Uso medicinal da maconha

Mestre em Neurologia / Neurociências (UNIFESP, 2019)
Especialista em Farmácia clínica e atenção farmacêutica (UBC, 2019)
Graduação em Farmácia (Universidade Braz Cubas, UBC, 2012)

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A Cannabis sativa L. popularmente conhecida por seu nome vulgar, a maconha, possui diversas substâncias químicas ativas chamadas de canabinoides. Dentre estas encontramos o Delta 9 tetraidrocanabinol ou THC, e o canabidiol, também conhecido por CBD. Apesar do Tetraidrocanabinol ser a molécula mais ativa da planta, diversos estudos mostraram a atividade de outras substâncias, tão importantes farmacologicamente quanto, como por exemplo o canabidiol que é uma das moléculas ativas da Cannabis sativa, podendo sua concentração chegar em até 40% dos extratos vegetais. Uma de suas vantagens está no fato da molécula ser desprovida dos típicos efeitos psicológicos da maconha em humanos. Alguns estudos mostram que a utilização isolada do canabidiol pode produzir efeitos anticonvulsivos, neuroprotetores, hipnóticos, e efeitos hormonais aumentando o nível de cortisol e corticosterona. Outras pesquisas também mostram que esta molécula pode reduzir o metabolismo de drogas via hepática.

Recentemente o canabidiol tem sido alvo de investigação científica em diversas pesquisas pelo mundo que visam avaliar o potencial terapêutico da substância em vários processos patológicos, que vão desde a fibromialgia severa ao mal de Parkinson e outras patologias. Outros estudos também mostram que a utilização isolada do canabidiol pode produzir efeitos anticonvulsivos, neuroprotetores, hipnóticos, e efeitos hormonais aumentando o nível de cortisol e corticosterona. A droga também mostrou ter efeitos ansiolíticos e antipsicóticos, onde em estudos duplo cego o canabidiol exerceu claramente efeito ansiolítico reduzindo a atividade cerebral ao padrão de atividades ansiolíticas.

A utilização do canabidiol é capaz de reduzir sintomas motores provocados pelo mal de Parkinson sem causar declínio nos estados cognitivos do paciente. Além disso foi capaz de melhorar a qualidade de vida dos pacientes e apresentou efeito terapêutico sobre sintomas do transtorno comportamental do sono REM. Nas dores neuropáticas a substância foi capaz de reduzir as dores causadas pela doença através da utilização de spray e na forma inalatória do extrato. Na esclerose múltipla ainda há controvérsia sobre a utilização da substância pois os efeitos adversos da utilização da droga podem causar complicações devido os sintomas relacionados a doença.

Farmacologicamente o canabidiol possui ação em receptores canabinóides do cérebro, apesar de baixa afinidade pelos receptores a substância se mostra um potencial antagonista dos receptores CB1 apresentando efeitos antiespasmódicos em determinados locais do corpo. Essa molécula também exibe efeito agonista de receptores CB2 onde sua relevância farmacológica não foi pré estabelecida apesar de manter potencial ação em efeitos anti inflamatórios induzidos pela substância. O canabidiol também manifestou efeitos inibitórios na reabsorção da anandamida (neurotransmissor relacionado a felicidade), aumentando assim sua concentração em fendas sinápticas. Essa molécula é um neurotransmissor considerado parte do sistema endocanabinoide e foi a primeira molécula desse sistema identificada como parte chave para a sinalização deste.

A Cannabis sativa L. ainda é proibida em alguns países. No Brasil a proibição do princípio ativo, canabidiol, foi parcialmente suspensa uma vez que diversas pesquisas mostraram a eficácia para tratamento de várias enfermidades. Com o reconhecimento de seu potencial terapêutico a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) inseriu o canabidiol na lista de substâncias controladas permitindo seu uso com determinadas restrições.

Mesmo havendo diversas evidências sobre os efeitos terapêuticos atribuídos aos princípios ativos da Cannabis em diversas patologias, principalmente as do sistema nervoso, ainda é necessário aprofundar esses estudos e abrangendo mecanismos ainda não elucidados.

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