Povo burgher

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O Sri Lanka (ou Ceilão, em forma aportuguesada), ilha localizada a sul da Índia, constitui um país de considerável diversidade, apesar de ter o tamanho do estado brasileiro do Espírito Santo. Entre as etnias que o compõem, há uma conhecida pelo nome de Burgher (termo holandês, que significa “habitante do burgo”, “ocupante da cidade”, ou de forma indireta, “artífice”, “burocrata”). Os burghers, apesar de passarem quase desapercebidos no atual Sri Lanka, contribuíram bastante para moldar o perfil de seu país.

A origem deste povo está ligada às navegações portuguesas. No início do século XVI, Portugal estabelece um contato permanente com a Índia, fundando colônias e feitorias em todo o seu litoral. Em 1510 conquistam Goa, que cresce em a ponto de ser considerada a cidade portuguesa mais importante ao lado de Lisboa. Ao mesmo tempo, os portugueses iniciam a ocupação do Sri Lanka, e no processo fundam a atual capital do país, Colombo. Como uma forma de consolidar as conquistas, os dirigentes estimulam o casamento entre colonizadores e habitantes locais em todas as suas possessões. No Sri Lanka, em particular, tal medida obtém bastante sucesso, surgindo logo um grupo mestiço, católico, que tinha hábitos e costumes mais lusitanos que locais. Comunicavam-se em português e adotavam nomes como da Silva, Fonseca, Sousa, etc. Eram ainda importantes intermediários entre portugueses e nativos cingaleses, e eram responsáveis de fato pela defesa da colônia, junto com os escravos africanos vindos de Moçambique.

Mas então, ao mesmo tempo em que ocupavam o nordeste brasileiro, os holandeses tomam o Sri Lanka, com a diferença de que este não mais retornaria ao domínio lusitano. A utilidade desta população mestiça é reconhecida pelos novos colonizadores, que passam a chamá-los pelo nome com o qual até hoje são conhecidos: burgher. O burgher é o burocrata, o administrador nativo, aquele em quem os holandeses passam a confiar a tarefa de fazer com que nativos colaborem com colonizadores. Tal situação irá se manter com o domínio britânico da ilha, no início do século XIX, o que irá gerar mais adiante, ressentimentos entre os outros grupos, especialmente a majoritária etnia cingalesa, que popularmente vê os burghers como colaboracionistas do desprezado regime colonial.

Com o tempo, curiosamente, os cingaleses nativos foram adotando os nomes lusitanos e muitos abraçaram o cristianismo, católico ou protestante. Já os burghers adotam nomes holandeses e alguns ainda utilizam um idioma português bastante deturpado, que sentem orgulho em conservar. A música popular do país foi talvez o maior legado burgher: famosos pelos hábitos festivos, são responsáveis por criarem o ritmo nacional, a “baila”, além da “cafrinha”. Com a independência, muitos emigraram para a Austrália e Canadá, e os que permanecem no país pertencem a classes mais humildes.

Bibliografia:
About Sri Lankan Burghers (em inglês): Disponível em: <http://freepages.history.rootsweb.ancestry.com/~burghernames/page2.html >.

Arquivado em: Cultura, Sociologia
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