Cafeína

Mestre em Neurologia / Neurociências (UNIFESP, 2019)
Especialista em Farmácia clínica e atenção farmacêutica (UBC, 2019)
Graduação em Farmácia (Universidade Braz Cubas, UBC, 2012)

Este artigo foi útil?
Considere fazer uma contribuição:


Ouça este artigo:

A cafeína é classificada pela bioquímica como um alcalóide do grupo das xantinas trimetiladas e encontrada em aproximadamente 60 tipos de plantas como as folhas de diversos chás, noz de cola (Cola acuminata) , frutos do guaraná (Paullinia cupana), grãos de café (Coffea arabica) e no cacau (Theobroma cacao). A cafeína atua nas plantas como pesticidas naturais protegendo-as de insetos que se alimentam destas plantas.

cafeinaNo nosso organismo a cafeína é absorvida e atinge a corrente sanguínea após entre 40 minutos a 2 horas de seu consumo, sua velocidade de absorção pode ser prolongada de acordo com a presença de alimento no trato gastrointestinal. Sua metabolização ocorre no fígado principalmente pela ação da enzima CYP1A2. Após o efeito de primeira passagem a cafeína é rapidamente distribuída por todos os tecidos do corpo devido a alta capacidade de atravessar as membranas, inclusive a placentária e a hematoencefálica.

A capacidade da cafeína de potencialização do estado de alerta e a atenção prolongada está mais do que comprovada por estudos, porém alguns indivíduos relatam a ausência desses efeitos em seus organismos. Isso se dá por conta de variações nas taxas de metabolização da cafeína pelo fígado, e se dão por conta que as pessoas apresentam fatores diferenciados de metabolismo como polimorfismos genéticos, diferentes taxas de indução da metabolização pelas enzimas do citocromo P450 no fígado, alterações físicas como peso do indivíduo e sexo, doenças hepáticas também podem alterar a velocidade do metabolismo da cafeína. Ela é excretada pelos rins porém entre 1% a 2% da dose ingerida de cafeína é excretada sem alteração na urina, a maior parte da cafeína é alterada pelo fígado transformando-se em paraxantina (85%), teobromina (10%) e teofilina (5%). Em pessoas que fumam a concentração de cafeína permanece na corrente sanguínea por aproximadamente 2x mais tempo que em não fumantes, o que pode significar uma média de 6 a 10 horas no organismo, isso pode significar uma taxa de intoxicação maior em pessoas fumantes. Vale ressaltar que a cafeína também é excretada pelo leite materno, pela saliva, bile e sêmen.

Foto: Aggie 11 / Shutterstock.com

Foto: Aggie 11 / Shutterstock.com

Dentre os efeitos da cafeína temos o aumento do estado de vigília e sensação de alerta, proporciona sensação de bem-estar e diminuição da fadiga. Além desses efeitos ela pode levar a efeitos indesejáveis como o aumento de secreção gástrica, aumento do refluxo gastroesofágico, riscos de aborto, pode levar a sensação de ansiedade, angústia, alterações do sono e apesar de não causar dependência química é visível em alguns casos os indivíduos apresentarem abstinência.

Os casos de intoxicação são raros porém frequentes em pessoas que não possuem hábitos alimentares como o consumo de bebidas como o café, os efeitos mais comuns de intoxicação são ansiedade, taquicardia, irritação, tremores, inquietação em casos mais graves e extremamente raros os indivíduos podem entrar em coma, arritmia e até infartos do miocárdio.

Atualmente a cafeína é utilizada tanto na dieta quanto em medicamentos associados para tratamento de dor e pode apresentar interação com vários medicamentos causando riscos a usuários de medicamentos como fluconazol, fluoxetina, verapamil, ciprofloxacino entre outros da mesma classe. Portanto o consumo de produtos que contenham cafeína precisam ser alertado aos profissionais de saúde para detecção de riscos de interação medicamentosa.

Referências bibliográficas:
TAVARES, Cristiane; SAKATA, Rioko Kimiko. Cafeína para o tratamento de dor. Rev. Bras. Anestesiol.,  Campinas ,  v. 62, n. 3, p. 394-401,  June  2012 .

Daly JW - Caffeine analogs: biomedical impact. Cell Mol Life Sci, 2007;64:2153-2169.

Sawynok J, Yaksh TL - Caffeine as an analgesic adjuvant: a review of pharmacology and mechanisms of action. Pharmacol Rev, 1993;45:43-85.

Sawynok J - Methylxanthines and pain. Handb Exp Pharmacol, 2011;200:311-329.

Juliano LM, Griffiths RR - A critical review of caffeine withdrawal: empirical validation of symptoms and signs, incidence, severity, and associated features. Psychopharmacology, 2004;176:1-29.

Este artigo foi útil?
Considere fazer uma contribuição: