Hereditariedade

Mestre em Ecologia e Recursos Naturais (UFSCAR, 2019)
Bacharel em Ciências Biológicas (UNIFESP, 2015)

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Na genética a hereditariedade trata da herança biológica parental de características transmitidas à prole seja pela reprodução sexuada ou pela assexuada. Por tanto, genes ou traços hereditários são aquelas informações genéticas rastreáveis através das linhas e que, com o passar do tempo sobre o efeito de pressões evolutivas, podem levar a mutações e formação de novas espécies, estabelecendo as relações filogenéticas de semelhança.

O genótipo de um organismo é composto pela mistura dos gametas paternos no momento da fecundação. Assim, a expressão destes genes e o fenótipo aparente de um ser vivo ocorre após diversos processos epigenéticos que controlam a expressão ou desativação gênica. De modo didático, aprendemos que as nossas cópias materna e paterna de um mesmo gene regulam a expressão de nossas características a partir de relações de dominância e recessividade, como exposto por Mendel em seu postulado da primeira lei da Genética, na qual ele relacionou a cor das sementes de ervilha com a homozigose ou heterozigose simples de um único alelo. Contudo, a genética moderna compreende que diversos traços da morfologia e fisiologia bacteriana, vegetal e animal estão relacionados a diversos alelos ao mesmo tempo, ocorrendo muitas vezes hibridismo e condições intermediarias reguladas por processos moleculares.

Um exemplo de hereditariedade humana simples de ser observado é a herança do tipo sanguíneo. O tipo O é considerado recessivo em relação aos demais (genótipo ii), enquanto o AB se forma apenas em heterozigose (genótipo IAIB) e os tipos A e B podem ocorrer tanto em homozigose dominante quanto em heterozigose com o gene recessivo. Logo, segundo as leis de hereditariedade, um casal formado por um indivíduo do tipo O e outro do tipo AB geram descendentes apenas do tipo A (genótipo IAi) ou do tipo B (genótipo IBi). Para características fenotípicas compostas como cor e tipo dos cabelos, entram em cena condições descritas na segunda lei de Mendel como poliibridas, em que diferentes estados podem ser expressos de acordo com a combinação de múltiplos alelos. É por isso que a hereditariedade de traços nem sempre é trivial e precisa ser estudada com cuidado. Nos testes de paternidade, por exemplo, diversos marcadores são usados para estabelecer o grau de relação entre os indivíduos testados, baseando-se nos princípios da hereditariedade.

Outro fator relevante a ser discutido sobre a hereditariedade genética é a influência de comportamentos e do ambiente sobre a formação de nosso fenótipo. Filhos de pais que nunca apresentaram doenças cardíacas podem desenvolver tal condição se tiverem ao longo da vida hábitos que aumentem este risco, como tabagismo, má alimentação e sedentarismo. Deste modo, compreende-se que apesar do nosso material genético (o DNA) ser um esboço geral de nosso organismo, ele não determina completamente sozinho o resultado final de quem somos. Além disso, diversos traços não são hereditários, ou seja, ocorrem apenas no progenitor sem ser transmitidos para a prole. Isto porque apenas o material genético das células reprodutivas é que formam os descendentes, sendo que alterações que afetem apenas as células somáticas (que compõem o corpo sem incluir os gametas) não compõem a herança biológica transmitida entre gerações. Um exemplo disso é o estado de bronzeamento de uma pessoa, que não é hereditário, portanto os descendentes nascerão com a pigmentação da pele que seus genes forem capazes de expressar. Ao longo da vida, expostos ao sol, poderão alterar esta condição se aproximando da coloração paternal.

Diversos animais apresentam uma outra forma de herança que não é controlada pelos genes, mas sim aprendida e transmitida através de repetição de geração em geração. Isso é a base de comportamentos que permitem a formação de cultura e convívio social com leis preestabelecidas e respeitadas historicamente muito antes do nascimento de um indivíduo. Portanto, embora animais como os macacos e os seres humanos sejam capazes de se comunicar uns com os outros por sinais ou pela vocalização através de estruturas anatômicas geneticamente herdadas, o significado de cada sinal ou som produzido precisa ser aprendido, passando a ter valor social que afeta a sobrevivência e precisa ser também transmitido, ou neste caso ensinado, entre gerações.

Leia também:

Referências:

Bateson, W. and Mendel, G., 2013. Mendel's principles of heredity. Courier Corporation.

Sabean, D.W., de Renzi, S., Vedder, U., López-Beltran, C., Wilson, P.K., Cartron, L.L., Ratcliff, M.J., Wood, R.J., Terrall, M., McLaughlin, P. and Duchesneau, F., 2007. Heredity Produced: At the Crossroads of Biology, Politics, and Culture, 1500-1870. MIT press.

Arquivado em: Genética
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