Arte suméria

Mestre em História da Arte (Unicamp, 2019)
Bacharel e licenciado em História (USP, 2004)

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Uma das primeiras civilizações a se organizarem na região da Mesopotâmia foram os sumérios, que tiveram sua primeira cidade-Estado em Kish e mais tarde se expandiram fundando outras (Ur, Uruk, Eridu e Lagash).

A organização destas cidades era constituída de um governo autônomo, que controlava a população da cidade, seu entorno que era explorado (agricultura, rebanhos e minérios)e de uma identidade cultural comum (língua, costumes e religião), desse modo, a soma dessas características definem o conceito de cidade-estado.

Os sumérios souberam aproveitar o regime de cheias dos rios, organizando grandes contingentes de mão-de-obra para o trabalho agropastoril e também para a construção de canais de irrigação, os quais permitiam expandir as regiões de cultivo, aumentando produção e riqueza para o rei e sua corte, já que nem todos os cidadãos compartilhavam desta abundância.

Um importante documento para compreender a civilização suméria é o Estandarte de Ur, datado de 2.600-2400 a.C. e hoje presente no acervo do Museu Britânico em Londres e fora encontrado numa tumba real em Ur, sul do Iraque.

Trata-se de uma estrutura de madeira de formato trapezoide, a qual tem conchas, fragmentos de lápis-lazúli e pedra calcária vermelha inseridos sobre uma camada de betume. Sua função é desconhecida, mas estima-se que fosse uma espécie de caixa de ressonância de um instrumento musical.

Estandarte de Ur - face da paz – Museu Britânico - Londres. Foto: Elias Feitosa Amorim Junior / InfoEscola.com

O estandarte tem duas faces que trazem um ciclo narrativo de imagens que aludem dois contextos distintos: a guerra e a paz. A guerra é descrita pelo retorno do rei vitorioso, a frente de seu exército que escolta os prisioneiros de guerra acorrentados e destinados à escravidão ou então com suas carroças e armas, atropela os corpos dos inimigos mortos. A figura do rei é feita numa proporção maior que as demais figuras e ao retornar, é acolhido pelos seus súditos e cortesões.

Estandarte de Ur - face da guerra. Foto: Kamira / Shutterstock.com

Já o contexto ligado a paz tem relação com o festejo do triunfo, onde rei e corte banqueteiam servidos por escravos e entretidos por músicos, enquanto ao palácio, seus súditos conduzem diferentes animais (ovelhas, burros, bois e cabras) e carregam pesados fardos, provavelmente resultantes das colheitas de grãos.

Na poesia, os sumérios escreveram a mais antiga epopeia que se conhece, datada de 2600 a.C.: trata-se de Gilgamesh, um rei aventureiro da cidade de Uruk que enfrentou monstros, deuses e catástrofes, tal qual um dilúvio, na busca da imortalidade.

Gilgamesh. Foto: Dima Moroz / Shutterstock.com

Além dos versos, as aventuras do lendário Gilgamesh foram registradas em relevos e esculturas e ali, segue-se a tradição iconográfica dos povos mesopotâmicos: a representação naturalista, detalhista e figurativa tanto do real quanto daquilo que seria o imaginário.

Na arquitetura, os sumérios construíram os Zigurates: eram vários observatórios astronômicos dotados de significativa precisão para estudar o céu. As diferentes formas de culto às forças da natureza implicavam em acompanhar as suas manifestações, fazendo com que tanto os sacerdotes como os estudiosos se valessem do conhecimento em astrologia, matemática e arquitetura, para a construção dos templos e dos palácios.

Zigurate de Ur, após trabalho de restauração. Foto: Homo Cosmicos / Shutterstock.com

Fontes:

ROAF, Michael. Mesopotâmia. Grandes civilizações do Passado. Folio Editora, 2006.

PINSKY, Jayme. As primeiras civilizações. São Paulo: Editora Contexto, 2012.

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