História da Psicologia no Brasil

Psicóloga (CRP 06/178290), graduada pela PUC-SP.
Mestranda em Psicologia Social na mesma instituição.
Pós-graduanda no Instituto Dasein.

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Para entender a história da Psicologia no Brasil, sua consolidação e suas vicissitudes, é necessária a realização um apanhado histórico.

Voltemos ao início do Brasil colonial, marcado pela hegemonia jesuítica. Em 1549, junto à armada do governador geral Tomé de Souza, chegaram ao território os padres missionários, fundadores da ordem religiosa Companhia de Jesus, cujas principais dimensões consistiam na ênfase no conhecimento de si mesmo e no diálogo interpessoal visando à compreensão da dinâmica interior.

Seguindo a crença na possibilidade de o homem “fazer-se a si mesmo”, característica do Humanismo e do Renascimento, afirmavam a possibilidade de os indivíduos serem originalmente concebidos como tábulas rasas a ser preenchidas durante seus desenvolvimentos.

Os comentários às obras de Aristóteles elaborados por eles foram importante fonte para o conhecimento da teoria psicológica difundida neste ambiente cultural, cuja concepção é inspirada na tradição aristotélico-tomista, na qual a alma é definida como ato primeiro substancial do corpo, forma dele e princípio de sua atividade.

Posteriormente, entre século XVII e XIX, há o marco do êxodo estudantil. Uma vez que a metrópole proibiu a criação de universidades no território, jovens que almejavam formação superior e possuíam condições para tal dirigiram-se ao exterior, sobretudo à Coimbra. Assim, além da realização de um estudo desintegrado às condições nacionais, houve contato com o pensamento barroco da existência como transformação – a concepção da vida como fluxo constante de partes por vezes antagônicas - com a ênfase na variabilidade da experiência humana.

Já no século XIX, o Brasil visava tornar-se uma nação moderna com um projeto político, social e cultural unitário. Assim, diversas dimensões da experiência pessoal (como a saúde e ética) passaram a ser gerenciadas pelo aparelho estatal, em um processo acompanhado por estruturação dos papéis sociais dos indivíduos. A antropologia filosófica mecanicista de matriz francesa e o positivismo forneceram os alicerces teóricos necessários para esta transformação.

Um fato emblemático ocorreu no início de XIX: o médico Francisco de Mello Franco (1757-1822) propôs uma psicologia médica, inspirada nas teorias do Iluminismo e do sensualismo francês. Em obra publicada em 1813, define o físico como “a recíproca encadeação de todos os sistemas de órgãos que formam a nossa máquina”, sendo a dimensão moral “tudo quanto diz respeito às funções e particulares afeições da nossa alma”. Ademais, alega ser uma evidência empírica o fato de o estado físico do corpo influenciar enormemente operações da alma.

Assim, a saúde do conjunto psicossomático constituinte do ser humano é definida como harmonia da máquina corporal, cujo efeito é o bem-estar psicológico. Ademais, se o funcionamento do organismo é regulado por leis da natureza, sugere-se a possibilidade de modificar seu dinamismo pela transformação das circunstâncias físicas determinantes.

Enfim, no século XIX, a medicina consolidou-se como a ciência do homem, substituindo a filosofia e a teologia nas orientações à felicidade.

As bases conceituais que permitiram a formulação dos conhecimentos psicológicos nestes termos das ciências naturais encontram-se na segunda metade do século XIX, no pensamento dos filósofos positivistas brasileiros

O médico Luís Pereira Barreto (1840-1932), fiel à doutrina comtiana, foi um importante teórico da época. Segundo ele, a “fisiologia mental” proporcionaria o conhecimento do sujeito - um “composto de inteligência, sentimento e atividade” - em sua totalidade. Uma vez que seus fatos estariam sujeitos a leis fixas, poderiam ser submetidos à investigação conduzida pelo método experimental. Então, iniciou-se o estudo dos fenômenos psicológicos, compreendidos como parte da fisiologia.

A partir de então, a “psychologia” ganhou visibilidade, de forma que, entre o século XIX e XX, passou a ocupar espaço próprio enquanto campo de conhecimento e de práticas, embora não ainda como disciplina científica autônoma.

Neste período, tornou-se parte de cadeiras em diferentes áreas do saber (como direito e medicina) e matéria de currículos escolares. Posteriormente, surgiram, no Rio de Janeiro, os primeiros laboratórios de psicologia experimental. No mais, em São Paulo, na Faculdade de Medicina, cresceram os estudos psicológicos de vertente psicanalítica.

Referências bibliográficas:

ANTUNES, Mitsuko A. M. A Psicologia no Brasil: leitura histórica sobre sua constituição. São Paulo: UNIMARCO / Educ, 1999.

JACÓ-VILELA, A. M.; FERREIRA, A. A. L.; PORTUGAL, F. T. (orgs). História da Psicologia – Rumos e Percursos. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2005.

Arquivado em: Psicologia
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