Neologismo

Especialista em Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância (UFF)
Graduação em Letras (Fundação Comunitária de Ensino Superior de Itabira, FUNCESI)

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A língua é algo vivo, isto é, em constante transformação. Muitas palavras desaparecem, outras surgem... Nesse contexto, entram em cena os neologismos que, segundo Platão e Fiorin (1999, p.93), são “palavras recentemente criadas”. Vale observar que “neo” significa “novo”. Que tal analisarmos um neologismo neste poema de Manuel Bandeira? Leia-o:

Neologismo

Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora.

Muito legal, não? Para o eu poético, inventar palavras que exprimem o seu sentimento cotidiano é algo compensador, ideia introduzida pelo emprego de “Mas”, já que o seu contato com a amada é limitado (“Beijo pouco, falo menos ainda.”). O verbo que ele criou para Teodora resulta da junção do pronome pessoal oblíquo “te” mais o verbo “adorar”. No final do poema, o verbo é conjugado para expressar o sentimento presente/permanente dele. Essa conjugação casa-se no plano sonoro com o nome da amada, a quem ele se dirige com uma declaração de seu amor (“Teadoro, Teodora.”). O neologismo do eu poético e o nome “Teodora” fundem-se num todo significativo, exprimindo sua afetividade.

No poema acima, o neologismo desempenha função poética e expressiva. No dia a dia, percebemos exemplos de neologismos para se referir a eventos, por exemplo: um convite para o “cinquentei” de alguém. Esse verbo refere-se ao ato de fazer cinquenta anos. Então, um “cinquentei” é o aniversário de quem fez cinquenta anos. Agora, imagine alguém dizendo: “Sextou! Viva!”. Nesse caso, criou-se um verbo a partir de “sexta”, a fim de indicar que esse dia da semana chegou. Daí a comemoração “Viva!”. Note que os termos foram criados a partir de um elemento já existente, que se aglutinou com terminações verbais que são do conhecimento dos falantes. Como a língua permite criatividades, não é verdade?

O neologismo pode desempenhar outras funções no contexto comunicativo. Verbos como “escanear”, “deletar”, “printar” foram criados para atender a necessidades comunicativas da área da informática. Galli (2010) explica que um termo, fruto de uma criação, deixa de ser um neologismo quando é dicionarizado, isto é, passa a compor oficialmente o vocabulário da língua. Os verbos “deletar” e “escanear” seguem essa regra.

Para concluir:

A língua muda constantemente, já que é viva. Criam-se ou recriam-se palavras para atender às necessidades que vão surgindo nos mais variados contextos sociais. As novas palavras são chamadas de neologismos, que aparecem também em textos poéticos e no dia a dia... Ou você nunca inventou uma palavra, hein?

Referências:

BANDEIRA, Manuel. Estrela da Vida Inteira. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1970.

FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Temas e figuras: a seleção lexical. In: ___Para entender o texto: leitura e produção. 15 ed. São Paulo: Ática, 1999, p.93-99.

GALLI, Fernanda Correa Silveira. Linguagem da internet: um meio de comunicação global. In: ___ MARCUSCHI, Luiz Antônio; XAVIER, Antonio Carlos (orgs.). Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção de sentido. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2010. p.147-164.

Arquivado em: Linguística
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