Revolução cearense

Por Fernando Roque Fernandes

Mestre em História (UFAM, 2015)
Graduado em História (Uninorte, 2012)

Categorias: Brasil Republicano
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A Revolução Cearense (1914) pode ser entendida a partir de questões mais amplas que envolvem o contexto da Primeira República no Brasil (1889-1930). Seus antecedentes se caracterizam pelo governo autoritário do comendador Antônio Pinto Nogueira Accioly que entre os anos de 1896 e 1912 governou o Ceará ininterruptamente. O período governado por Accioly ficou conhecido pela “Política Aciolina”. Neste, movimentos messiânicos, liderados por carismáticos como Antônio Conselheiro, Padre Ibiapina, Padre Cícero e Beato Zé Lourenço foram desencadeados de modo a se opor à miséria que assolava a região. Foi também naquele contexto que grupos de cangaceiros como Lampião e Maria Bonita iniciaram suas atividades nos sertões. Nesses termos, a Revolução Cearense deve ser pensada na relação que estabeleceu como as políticas de caráter local, regional e federal. Práticas coronelistas, política dos governadores, movimentos cangaceiros e messiânicos devem ser tomados como partes de uma conjuntura social onde milhares de pessoas viviam à mercê do mandonismo, misérias e processos migratórios que assolaram o nordeste na primeira metade do século XX.

As especificidades da Revolução Cearense estão nos processos políticos que dimensionaram a relação entre religião e política na articulação com a política dos governadores no Ceará. Uma das figuras de maior destaque naquele evento foi Padre Cícero que articulou uma série de alianças de modo a se opor a “Política das Salvações”, empreendida pelo então presidente da República Hermes da Fonseca (1910-1914) segundo a qual todo partidário contrário aos interesses do governo central deveria ser substituído por um interventor escolhido pelo Presidente da República. Desse modo, a substituição de Accioly pelo interventor federal Franco Rabelo e a política de perseguição, empreendida por Rabelo contra os opositores de Hermes da Fonseca, levou a um acirramento das disputas políticas locais. Padre Cícero que acumulava as funções de Prefeito de Juazeiro do Norte e de Vice-Presidente do Ceará foi deposto de suas funções pelo Governo Federal, acirrando ainda mais as disputas políticas naquela região. Outra figura importante naquela disputa foi o deputado Floro Bartolomé, importante aliado de Padre Cícero e iniciador das articulações políticas e militares da Revolução Cearense contra a “Política das Salvações” de Hermes da Fonseca.

Floro Bartolomé e Padre Cícero. Foto: autor desconhecido.

Conforme aponta Lira Neto, a Revolução Cearense de 1914 foi orquestrada na intenção de equilibrar os poderes locais a partir da deposição do então coronel e Presidente do Ceará, Franco Rabelo (1912-1914), simpatizante de Hermes da Fonseca e opositor de Padre Cícero e Accioly. O acontecimento foi denominado de Revolução por conta dos resultados positivos alcançados. Naquela ocasião Rabelo foi destituído de sua função de presidente do Ceará e em seu lugar Padre Cícero reassumiu a vice-presidência no Governo de Accioly.

Para alguns pesquisadores, o fanatismo religioso e a miséria que assolavam o nordeste brasileiro favoreceram a participação da população na Revolução. Conflitos envolvendo sertanejos, coronéis, cangaceiros e tropas do governo federal resultaram na morte de centenas de pessoas. Muitas delas acreditavam estar participando de uma espécie de “guerra santa” contra as forças do mal (representadas pelo governo federal), caracterizando o messianismo da época. Tais acontecimentos fizeram com que a influência e prestígio espiritual e político de Padre Cícero crescesse mais ainda em Juazeiro do Norte e em outras partes do Ceará. Conforme aponta Antônio Gomes, a casa de Padre Cícero, que já era visitada por romeiros de várias partes do nordeste, passou também a ser procurada por políticos e autoridades diversas.

Referências:

CARONE, Edgard. Coronelismo: definição histórica bibliografia. Revista de administração de empresas, v. 11, n. 3, p. 85-92, 1971. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-75901971000300008&script=sci_arttext; Acesso em: 08 jan. 2018.

DE ARAÚJO GOMES, Antonio Máspoli. Histórias do Padim Ciço. Revista USP, n. 86, p. 174-180, 2010. Disponível em: http://scholar.googleusercontent.com/scholar?q=cache:NPDgmuw3Q6IJ:scholar.google.com/+Revolu%C3%A7%C3%A3o+Cearense+-+1914&hl=pt-BR&as_sdt=0,5; Acesso em: 08 jan. 2018.

HISTÓRIA do Ceará. Governo do Estado do Ceará. Disponível em: http://www.ceara.gov.br/2010/03/13/historia-do-ceara/; Acesso em: 08 jan. 2018.

NETO, Lira. Padre Cícero: poder, fé e guerra no sertão. Editora Companhia das Letras, 2009.

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