Elipse

Por Leticia Gomes Montenegro

Mestre em Linguística, Letras e Artes (UERJ, 2014)
Graduada em Letras - Literatura e Língua Portuguesa (UFBA, 2007)

Categorias: Linguística, Português
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Primordialmente, a elipse designa uma supressão de elementos do discurso possíveis de serem recuperados dentro do próprio contexto linguístico. De acordo com algumas gramáticas, entende-se por elipse a omissão de um termo contextualmente implícito por ausentar-se no lugar em que normalmente aparece. O termo subentendido ocorre em razão de ser enunciado anteriormente dentro do texto, ou por ser sugerido no mesmo contexto situacional, tornando-se de fácil interpretação ao interlocutor. Há termo elíptico quando este pode ser inferido pelos interlocutores envolvidos na comunicação durante um acontecimento.

Observe a Elipse por supressão dentro do texto neste exemplo:

Ao longo da história, a linguagem humana foi pensada e conceituada de diversas maneiras. Nesse sentido, têm-se três concepções reconhecidas como principais: como representação do mundo e do pensamento; como forma de ação ou interação; como instrumento de comunicação.

Análise: na primeira frase o assunto principal do texto aparece explicitado na palavra “linguagem”, na oração seguinte, ao se referir ao mesmo termo o texto o suprime. Bem como, ao citar cada uma das concepções de linguagem, a palavra não aparece repetidas vezes.

Observe um exemplo em que a elipse ocorre em razão do acontecimento criar a referência:

NOTÍCIA

As Escolas de ensino básico da rede municipal enfrentam desafios complexos no que se refere ao comportamento dos alunos. Por esta razão, a secretaria de educação da prefeitura convocou uma reunião de pais e professores em cada uma de suas sedes. As reuniões tinham o propósito de debater possibilidades e propostas para superar a situação. O convite abrangeu toda a comunidade escolar. Após realização de algumas dessas reuniões, a assessora de imprensa da secretaria informou em entrevista ao Jornal “O Local”:

“Ainda faltam algumas. Contudo, as escolas que já realizaram as suas encontram-se em processo de implementação das propostas da comunidade. Os envolvidos estão otimistas, os desafios serão vencidos.”

(texto fictício)

Análise do exemplo: há dois níveis nesta comunicação: Primeiro ocorre a elipse da palavra “reuniões”, uma vez que a informação omitida está explicitada no momento em que a interação linguística acontece. No nível textual, o fato está descrito anteriormente, logo se descarta a necessidade da repetição.

A elipse está entre os fenômenos de sintaxe mais importantes, e as mais recorrentes da língua portuguesa são:

1) A elipse de preposição em determinadas circunstâncias adverbiais inferidas pelo contexto.

A carne custava 15 reais o quilo.

Os alunos e as alunas, mãos erguidas contra os políticos, caminhavam pelas ruas.

Alguns gramáticos descrevem outros casos de preposição elíptica em orações subordinadas e coordenadas. Além da elipse em casos de repetição de preposições ou advérbios.

2) A elipse da preposição antes do conectivo que introduz a oração de complemento no caso da Oração Subordinada Completiva Nominal.

Preciso (de) que realize o trabalho.

Estamos necessitadas (de) que retorne ao trabalho.

3) A elipse da conjunção integrante em orações subordinadas subjetiva e objetiva direta.

Desejo (que) sejam felizes.

Há outros casos, menos recorrentes, de elipse da conjunção integrante em orações subordinadas. Por exemplo, quando há uma expressão comparativa:

Um paciente terminal é melhor que o deixem viver do que (que) o tratem com medicamentos dolorosos.

4) A elipse do verbo “dizer”, que também ocorre nos diálogos com freqüência.

Então ele: – Você está feliz ao meu lado?

5) A elipse do objeto direto quando está representado pelo pronome átono que faz referência a um substantivo da oração anterior.

Você comprou o livro de Português? – Comprei sim. (Comprei-o sim.)

Bibliografia:

GARCIA, Maria Cecília. Minimanual compacto de gramática da língua portuguesa: teoria e prática – 1. ed. – São Paulo: Rideel, 2000.

CUNHA, Celso e CINTRA, Luís F. Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. – 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. – 37. ed. rev., ampl. e atual. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

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