Etnocracia

Este artigo foi útil?
Considere fazer uma contribuição:


Ouça este artigo:

Etnocracia é um termo que pode ser analisado a partir de muitas vertentes. A origem da palavra encontra-se no idioma grego, em que se verifica o significado de etno (povo, etnia, grupo étnico) e cracia, que é poder. Porém, a explicação para etnocracia é considerada por diversos estudiosos, e as definições variam de acordo com a realidade social, época e localização em que é analisada.

Uma das abordagens a respeito da etnocracia remete ao período da expansão por meio das grandes navegações do século XVI. Elas foram realizadas pelos países ibéricos da Europa na direção da América e da África. Naquele momento ocorreu a disseminação de ideias etnocráticas em paralelo ao desenvolvimento do mercantilismo, associado às ideologias de raça, à interação constante entre povos de culturas diferentes e à influência causada por este fenômeno nos Estados Nacionais.

Naquele período, o significado de etnocracia estava associado com as práticas que colocavam uma cultura em predominância a outras. Ela pode ser verificada pela atração de mão-de-obra escrava por meio de povos de origem africana. A Igreja muitas vezes desempenhou papel fundamental na legitimação deste processo.

Jalil Sued Badillo, especialista em História Cultural do Século XVI, explica que “desde suas primitivas origens, a Igreja católica aceitou e promulgou a escravidão como uma prática institucional que se considerava justa, necessária ou inevitável. As Escrituras não a condenavam e esse fato facilitou aos cristãos fazerem uso dela sem problemas de consciência”.

Em outro aspecto, havia também o chauvinismo, atrelado naquele período à competitividade e interação entre as nações. As ideias chauvinistas implicam na superioridade étnica de um grupo sobre os demais. Então, seus adeptos veem os contrários com rejeição radical e menosprezam estrangeiros. É importante frisar que o chauvinismo não faz parte da corrente nacionalista tradicional, que preza pelo diálogo e aprendizado com outras nações no sentido do desenvolvimento conjunto.

Após este período inicial, percebe-se que durante os séculos XVIII e XIX, para entender o conturbado choque entre a cultura europeia e os territórios colonizados, surgem diversos cientistas políticos que atuam na avaliação das relações de poder sob o viés da etnocracia.

Práticas etnocráticas

No intuito de fazer com que uma estrutura etnocrática torne-se a base política de um território, ocorrem métodos vistos historicamente como desumanos, dos quais se destacam:

Segregação

A partir de uma cisão – que pode ocorrer tanto por meio de uma decisão unilateral ou através de meios jurídicos – com base na origem étnica ou religiosa, resultando em uma restrição direta de direitos no campo social, econômico e político; direcionados a determinados grupos, podendo até mesmo ocorrer seu isolamento em um território. Exemplos deste fenômeno ocorreram na Alemanha nazista e na África do Sul à época do apartheid.

Genocídio

A definição de genocídio pode ser encontrada no artigo nº2 da Convenção de Viena sobre Genocídio (1948), indicando ações no sentido de dizimar de forma parcial ou total um grupo de acordo com a sua nacionalidade, religião, raça ou etnia. Uma medida etnocrática feita por meio de um genocídio foi o extermínio dos judeus pela Alemanha nazista. De outro modo, genocídios ocorreram na destruição dos povos ameríndios e africanos nos processos coloniais do século XVI e nas políticas neocoloniais (pós-Segunda Guerra Mundial) protagonizadas por nações como França, Inglaterra, Estados Unidos, entre outras do Ocidente. Resumidamente, é o extermínio sistemático de uma população ou parte expressiva dela.

Diferentes abordagens

Embora exista em diversas culturas, a etnocracia apresenta definição difícil. Isso ocorre devido a algumas de suas características estarem presentes em vários regimes políticos. Pode ser observada em países ocidentais considerados democráticos, mas que rotulam povos de culturas diferentes como ameaças permanentes.

Um exemplo desta prática pode ser visto no preconceito do establishment estadunidense relacionado à entrada de muçulmanos nos EUA. Em outro aspecto, com o desenvolvimento acelerado dos países orientais no século XXI, a representação midiática ocidental negativa de nações como China, Irã e Rússia pode ser vista como etnocrática.

Fontes:

CAMPOS, Raymundo. História da América. São Paulo: Atual, 1982.

BADILLO, Jalil Sued. Igreja e escravidão em Porto Rico no século XVI. In: PINSKY, Jaime et al. (Orgs). História da América através de textos. 5. ed. São Paulo: Contexto, 1994.

https://www.correiobraziliense.com.br/mundo/2021/04/4920041-o-que-foi-o-massacre-de-armenios-que-biden-definiu-como-genocidio.html

https://www.ecsaharaui.com/2019/09/segregacion-y-racismo-que-fue-el.html

https://www.britannica.com/topic/genocide

Arquivado em: Política, Sociologia
Este artigo foi útil?
Considere fazer uma contribuição: