Guerra de Informação

Mestrado em História (UDESC, 2012)
Graduação em História (UDESC, 2009)

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Entende-se como guerra de informação a utilização de dados e informações para se construir algum tipo de benefício sobre um adversário, especialmente sobre um adversário político. A guerra de informação não acontece somente em uma guerra de trincheiras. Ela pode ocorrer entre inimigos dentro de uma mesma nação, entre grupos políticos distintos, entre governo e movimentos sociais. Ela é, em resumo, a utilização de informações para tirar vantagem de um inimigo político.

Dessa forma pode-se compreender que há diversos tipos de utilização de informações: ao conhecer projetos de ações táticas de adversários pode-se utilizá-las no planejamento de ataque. Conhecer os métodos utilizados pelo inimigo também pode ser uma informação de grande valia. Informações divulgadas como forma de propaganda também são aliadas: divulgar ações do Estado, medidas de recrutamento, justificativas e argumentos para conflitos – tudo isso faz parte do que chamamos de guerra de informação. Além de tudo isso pode-se compreender as formas de divulgação de informações falsas ou que sirvam como formas de desmoralizar o adversário como ações da guerra de informação. Ela funciona como uma guerra psicológica, que afeta, principalmente, o que se conhece ou não do inimigo e tanta se atuar nas suas fraquezas.

No nosso tempo as informações são fundamentais para governos e nações. Isso porque a internet e as redes sociais fizeram da informação um bem precioso, inclusive as informações falsas. Assim, as informações disseminadas no mundo virtual são elementos importantes no jogo político nacional e internacional. Da mesma forma, a imprensa e as mídias de forma geral – empresas jornalísticas – acabam atuando como um quarto poder nos estados nacionais, isso porque, tem acesso às informações importantes, e, também protegem as suas fontes de informação.

Há diversos exemplos de guerra de informação. Os cartazes das primeira e segunda guerra mundial podem se enquadrar nesse conceito. A criação de um Departamento de Imprensa e Propaganda no Brasil por parte de um governo autoritário e suas ações também. A disseminação de informações falsas ou mesmo de julgamentos morais via imprensa como parte de estratégia militar para atingir os grupos que contestavam a Ditadura Militar no Brasil também são outros exemplos da utilização do conceito. Por fim, e mais evidente no nosso tempo, a disseminação de informações falsas – as chamadas fake News – também entram nesses exemplos.

Os cartazes de guerra, se já na Primeira Guerra Mundial, seja na Segunda Guerra Mundial, podem ser tratados aqui como exemplos clássicos da guerra de informação. Isso porque foi por meio dos cartazes que se disseminavam a ideologia e se construíam os argumentos que faziam das outras nações adversárias políticas.

No caso do Brasil um departamento chamado Departamento de Imprensa e Propaganda foi o responsável pela utilização de informações para construção identitária, e para disseminação de informações em contexto de guerra. Até 1942 o país manteve-se neutro em relação ao conflito, e é sabido que Getúlio Vargas tinha inspiração no modelo centralizado de Hitler. Mas, em 1942 passou a apoiar os Estados Unidos e seus aliados e o DIP serviu como arma de informação para divulgar os princípios do Estado Novo varguista e os motivos da tomada de partido e do envio de tropas para o front.

Outro exemplo clássico é a desinformação utilizada por militares durante as ditaduras na América do Sul. Um caso emblemático é a divulgação da morte de Vladmir Herzog, jornalista, como suicídio dentro do DOI-CODI, em São Paulo. A divulgação da fotografia do jornalista pendurado pelo pescoço com um cinto correu o mundo e foi entendida como uma farsa montada pelos militares. Da mesma forma eles usavam do julgamento moral sobre militantes como forma de difamá-los e desonrá-los.

Por fim cabe destacar a utilização de máquinas de disparo de fake News ou notícias falsas com intenções políticas e eleitoreiras. Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos da América, é um dos maiores utilizadores dessa estratégia na guerra de informação. A pandemia da COVID-19, inclusive, tem sido agravada pelo compartilhamento em massa de notícias falsas que servem como palanque político e não contribuem para com a promoção da saúde.

Referências:

GAMA NETO, Ricardo Borges. Guerra cibernética/guerra eletrônica. Conceitos, desafios e espaços de interação. In: Revista Política Hoje, v. 26, n. 1, 2017.

SCHWARCZ, Lilia; STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

DW. Estudo Aponta Trump como o maior disseminador de fake News sobre o COVID-19. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/estudo-aponta-trump-como-maior-disseminador-de-fake-news-sobre-covid-19/a-55138056 Acesso em 29 de janeiro de 2020.

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