genocidio-na-bosnia?v=cb

Arquivado em: História da Europa
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