Carneiradas

Por Ana Luíza Mello Santiago de Andrade

Graduada em História (Udesc, 2010)
Mestre em História (Udesc, 2013)
Doutora em História (USP, 2018)

Categorias: Brasil Imperial
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O início da história do Brasil enquanto nação foi marcado pela incerteza. Isso porque logo após a independência ainda havia desconfianças quanto ao regime que se seguiria. A figura de D. Pedro I garantiu o estabelecimento do país e, aos poucos, a independência foi sendo reconhecida pelas demais nações do mundo. No entanto, D. Pedro I abdicou ao trono menos de dez anos após a proclamação da independência. Com a saída do imperador em 1831 a instabilidade voltou a reinar no país. O Brasil passou então a ser governado por regentes: foi o tempo da regência trina e regência una, que aguardavam a chegada à maioridade de D. Pedro II. Tal questão só foi resolvida com o golpe da maioridade e a ascensão de D. Pedro II, aos quinze anos, ao trono, em 1840. Com isso chegou ao fim o período regencial.

Foi durante o período das regências que o país viu pipocar em diversas províncias levantes populares de contestações. É o caso das Carneiradas, em Pernambuco, ocorridas entre 1834 e 1835. Após a abdicação de D. Pedro I os rumos da nação foram colocados em xeque e é nesse contexto que ocorreram seguidas tentativas de levantes, liderados pelos irmãos Francisco e Antônio Carneiro Machado Rios.

A disputa entre liberais moderados e exaltados tomava o país e foi durante o período regencial que esta disputa chegou a sua maior expressão. Os irmãos Machado Rios foram se projetando como lideranças exaltadas em Pernambuco. À época estava na presidência da província Francisco de Paula Almeida e Albuquerque. Assim, um golpe foi organizado para pôr fim ao seu governo e levar ao poder uma liderança do grupo dos exaltados. As manifestações protagonizadas pelos irmãos Carneiro, somadas a pouca firmeza de Francisco de Paula Almeida e Albuquerque, ganharam força e intimidaram qualquer possível repressão que pudesse vir do governo. O comandante da Legião do Recife, Manoel de Carvalho Paes de Andrade, que fora importante líder durante a Confederação de 1824, protegia o grupo que tentava dar o golpe nos restauradores, defendendo ainda que estes deviam ser removidos do Recife e enviados/desterrados para Fernando de Noronha.

Cedendo às pressões exaltadas, Albuquerque entregou a presidência a Manoel de Carvalho Paes de Andrade, um exaltado, que, quando tomou o poder, mostrava-se mais moderado. Os irmãos que tanto organizaram a tomada de poder tinham expectativas com a ascensão de Manoel Paes de Andrade ao governo. No entanto suas expectativas foram frustradas: desejavam ter acesso a cargos e a lucros, serem beneficiados no aparato governamental com novo governo. Mas, Manoel não atendeu com tanto cuidado as expectativas dos irmãos. Limitou-se a nomeá-los para cargos de comando: Francisco ficou responsável pelo comando do Batalhão dos Expedicionários, enquanto Antônio ficou responsável pelo comando de toda a tropa. As posições de comando tinham destaque em um Brasil marcado pelas contestações e levantes do período regencial. A dupla foi lutar no combate aos Cabanos, ou Guerra dos Cabanos, ocorrida no interior da província. Mas, a postura dos irmãos não agradou às demais lideranças de guerra. Houve uma disputa pela autoridade perante as tropas, gerando desconforto e embates entre as autoridades que na região se encontravam.

No cabo de guerra para provar maior autoridade, os irmãos Carneiro saíram perdendo. Manoel Paes de Andrade solicitou que retornassem ao Recife junto da sua guarda, enfraquecendo assim seu poder de liderança política. Os irmãos não se contentaram e buscaram ameaçar a (pouca) tranquilidade de Paes de Andrade, insistindo com os membros da sua guarda a voltarem-se contra Manoel. As tentativas de enfraquecer Paes de Andrade e tirá-lo do poder foram frustradas. Como reação à organização dos irmãos, ele suspendeu Francisco do comando da legião do Recife e deu início às suas atividades na imprensa: fundou o jornal A Razão e a Verdade e nele passou a atacar constantemente Manoel.

Outros levantes se seguiram, que mostram o protagonismo dos irmãos Carneiro, que lutavam pela manutenção de seus privilégios políticos, mas mostram também o quão conturbado foi o período regencial.

Referência:

CAVALCANTI JÚNIOR, Manuel Nunes. Revisitando as Carneiradas: os irmãos Machado Rios e as disputas políticas em Pernambruco (1834 – 1835). In: Clio: Revista de Pesquisa Histórica. Programa de Pós-Graduação de História da Universidade Federal de Pernambuco, v. 33, n. 1, 2015.

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