Espasmo

Mestre em Ecologia e Recursos Naturais (UFSCAR, 2019)
Bacharel em Ciências Biológicas (UNIFESP, 2015)

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Espasmos são contrações involuntárias e repentinas dos músculos que podem ocorrer em grupos musculares ou em órgãos. A grande maioria delas ocorre devido a um desequilíbrio iônico ou por uma sobrecarga de contração muscular, causando câimbra e dor localizada que passa depois de alguns minutos. Os espasmos também podem ser sintomas médicos de algumas doenças e são especialmente perigosos quando ocorrem em órgãos como o coração.

A câimbra muscular ocorre quando há uma estimulação nervosa anormal de um certo grupo muscular, causando espasmos contínuos e dor. Os tremores musculares causados para aquecer o corpo quando os termorreceptores da pele captam um sinal de resfriamento do ambiente são distintos da câimbra pois, apesar de também ocorrerem involuntariamente, eles não causam dor e estão associados a estímulos nervosos normais do sistema simpático. Quando há uma sobrecarga da capacidade muscular devido a atividade física intensa de maneira prolongada ou exercício físico realizado sem aquecimento prévio, ocorre o acumulo de ácido láctico nas células musculares. Em situações ideais, os músculos realizam apenas o metabolismo aeróbio (que utiliza oxigênio) para se nutrir. Contudo, quando a demanda energética supera a oxigenação no músculo, ocorre a produção do ácido láctico. Este ácido é o resíduo da via metabólica anaeróbia que ocorre quando o músculo fica fadigado. Ele induz espasmos e dor, que só melhoram após a degradação do composto.

Espasmos em diferentes grupos musculares. Foto: staras / Shutterstock.com

Alguns exemplos de espasmos musculares normais não associados a problemas de saúde incluem a ejaculação e todos os espasmos associados ao orgasmo (ocorrendo na musculatura pélvica e abdominal), espasmos musculares noturnos (mioclonia), associados ao período de sono profundo REM em que acontecem os sonhos, o espasmo no diafragma que causa soluços e espasmos oculares, relacionados a um aumento de pressão nos olhos quando estes estão cansados após uso prolongado em leitura ou uso de aparelhos eletrônicos.

A ansiedade e o estresse parecem ser causadores de grande parte das desregulações de estímulos nervosos que causam espasmos. O espasmo cricofaringeal, que ocorre na garganta, pode causar grande desconforto e durar longos períodos e acontece mais frequentemente em pessoas que relatam estar sobre grande estresse emocional. Choques elétricos ou descompressão pulmonar indevida durante mergulhos podem causar espasmos violentos conhecidos como convulsões. Estes espasmos são sistêmicos e podem causar intensa salivação, relaxamento da musculatura da bexiga (liberando a urina), perda da capacidade de se manter de pé e parada respiratória. Pessoas epilépticas sofrem convulsões de maneira constante e precisam tomar medicação para controlar estes espasmos. A disfonia espasmódica é caracterizada pelo espasmo das cordas vocais, interrompendo ou afetando o timbre da voz. Apesar de não possuir causa conhecida, sabe-se que estresse psicológico, uso excessivo da voz e lesões na laringe causadas por infecções respiratórias ou acidentes aumentam o risco de sua ocorrência. Seu tratamento inclui sessões de fonoaudiologia e uso de toxina botulínica na musculatura afetada.

Uma forma muito atípica de espasmo ocorre em cadáveres após a morte (post-mortem). Pessoas que morrem em eventos traumáticos que envolvam extremo esforço físico ou emoções intensas ficam com íons de cálcio livres de maneira residual no interior das células musculares. Quando estes íons se ligam aos sítios específicos dos filamentos musculares ocorre a contração e o movimento de partes do corpo. Em alguns casos o espasmo cadavérico é sistêmico, movendo braços e pernas por vários minutos.

Referências:

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Jankovic, J., Schwartz, K., & Donovan, D. T. (1990). Botulinum toxin treatment of cranial-cervical dystonia, spasmodic dysphonia, other focal dystonias and hemifacial spasm. Journal of Neurology, Neurosurgery & Psychiatry53(8), 633-639.

Katz, R. T., & Rymer, W. Z. (1989). Spastic hypertonia: mechanisms and measurement. Archives of physical medicine and rehabilitation70(2), 144-155.

Madea, B. (2013). Cadaveric spasm. Forensic science, medicine, and pathology9(2), 249-250.

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