Cultura

Doutorado em Sociologia (USP, 2021)
Mestre em Sociologia (UnB, 2014)
Graduado em Ciência Política (UnB, 2010)

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Cultura é um termo complexo e de grande importância para as ciências humanas em geral. Sua etimologia vem do latim culturae, que significa “ato de plantar e cultivar”. Aos poucos, acabou adquirindo também o sentido de cultivo de conhecimentos. A noção moderna de cultura foi sintetizada pela primeira vez pelo inglês Edward Tylor, conceituando-a como um complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos por uma pessoa como membro de uma sociedade.

Nesse sentido, podemos dizer que a cultura engloba os modos comuns e aprendidos de viver, transmitidos pelos indivíduos e grupos em sociedade. Para além de um conjunto de práticas artísticas, tradições ou crenças religiosas, devemos compreender a cultura como uma dimensão da vida cotidiana de determinada sociedade.

Uma característica da cultura é que ela é indissociável da realidade social. A cultura está presente sempre que os seres humanos se organizam em sociedade. A cultura é uma construção histórica e produto coletivo da vida humana. Isso quer dizer que falar em cultura implica necessariamente se referir a um processo social concreto. Costumes, tradições, manifestações culturais e folclóricas como festas, danças, cantigas, lendas, etc. só fazem sentido enquanto parte de uma cultura específica; ou seja, as manifestações culturais não podem ser compreendidas fora da realidade e história da sociedade a qual pertencem.

Outra característica da cultura é o seu aspecto dinâmico. Por isso é mais pertinente pensá-la como um processo e não como algo estagnado no tempo. Isso fica claro no mundo globalizado, marcado por rápidas transformações tecnológicas, pelo constante contato entre as culturas e disseminação de padrões culturais pelos meios de comunicação de massa. Porém, mesmo quando se fala de sociedades tradicionais, não quer dizer que elas não se modifiquem. Todo aspecto de determinada cultura tem a sua própria dinâmica, pois não existe nenhuma sociedade humana que esteja isenta de transformações com o tempo e contato com outras culturas.

A cultura de determinada sociedade é passada de uma geração a outra através da educação, manifestações artísticas e outras formas de transmissão de conhecimento. O comportamento dos indivíduos vai depender desse aprendizado cultural. Portanto, um menino e uma menina agem diferentemente não por causa de seus hormônios, mas devido à educação diferenciada que recebem. É por isso também que maneiras de falar, se vestir, se alimentar, se comportar, etc. de um povo específico pode ser tão estranho aos olhos de outros povos. O que é repugnante para indivíduos de uma sociedade, pode ser desejável em outra. Mais ainda: em uma mesma sociedade, o que era impensável no século passado pode se tornar comum hoje em dia e vice-versa.

As sociedades humanas historicamente desenvolveram formas diferentes de se organizar, de relacionar internamente, com outros grupos sociais e com o meio ambiente. Sociedades distintas vão necessariamente originar culturas diferentes, ou seja, diferentes formas de ver o mundo e orientar a atividade social.

É por isso que existem tantas diferenças culturais, mesmo sendo todos pertencentes à mesma espécie humana. As diferenças culturais não podem ser explicadas em termos de diferenças geográficas ou biológicas. No passado, explicações baseadas no determinismo geográfico ou genético contribuíram para reforçar o racismo e preconceitos, além de terem servido como justificativa para a dominação de uns povos sobre outros.

No século XIX, alguns autores estabeleciam hierarquias entre todas as culturas humanas, defendendo uma escala evolutiva de linha única entre elas. Nessa concepção, todas as culturas teriam que passar pelas mesmas etapas, desde um estágio primitivo até as civilizações mais evoluídas que seriam as nações da Europa ocidental. Essa visão etnocêntrica servia aos interesses dos países europeus em legitimar seu expansionismo e colonização a partir de uma suposta superioridade cultural.

Tais concepções evolucionistas foram atacadas com o argumento de que a classificação das sociedades em escalas hierarquizadas era impossível, já que cada cultura tem a sua própria verdade. Concluiu-se então que não existe relação necessária entre características físicas de grupos humanos e suas formas culturais. A diversidade das culturas existentes corresponde à variedade da história humana. Cada realidade cultural tem sua lógica interna, que faz sentido para os indivíduos que nela vivem, pois é resultado de sua história e se relaciona com as condições materiais de sua existência. A partir da compreensão da variedade de procedimentos culturais dentro dos contextos em que são produzidos, o estudo das culturas contribui para erradicar preconceitos e fomentar o respeito à diversidade cultural.

Vale ressaltar também, que as diferenças culturais não existem apenas entre as sociedades, mas também dentro de uma mesma sociedade. Basta pensarmos na sociedade brasileira, nos diferentes sotaques, classes sociais, etnias, gênero, religiões, gerações, escolarização, origens, etc. É importante levar em conta a diversidade cultural interna à nossa própria sociedade, para compreendermos melhor o país em que vivemos.

No atual mundo globalizado, o estudo da cultura assume características peculiares, devido ao desenvolvimento da indústria cultural e de novas tecnologias de informação e conhecimento. Por um lado, vivemos um aumento enorme do intercâmbio de conhecimento e de informação entre diferentes sociedades em todo o planeta; por outro, este é um processo desigual que pode modificar maneiras tradicionais de viver, produzir e se identificar culturalmente.

Bibliografia:

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: Um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997 [1986]. 11ª edição.

MARCONI, Marina de Andrade; PRESOTTO, Zelia Maria Neves. Antropologia: uma introdução; São Paulo: Atlas, 2010. 7ª edição.

SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. São Paulo : Brasiliense, 2006. 16ª edição.

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