Literatura infantil brasileira

Por Carlos Eduardo Varella Pinheiro Motta

Doutorado em Letras - Literatura e Língua Portuguesa (PUC-Rio, 2013)
Mestrado em Linguística, Letras e Artes (PUC-Rio, 2008)
Graduação em Jornalismo (PUC-Rio, 2001)

Categorias: Literatura
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Os primeiros exemplares de livros infantis editados no Brasil datam do início do século XIX. Com a implantação oficial da Imprensa Régia, em 1808, tem início a atividade editorial e, desse modo, surgem as primeiras publicações destinadas ao público infantil, que consistiam principalmente em traduções de livros europeus.

Ainda no século XIX, é publicado o livro Contos infantis (1886), de Júlia Lopes de Almeida e Adelina Lopes Vieira. Abrindo o século XX, Olavo Bilac e Coelho Neto editam seus Contos pátrios (1904) e Tales de Andrade, com o romance Saudade (1919), encerra o primeiro período da literatura infantil brasileira.

O período posterior, e mais célebre, será marcado principalmente pela obra de Monteiro Lobato. A carreira do autor inicia-se em 1921, com a publicação de Narizinho Arrebitado, e prossegue até 1944, com o lançamento de Os doze trabalhos de Hércules. As inovações de sua obra abrem as portas de uma nova era na literatura infantil brasileira, com orientação marcadamente pós-modernista.

A partir dos anos 60, com a multiplicação de programas e instituições de fomento, aliada a uma ampliação dos investimentos da iniciativa privada, observa-se um aumento expressivo na quantidade de livros infantis. O fruto desse contexto favorável foi o desenvolvimento de um comércio especializado e a migração de escritores consagrados que começam a se dedicar a esse campo, tais como Clarice Lispector, Vinícius de Moraes e Cecília Meireles.

Em paralelo, surge uma literatura que tem como objetivo primordial o da crítica aos problemas da sociedade contemporânea e que encontrou sua expressão máxima em Pivete (1977), de Henry Correia de Araújo, que traz a representação realista e violenta da vida social brasileira, abordando temas até então considerados tabus e impróprios para menores, em oposição a uma tradição que privilegiava a fantasia distanciada da realidade. Essa tendência causou certo escândalo, na medida em que batia de frente com o “mandamento” de não abordar situações problemáticas nos livros infantis, desconstruindo a imagem da criança obediente e passiva presente nos livros de orientação mais comercial.

Seguindo outra linha, alguns autores dedicaram-se a recriar humoristicamente os antigos temas, como no caso de Ana Maria Machado, em História meio ao contrário, que apresenta a proposta de um conto de fadas invertido, onde o príncipe se casa com a pastora e a princesa vai cuidar de sua vida.

Em terreno mais comercial, a expansão do mercado favorece alguns gêneros como a ficção científica e o mistério policial. Nessa linha, destacam-se O gênio do crime (1973), de João Carlos Marinho, e O fantástico homem do metrô (1979), de Stella Carr.

Em outro polo, a poesia para crianças também apresenta um desenvolvimento considerável nesse período, por meio de obras como Ou isto ou aquilo (1964), de Cecília Meireles, Pé de pilão (1968), de Mário Quintana, e A arca de Noé (1974), de Vinícius de Moraes.

A partir do início dos anos 80, observamos o surgimento de uma etapa com ênfase no projeto gráfico, que passou de simples complemento dos textos à condição de agente autônomo e autossuficiente. Essa tendência atingiu o seu ápice com o lançamento de O menino maluquinho (1980), de Ziraldo, sucesso absoluto de público e crítica, que encabeça uma lista de livros que têm os aspectos visuais como centro e não mais como ilustração e reforço de significados confiados à linguagem verbal.

Referências:

CADEMARTORI, L. O Professor e a Literatura. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.

LAJOLO, M.; ZILBERMAN, R. Literatura Infantil Brasileira: história e histórias. 6ª edição. São Paulo: Ática, 2007.

MACHADO, M. Z. V.; MARTINS, A. G.; PAIVA, A.; PAULINO, G. (Orgs.). Escolhas Literárias em Jogo. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.

MARINHO, J. M. A Convite das Palavras: motivações para ler, escrever e criar. São Paulo: Biruta, 2009.

RITER, C. A Formação do Leitor Literário em Casa e na Escola. São Paulo: Biruta, 2009.

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