História do Afeganistão

Mestre em História Comparada (UFRJ, 2020)
Bacharel em História (UFRJ, 2018)

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O Afeganistão é um país localizado no centro-sul da Ásia, fronteiriço com a Índia, o Irã e o Paquistão. Com uma população de cerca de 33 milhões de habitantes e área similar ao território da França, é um país de grande diversidade étnica. Dentre elas, as principais etnias são os pashtuns e os tadjiques. Os afegãos são majoritariamente (99,7%) muçulmanos.

O país como o conhecemos foi criado no final do século XIX, mas ocupa um território de história milenar. Seus primeiros habitantes datam de 100.000 anos a.C. e, desde então, fez parte de diversos impérios. As consequências desses processos históricos estão ligadas aos eventos da história mais recente do Afeganistão, marcada pela Guerra do Afeganistão (1979–1989), por conflitos civis, o surgimento do Talibã e a ocupação estadunidense (2001–2021).

Pré-história ao século XVIII

Há cerca de 100.000 anos, o território afegão era ocupado pelos seus primeiros habitantes. Na Idade de Bronze seus habitantes realizavam trocas comerciais com a Mesopotâmia e o Egito, formando os primeiros assentamentos humanos na região.

Desde o século VII a.C até o século XVIII d.C, a área foi ocupada por diferentes povos e civilizações estrangeiras. A razão está na sua localização estratégica, que conecta três grandes regiões: a Índia, a Ásia central e o planalto iraniano.

Entre 700 a.C e 300 d.C, os impérios dos persas aquemênidas, de Alexandre, o Grande e dos nômades cuchãs dominaram, sucessivamente, a região. Do século II ao VII, o território foi disputado pelos persas e os hunos.

A partir do século VII, no contexto da jihad, os muçulmanos se expandiram pela Ásia. Após resistência local, dominaram o Afeganistão entre os séculos IX e X. Essa hegemonia é brevemente colocada à prova pelo Império Mongol, no século XIII.

Em 1526, surge uma nova potência regional, o Império Mogol de origem mongol e turca. Nos 200 anos seguintes, o Afeganistão se dividiu entre eles e os persas. É nesse contexto que os pashtuns, grupo etnolinguístico nativo do Afeganistão, entram em cena.

No século XVIII, os mogols e safávidas estavam em declínio militar e alguns grupos pashtuns se rebelaram. Um deles, os khilji, oriundos do leste afegão, atacaram e venceram os safávidas. Ocuparam a capital do império em 1722, mas não conseguiram manter o poder.

Século XVIII-XIX: Guerras Anglo-Afegãs e construção de Estado

Por outro lado, os pashtuns abdalis, oriundos do oeste afegão, formaram o Império Durrani em 1747. Dez anos antes, eles ajudaram o turco Nader Afshar a derrubar o Império Mogol. Após a morte deste, o abdali Amade Cã, então comandante militar, proclamou a parte oriental do império.

As disputas internas após sua morte resultaram na fragmentação do império. Nesse contexto, Doste Maomé Cã funda a dinastia baraquezai e o Emirado do Afeganistão entre 1823–1826. Enquanto lutava para manter seus territórios, o emir tinha de lidar com a ofensiva de outros povos e impérios da região.

A principal acontece em 1839, quando os ingleses tentam conquistar o Afeganistão na primeira das três Guerras Anglo-Afegãs. Esses conflitos iniciam um período de forte intervenção britânica na região. É também durante ele, sobretudo a partir de 1880, que ocorre a formação do Afeganistão como Estado-nação.

Para a sua compreensão, dois aspectos são centrais: a questão geopolítica e o reinado de Abdur Rahman. Pois, enquanto os durrani brigavam entre si, houve a expansão dos britânicos ao sul e dos russos e persas à noroeste. Os britânicos visavam proteger suas posses indianas e, para isso, queriam tornar o Afeganistão um reino “fronteira”.

Abdur Rahman assumiu o trono depois da Segunda Guerra Anglo-Afegã, iniciada pelos britânicos contra o rei anterior. Aliado aos ingleses, Abdur Rahman abriu mão do controle das relações diplomáticas afegãs. Durante seu governo, focou na criação de um Estado nos moldes ocidentais, realizando reformas no exército, nas leis e estrutura do governo.

Política e sociedade no século XX

Durante o século XX, os sucessores de Abdur Rahman tiveram dificuldade em estabelecer um poder centralizado tal qual o seu, teórica e praticamente. Amanullah, filho e sucessor de Abdur, falhou ao tentar realizar uma modernização no Afeganistão. Inclusive, seu mandato, de 1901 a 1929, acarretou uma breve guerra civil.

O período entre 1929 e 1978 apresentou uma nova fase para o Afeganistão. Os irmãos Musahiban e filhos estabeleceram uma época onde conflitos internos e externos foram evitados. Além disso, em 1963, quando Zahir Shah ascende ao poder, é institucionalizada uma nova Constituição, limitadora do poder político da população. Nesse contexto mais autoritário, o país vivenciou um período de rápido desenvolvimento.

A última fase do século engloba os anos de 1978 a 2001. Esta, caracterizada pela instabilidade interna e externa na região. Em 1978, o Partido Democrático do Afeganistão (PDPA) realizou um golpe de Estado e declarou a criação de um regime socialista. Entretanto, diante de sua instabilidade e fracasso iminente, a União Soviética invadiu o Afeganistão em 1979, visando fortalecê-lo e permaneceu até 1989.

Esse período é conhecido como a Primeira Guerra do Afeganistão, caracterizada pela disputa de poder entre o PDPA, aliado à URSS, e os grupos rebeldes. Dentre eles, os mujahidins, aliados aos EUA. Importante ressaltar que o contexto de Guerra Fria foi marcado pelo apoio estadunidense a grupos contrários à URSS, e vice-versa, em diversas partes do mundo.

Com o fim da União Soviética, os grupos opositores se fragmentaram disputando poder entre eles. Em 1994, o Talibã, um movimento religioso fundamentalista que reivindicava a restauração em nome do Islã, gradualmente, ascendeu ao poder. Em 1999, ele já controlava todo o Afeganistão, menos a região nordeste.

Com o ataque às Torres Gêmeas realizado pela Al-Qaeda, em 2001, os EUA invadiram o Afeganistão com a premissa de capturar o líder do atentado, Osama bin Laden.

O Afeganistão no século XXI

A ocupação estadunidense iniciada em 2001 ganhou, lentamente, outros aliados ocidentais, como a França e o Reino Unido. As tropas conseguiram retirar o Talibã do poder e instaurar um novo governo em Cabul. No entanto, também foram responsáveis pela Segunda Guerra do Afeganistão (2001–2021), a qual envolveu as forças ocidentais instauradas no país e os grupos fundamentalistas, como o Talibã.

A captura e morte de bin Laden, em 2011, iniciou um processo de retirada do exército estadunidense do território afegão, finalizado em julho de 2021. Contudo, a retirada das tropas contribuiu para a retomada do poder do Talibã sob o Afeganistão, inaugurando uma nova fase na história do país.

Leia também:

Bibliografia:

Barfield, Thomas. “Afghanistan: A Cultural and Political History”. Princeton: Princeton University Press, 2010. 389 p.

Weinbaum, Marvin G.; Ali, Mohammad, Dupree, Louis, Petrov, Victor P., Allchin, Frank Raymond and Dupree, Nancy Hatch. “Afghanistan”. Encyclopedia Britannica. Disponível em: https://www.britannica.com/place/Afghanistan. Acesso: 16/11/21.

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