Messianismo

Pós-doutorado em História da Cultura (Unicamp, 2011)
Doutor em Ciências da Religião (Umesp, 2001)
Mestre em Teologia e História (Umesp, 1996)
Licenciado em Filosofia (Unicamp, 1992)
Bacharel em Teologia (Mackenzie, 1985)

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Messianismo significa o retorno de um enviado divino libertador – messias (que em hebraico é o mashiah, em grego é christós), retorno do ser divino enviado pela divindade para libertar a humanidade. É a crença na volta do messias para cumprir a causa de um povo oprimido que acredita na sua “eleição ou chamado para tarefas sagradas” ou não religiosas. Grupos desesperados, em tempos de crise políticas aguardam o “salvador da pátria” ou “messias” que os livrará das forças do mal, implantará o paraíso na terra e o juízo final dos opressores.

O messias pode ser um líder religioso, político-social, com carisma messiânico, poderes mágicos e autoridade. Para Weber, carisma é “dom da graça” com o qual líderes carismáticos têm poderes sobrenaturais e atrai seguidores.

Na antiguidade havia ideias de messianismo na Pérsia (zoroastrismo) que anunciando cativeiro babilônico e vinda de Cristo como messias, como repetido no judaísmo (profeta Isaías). No Novo Testamento, “revelações” (apocalipse) da volta triunfal de Cristo para resgatar seu povo são abundantes. Na Europa medieval houve tendências messiânicas - ilhas britânicas (Círculo Arturiano - rei Artur); Portugal, sebastianismo e ideias de destino (fado): com a morte inexplicada do rei dom Sebastião que não tinha herdeiros (1578), o povo inconformado com a crise política foi subjugado por estrangeiros (rei espanhol Filipe II que assumiu o trono português) e acreditava que o rei dom Sebastião voltaria para salvá-los – originando o sebastianismo como movimento messiânico e socioespiritual.

Messianismos se organizam com seguidores que se consideram “eleitos” para combaterem o mal que os aflige, contra o Anticristo que os persegue, e encontram entre si o refúgio para essa luta contra o mal. Existe harmonia e sintonia com o contexto deste povo ou comunidade e a mensagem messiânica os transforma em movimentos organizados.

No Brasil, os movimentos messiânicos foram marcados pelo sebastianismo português, com comunidades comandadas por líderes religiosos messiânicos. Rio Grande do Sul: Revolta dos Muckers (1868), liderada por Jacobina Mentz, em Sapiranga, massacrada pelo exército a mando do governo (1874). Sobreviventes participaram de outro movimento, em 1902, na província de Encantado (RS), na seita messiânica dos Monges do Pinheirinho, semelhante aos Muckers e também com final trágico. Outros sobreviventes participaram, na Bahia, do maior movimento messianismo do país, organizado pelo líder Antonio Conselheiro para defender a volta da monarquia e contra a república: Canudos. O movimento começou a se espalhar pelo país e o governo brasileiro massacrou a comunidade na Guerra de Canudos, destruindo-a em 1897. Em 1912: entre Santa Catarina e Paraná, surgiu um movimento que defendia a volta do Império (1912), liderado por monges, nomeou um fazendeiro como Imperador do Brasil e dizimado (1916). Outro movimento gaúcho, em Sobradinho (1935 e 1938), foi o dos Monges Barbudos. No Ceará, o beato José Lourenço organizou o movimento do Caldeirão de Santa Cruz do deserto, na cidade de Crato, criando uma comunidade igualitária e protegida pelo Padre Cícero. Na Paraíba, Roldão Mangueira de Figueiredo organizou os Borboletas Azuis (em 1977, em Campina Grande) pregando o dilúvio nos anos 1980.

Os messianismos nas sociedades contemporâneas ainda atendem às carências, necessidades e insatisfações de classes sociais subjugadas, entre as quais existe a mesma busca de salvação, os mesmos problemas da teodiceia. Portanto, mesmo que haja alternativas de soluções não religiosas como opção de ajuda racional para os males da vida, nessa concorrência entre sagrado e profano, sacro e secular, essas ofertas de soluções racionais para os males da vida, ainda que entre indivíduos altamente escolarizados, com avançadas tecnologias e em países modernos, são descartadas e as pessoas permanecem à busca da solução messiânica ou mágico-milenarista, até mesmo com crenças em alienígenas que os salvarão.

Referências bibliográficas:

PEREIRA, João Baptista Borges; QUEIROZ, Renato da Silva (org.). Messianismo e milenarismo no Brasil. São Paulo: EDUSP.

Messianismo e milenarismo no Brasil: entre os campos férteis da religiosidade brasileira. JORNAL DA USP. 2015. Disponível em: http://www5.usp.br/99118/messianismo-e-milenarismo-no-brasil-entre-os-campos-ferteis-da-religiosidade-brasileira/

CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1988.

FERNÁNDEZ-ARMESTO, Felipe. Milênio: Uma história de nossos últimos mil anos. Rio de Janeiro: Record, 1999.

HAUGHT, James A. Perseguições religiosas. Trad. Bete Torii. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.

http://livresdosfardosreligiosos.blogspot.com.br/2014/01/perseguicoes-religiosas.html

https://pt.wikipedia.org/wiki/Messianismo
http://www5.usp.br/99118/messianismo-e-milenarismo-no-brasil-entre-os-campos-ferteis-da-religiosidade-brasileira/

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