Castração de cães

Por Juliana Carvalho de Almeida Borges

Mestre em Ciência Animal (UFG, 2013)
Graduada em Medicina Veterinária (UFG, 2010)

Categorias: Medicina Veterinária
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A conscientização sobre a necessidade de se controlar o aumento populacional dos cães tem aumentado bastante. Percebeu-se que o abandono de filhotes aumentou expressivamente e, diante disso, tem ocorrido campanhas e alertas para a castração dos animais. Essa prática cirúrgica também é indicada em outros casos, como na prevenção de neoplasias, na remoção de testículos ectópicos, para redução da agressividade, diminuição de comportamentos sexuais indesejados e também pode ser indicada como tratamento de certas patologias de origem reprodutiva.

A maturidade sexual das cadelas se inicia por volta dos seis meses de idade, quando os hormônios folicular estimulante (FSH) e luteínico (LH) começam a ser secretados em maiores níveis, pela glândula pituitária. A puberdade nos machos ocorre entre os nove e doze meses de idade, fase em que se tem os primeiros espermatozóides no ejaculado.

O ciclo estral da fêmea é marcado pela exposição prolongada à progesterona, um hormônio que estimula o crescimento e a atividade secretória das glândulas endometriais, além de diminuir a atividade miometrial, o que acarreta em acúmulo de fluidos nas glândulas e no lúmen uterino. Em longo prazo, os efeitos desse hormônio são maléficos ao organismo e pode ser condição predisponente para a ocorrência de hiperplasia endometrial cística e neoplasia mamária.

Tem-se o uso de progestágenos exógenos em cadelas, como método farmacológico de contracepção. Dentre eles pode-se citar o acetato de megestrol, a proligesterone e o acetato de medroxiprogesterona. De acordo com o período do ciclo estral em que a cadela se encontra, ao administrar-se o fármaco, ele pode atuar ou como preventivo do retorno do ciclo estral, ou inibindo as ovulações.

Entretanto, os progestágenos exógenos não suprimem, de forma permanente, a atividade reprodutiva da fêmea e precisa ser administrado periodicamente. A exposição a esse hormônio, além de provocar as alterações nocivas já citadas anteriormente, pode também causar reação de hipersensibilidade, alterações hepáticas, diabetes mellitus, supressão da medula óssea e do sistema imunológico e muitos outros transtornos.

Uma forma de esterilização animal bastante indicada é a cirúrgica, em que a técnica convencional realizada nas fêmeas é a ovariosalpingohisterectomia ou suas variações (ovariohisterectomia, ovariectomia) e nos machos, a orquiectomia total; todas elas promovem a esterilidade e a infertilidade efetivamente. Por serem intervenções cirúrgicas é importante que o animal esteja hígido, para que se diminuam os riscos de intercorrências anestésicas ou inerentes à própria castração, como hemorragia e transtornos cardiorrespiratórios. Por isso recomenda-se a realização de uma avaliação clínica minuciosa, aliada a exames pré-operatórios para a análise do risco cirúrgico.

A castração na cadela é mais invasiva ao comparar-se com o procedimento no macho, pois consiste na abertura da cavidade abdominal, para acessar e remover os ovários, útero e cornos uterinos, a depender do método preconizada. As técnicas podem variar, mas recomenda-se incisões de tamanho reduzido, para evitar evisceração e contaminação. No macho a cirurgia é mais simples e a incisão é feita diretamente na bolsa escrotal, com a posterior remoção dos testículos, epidídimo e parte dos cordões espermáticos.

A esterilização dos animais pode ser realizada antes do primeiro semestre de vida, o que caracteriza a castração como precose, pré-pubescente ou pediátrica. Ela é muito utilizada em abrigos de animais e relata-se que o índice de complicações intra e pós-operatórias nos animais jovens é bem menor, além de a recuperação cirúrgica ser mais rápida.

Ressalta-se que os animais submetidos à castração cirúrgica podem ser acometidos por sequelas como obesidade, retardo no fechamento das epífises ósseas, as fêmeas podem apresentar incontinência urinária e cistite e os machos, obstrução urinária.

Independente do intuito da esterilização, os tutores devem receber todas as orientações sobre as vantagens e desvantagens de todos os métodos disponíveis e priorizar aquele que mais beneficiará o animal, haja vista que o bem-estar desse deve estar em primeiro lugar.

Referências:

Silva LDM et al. Aspectos da fisiologia reprodutiva da cadela. IN: Anais do IX Congresso Norte e Nordeste de Reprodução Animal (CONERA 2018); Belém, 2018.

Araújo EKD et al. Principais patologias relacionadas aos efeitos adversos do uso de fármacos contraceptivos em gatas em Teresina – PI. PUBVET v.11(3):256-61p, 2017.

Conceição MEBAM et al. Perspectivas acerca da esterilização cirúrgica em cadelas e gatas. Investigação, 15(1):10-15, 2016.

ANDRADE & BITTENCOURT. Castração convencional e precoce: revisão de literatura. IN: Anais do 11º Encontro Científico Cultural Interinstitucional. Cascavel, 2013.

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