Adensamento

Mestre em Ecologia e Recursos Naturais (UFSCAR, 2019)
Bacharel em Ciências Biológicas (UNIFESP, 2015)

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Existem processos na ecologia que são dependentes da densidade de indivíduos que compõem uma população. O adensamento populacional é o aumento na taxa de crescimento de uma população regulada por sua densidade. Esta relação pode ser tanto positiva quanto negativa. De maneira geral, podemos imaginar que se o número de organismos em um local for muito grande, cada um deles terá acesso a uma parcela menor de todos os recursos disponíveis.

Há situações nas quais o aumento da densidade favorece o crescimento da população (descritos como adensamento positivo). Um exemplo clássico seria o crescimento de populações de parasitas obrigatórios que são dioicos (possuem sexos separados). Neste caso em especial, a presença de uma grande quantidade de organismos machos e fêmeas (alta densidade) favorece o acasalamento e a geração de mais indivíduos. Caso a densidade de organismos seja baixa, as chances de encontrar parceiros sexuais diminuem, causando um declínio da população.

Na natureza, a condição mais comum observada é o oposto do que está descrito acima, ou seja, o adensamento tem efeitos negativos sobre a população (altas densidades reduzem o tamanho populacional). Em grupos de roedores, por exemplo, em que um excesso de recursos pode causar um boom na taxa de natalidade, ocorre o efeito de aglomeração, que pode causar situações extremas como canibalismo ou o abandono de filhotes. A taxa de predação também é um fator importantíssimo na regulação da densidade de algumas populações. Contudo, o fator que mais comumente regula o adensamento populacional é a quantidade de recursos disponíveis na área de vida de uma determinada população. Isto já foi descrito tanto para células, que tem sua divisão limitada pela concentração de nutrientes no meio, quanto para animais e plantas. Outro fator muito importante que regula o crescimento das populações são as condições abióticas (ou ambientais) que descrevem os limites de vida de cada espécie. Em alguns casos, o aumento da densidade de um determinado organismo pode exigir a ocupação de novas áreas buscando recursos alimentares. Entretanto, condições ambientais como umidade e temperatura podem limitar a capacidade de migração e colonização, restringindo o local em que aquela população consegue sobreviver.

Outro exemplo de controle da densidade populacional muito descrito na literatura científica está relacionado à competição intraespecífica. Este tipo de relação ecológica descreve a competição por recursos (seja território, alimento ou parceiros sexuais) que ocorre entre indivíduos de uma mesma espécie, causando uma redução na taxa média de natalidade e no crescimento e aumentando a taxa de mortalidade. Evidentemente, quanto maior a densidade de organismos, mais frequente será a competição entre eles. Uma consequência disso é o processo chamado auto-desbaste, que é a diminuição do tamanho médio de cada indivíduo que forma a população ocasionado pela menor porção de recursos disponíveis para cada um. Muitos estudos demonstraram claramente a redução em biomassa de populações de plantas em altas densidades. Alguns estudos conseguiram observar o mesmo efeito em populações de animais, como mexilhões em costões rochosos.

Referências:

Begon, M., Townsend, C.R. and Harper, J.L., 2006. Ecology: from individuals to ecosystems (No. Sirsi) i9781405111171). Blackwell Science, Oxford.

Kays, S. and Harper, J.L., 1974. The regulation of plant and tiller density in a grass sward. The Journal of Ecology, pp.97-105.

Oricchio, F.T., 2013. Qual o efeito do adensamento populacional sobre a biomassa de um bivalve incrustante?. Livro do curso de campo “Ecologia da Mata Atlântica”(G. Machado.

Arquivado em: Ecologia
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