A personalidade é o conjunto integrado de traços psíquicos, consistindo no total das características individuais em sua relação com o meio, conjugando tendências inatas e experiências adquiridas no curso de sua existência (BASTOS, 1997b). Assim, os transtornos de personalidade não são doenças, mas modos de ser variantes à norma populacional, caracterizados por limitações comportamentais e emocionais do indivíduo, e consequente sofrimento dele e das pessoas com quem convive.
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Psiquiatria
Segundo as classificações atuais de transtornos mentais, DSM-V (manual diagnóstico e estatístico feito pela Associação Americana de Psiquiatria) e CID-11 (Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde), a detecção dos TPs é definida por:
- Surgimento no final da infância ou na adolescência, com tendência a permanência constante ao longo da vida
- Manifestações amplo conjunto de comportamentos e experiências internas envolvendo diferentes aspectos, como afetividade, expressão emocional e controle de impulsos
- Padrão comportamental mal-adaptativo, que produz diversas dificuldades para o indivíduo e as pessoas com quem ele convive
- Resultado de múltiplos graus de sofrimento, como dor psíquica, sensação de fracasso pessoal e amargura nos relacionamentos
- Condução a baixo desempenho ocupacional e social
Por mais, devido às semelhanças descritivas, os transtornos são organizados em subgrupos:
Grupo A: transtornos de personalidade caracterizados por “esquisitice” e/ou desconfiança. São eles:
- TP Esquizoide: descrito por indiferença, ausência de relações íntimas, solidão e imperturbabilidade
- TP Paranoide: descrito por constante desconfiança, sensibilidade a críticas, arrogância e sentimento de prejuízo nas relações pessoais
- TP Esquizotípica: descrito por pensamento excessivamente vago ou metafórico, crenças autorreferentes estranhas, aparência física excêntrica e desconforto nas relações pessoais
Grupo B: caracterizados por instabilidade e/ou manipulação, são os mais frequentes na população. São eles:
- TP Borderline: descrito por instabilidade emocional, impulsividade, raiva incontrolável, comportamentos autolesivos repetitivos e relacionamentos intensos e turbulentos
- TP Antissocial: descrito por frieza, agressividade, crueldade, irresponsabilidade, desonestidade e ausência de compaixão e remorso
- TP Histriônica: descrito por dramatização, manipulação, superficialidade, discurso vago e impressionista, busca de ser o centro das atenções e erotização de situações incomuns
Grupo C: caracterizados por ansiedade e/ou controle e/ou insegurança. São eles:
- TP Obsessiva: descrito por rigidez, metodismo, perfeccionismo e intolerância ao improviso
- TP Dependente: descrito por grande necessidade de agradar ao próximo, desamparo quando em solidão e ausência de iniciativa, energia e autonomia pessoal
- TP Evitativa: descrito por sentimentos constantes de inadequação, muita sensibilidade a avaliações negativas e grande evitação a interações sociais
Problemática
Não existe auto-análise ou análise de amigos: os diagnósticos só podem ser dados por profissionais qualificados para tal.
Ademais, este deve ser baseado nas demandas e sofrimentos do sujeito, afastado de moralismos e opiniões pessoais, sendo o recorte de classe e gênero essenciais para uma compreensão estendida da situação.
Por fim, ainda sobre o olhar para o indivíduo no contexto no qual está inserido, fica a sugestão de Lacan: “deve renunciar à prática da psicanálise todo analista que não conseguir alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua época”.
Promoção de qualidade de vida e tratamento das comorbidades
Pessoas que apresentam transtornos de personalidade podem ser auxiliadas com psicoterapia, possivelmente associada a acompanhamento psiquiátrico, medicação e terapias complementares.
É possível buscar auxílio na rede particular, e também de forma gratuita nos CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) e nas Unidades Básicas de Saúde (Saúde da família, Postos e Centros de Saúde).
Por mais, em caso de emergências, uma alternativa disponível é discar 188 - CVV (Centro de Valorização da Vida), e conversar com alguém com escuta acolhedora e obter apoio emocional. O centro permanece aberto a qualquer hora e garante o total sigilo.
Referências bibliográficas:
Cid 10: http://www.datasus.gov.br/cid10/V2008/cid10.htm
DSM-V, bg pharma, and the medicalization of ordinary life. New-York: Harper Collins Publisher, 2013a.
RAFIA: 1. Dalgalarrondo, P Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre, 2000. Editora Artes Médicas do Sul