Advérbios

Mestre em Linguística, Letras e Artes (UERJ, 2014)
Graduada em Letras - Literatura e Língua Portuguesa (UFBA, 2007)

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O advérbio é um termo modificador que, de maneira independente, expressa uma circunstância (de lugar, de tempo, de modo, de intensidade, de condição, dentre outras) e desempenha na oração a função de adjunto adverbial. Em geral, as gramáticas classificam o advérbio por sua função como modificador do verbo.

Exemplo:

Ela sempre escrevia notícias de sua cidade. Contava para o mundo como andavam os acontecimentos ali. Narrava os fatos, descrevia as pessoas, criava algumas mentiras, e seguia assim a vida.

Palavras que denotam circunstância:

  • “sempre”: advérbio de tempo
  • “ali”: advérbio de lugar
  • “assim”: advérbio de modo

A essa função fundamental de modificador, certos advérbios acrescentam outras que lhes são privativas.

Assim, os chamados advérbios de intensidade e formas semanticamente correlatas podem reforçar o sentindo:

  1. De um adjetivo:
    Antes de escrever aquela notícia, ela teve com o cidadão uma profunda conversa, muito gratificante e ampla.
  2. De um advérbio:
    Senti-me bem mal ao ler aquela notícia.
  3. De uma oração:
    Infelizmente, nenhuma notícia daquele texto lhe oferecia bons acontecimentos.

O uso do advérbio como modificador de uma oração, geralmente ocorre com o termo destacado no início ou no fim da oração. Deste modo, o advérbio pode se separar por uma pausa clara na oralidade, ou registrada na escrita por vírgula.

Conforme Evanildo Bechara, em “Moderna Gramática Portuguesa” (2009), os advérbios também podem exercer a sua função de modificador de um substantivo, quando este é compreendido como uma característica que a substância apresenta, por exemplo: Escritores assim não merecem leitores.

Sobre essa função de modificador e a possibilidade do advérbio modificar diferentes classes de palavras, Bechara cita o estudo de Mattoso Câmara que afirma: “perturba a descrição e a demarcação classificatória a extrema mobilidade semântica e funcional que caracteriza os advérbios”. (BECHARA, 2009, p. 288)

Classificação dos advérbios

Essencialmente, os advérbios são os termos que assinalam a posição do falante ou o modo como ele verifica a situação. Ou seja, o interlocutor faz uso de expressões adverbiais para marcar sua posição temporal ou espacial, ou ainda o modo como este vê o que está contextualizado na oração.

Em geral, as gramáticas apresentam a denominação da circunstância ou de outra ideia acessória que os advérbios expressam.

A Nomenclatura Gramatical Brasileira distingue as seguintes classificações:

  • Advérbios de afirmação: sim, certamente, efetivamente, realmente, etc.;
  • Advérbios de dúvida: acaso, porventura, possivelmente, provavelmente, quiçá, talvez, etc.;
  • Advérbios de intensidade: bastante, bem, demais, mais, menos, pouco, muito, quanto, quão, quase, tanto, tão, etc.;
  • Advérbios de lugar: abaixo, acima, adiante, aí, além, ali, aquém, aqui, atrás, através, cá, defronte, dentro, detrás, fora, junto, lá, longe, onde, perto, etc.;
  • Advérbios de modo: assim, bem, debalde, depressa, devagar, mal, melhor, pior e quase todos terminados em –mente: fielmente, levemente, etc.;
  • Advérbios de negação: não;
  • Advérbios de tempo: agora, ainda, amanhã, anteontem, antes, breve, cedo, depois, então, hoje, já, jamais, logo, nunca, ontem, outrora, sempre, tarde, etc.

A classificação dos advérbios se pauta pelos valores léxicos e semânticos das palavras ou ainda por critérios funcionais. No primeiro caso, os advérbios são denotados pelas classificações listadas acima (tempo, lugar, por exemplo). Já no critério classificatório funcional, os advérbios se apresentarão pelo caráter demonstrativo (aqui, aí, então, agora), relativo (onde, como, quando, etc), e interrogativos (quando?, onde?, como?)

Observação:

Conforme a gramática de Celso Cunha e Lindley Cintra, a Nomenclatura Gramatical Portuguesa acrescenta a essa lista três espécies:

  • a) Advérbios de ordem: primeiramente, ultimamente, depois, etc.;
  • b) Advérbios de exclusão;
  • c) Advérbios de designação.

Os dois últimos foram incorporados pela Nomenclatura Gramatical Brasileira compondo um grupo separado, correspondente aos denotadores, em razão de não apresentarem as características funcionais dos advérbios, quais sejam as de modificar o verbo, o adjetivo ou o outro advérbio. Permanecem sob a denominação de PALAVRAS DENOTATIVAS.

Conforme a gramática de Evanildo Bechara, esses denotadores incorporam um grupo ainda maior de termos correspondente à advérbios para a Nomenclatura portuguesa, são eles: denotadores de inclusão, exclusão, situação, retificação, designação, realce, etc.

As nomenclaturas segundo Evanildo Bechara:

  • Inclusão – também, até, mesmo
    Até o cachorro foi à praia com a família.
  • Exclusão – só, somente, salvo, senão, apenas, etc.
    Somente o marido entendia a forma da mulher se expressar.
  • Situação:
    Mas que felicidade.”
    Então duvida que se falasse latim?”
    (BECHARA, Evanildo, Moderna Gramática portuguesa, 2009, Nova Fronteira, RJ. P. 291)
  • Retificação: aliás, melhor, isto é, ou antes, etc.
    Concluí as matérias do semestre, aliás, concluí todas as matérias.
    Foi embora após a conversa, melhor, fugiu.
  • Designação:
    Eis o homem.” (BECHARA, Evanildo, Moderna Gramática portuguesa, 2009, Nova Fronteira, RJ. P. 291)
  • Realce:
    Nós é que somos brasileiros.” (BECHARA, Evanildo, Moderna Gramática portuguesa, 2009, Nova Fronteira, RJ. P. 291)
  • Expletivo: lá, só, ora, que
    Eu sei !
    Vejam só que coisa!
  • Explicação: a saber, por exemplo, isto é, etc:
    “Eram três irmãos, a saber: Pedro, Antônio e Gilberto.” (BECHARA, Evanildo, Moderna Gramática portuguesa, 2009, Nova Fronteira, RJ. P. 291)

Advérbios interrogativos

Por se empregarem nas interrogações diretas e indiretas, os seguintes advérbios de causa, de lugar, de modo e de tempo são chamados INTERROGATIVOS:

  1. DE CAUSA: por que?
    Por que não vieste à festa?
    Não sei por que não vieste à festa.
  2. DE LUGAR: onde?
    Onde está o livro?
    Ignoro onde está o livro.
  3. DE MODO: como?
    Como vais de saúde?
    Dize-me como vais de saúde.
  4. DE TEMPO: quando?
    Quando voltas aqui?
    Quero saber quando voltas aqui.

(todos os exemplos desta lista foram retirados de: CUNHA, Celso e CINTRA, Luís F. Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. – 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.)

Advérbio relativo

O termo "onde", ocorre normalmente como adjunto adverbial (= o lugar em que, no qual), por esta razão é considerado por alguns gramáticos ADVÉRBIOS RELATIVO, designação que não consta da Nomenclatura Gramatical Brasileira, mas que foi escolhida pela Portuguesa.

Locução adverbial

Denomina-se locução adverbial o conjunto de duas ou mais palavras que funciona com advérbio. Dessa maneira, as locuções adverbiais são compostas por uma preposição com um substantivo, com um adjetivo ou com um advérbio, Assim:

A criança chorou em silêncio.

As locuções adverbiais podem ser:

  • DE AFIRMAÇÃO (ou DÚVIDA): com certeza, por certo, sem dúvida.
  • DE INTENSIDADE: de muito, de pouco, de todo, etc.;
  • DE LUGAR: à direita, à esquerda, à distância, ao lado, de dentro, de cima, de longe, de perto, em cima, para dentro, para onde, por ali, por aqui, por dentro, por fora, por onde, por perto, etc.;
  • DE MODO: à toa, à vontade, ao contrário, ao léu, às avessas, às claras, às direitas, às pressas, com gosto, com amor, de bom grado, de cor, de má vontade, de regra, em geral, em silêncio, em vão, gota a gota, passo a passo, por acaso, etc.;
  • DE NEGAÇÃO: de forma alguma, de modo nenhum, etc.;
  • DE TEMPO: à noite, à tarde, à tardinha, de dia, de manhã, de noite, de quando em quando, de vez em quando, de tempos em tempos, em breve, pela manhã, etc.

Bibliografia:

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. – 37. ed. rev., ampl. e atual. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

CASTILHO, Ataliba T. de. Nova gramática do português brasileiro. – 1. Ed., 4ª reimpressão – São Paulo: Contexto, 2016

CUNHA, Celso e CINTRA, Luís F. Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. – 2. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.

CAMARA JR., Joaquim Mattoso. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Editora Vozes. 1977.

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