Nova figuração brasileira

Graduada em Artes-Dança (Unicamp, 2018)

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A década de 1960 é marcada no mundo todo como a revalorização da arte figurativa em contraponto ao abstracionismo que prevalecia até o momento. Todavia, essa nova fase da figuração agregava outros elementos, tal como figuras geométricas, linhas, setas, caligrafias, entre outros. Assim, em 1961, o crítico francês Michel Ragon nomeia esse período como nouvelle figuration, traduzido para o português como Nova Figuração.

No Brasil, esse movimento se consolidou como um primeiro passo para a introdução da arte contemporânea no país ao ser uma união de diferentes tendências artísticas com um fundamento comum. Dessa forma, dado o à Ditadura Militar instaurada no país no período, a Nova Figuração vem carregada de posicionamentos político-ideológicos.

O movimento artístico utiliza, portanto, um novo olhar para a figuração, a linguagem gráfica e as imagens midiáticas e do cotidiano como forma de crítica ao regime militar e os problemas socioeconômicos.

A Mostra “Opinião 65”, que aconteceu no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro em 1965, consolida a Nova Figuração Brasileira, ao reunir grandes nomes nacionais e internacionais. O objetivo dessa exposição foi fortalecer a ideia de que o abstracionismo vigente levanta questões individuais do próprio artista, enquanto a retomada da figuração traz preocupações de um povo.

Relação com a Pop Art

Muitos chegam a chamar o movimento da Nova Figuração no Brasil como a Pop Art Brasileira, entretanto, apesar do primeiro ter sido amplamente influenciado pelo segundo, algumas características os diferem.

Em contraponto com o Brasil, a Pop Art americana tem pouca força no quesito posicionamento político concentrando suas críticas na sociedade de consumo. Todavia, a estética do movimento artístico foi amplamente adotada pela Nova Figuração. Usa-se muitas cores vivas, colagens e ícones simbólicos, além de uma forte referência à estética das histórias em quadrinhos.

Além disso, o Pop americano está amplamente conectado com a luxúria de Hollywood. Um exemplo é o símbolo da Pop Art, a obra Marilyn de Andy Warhol, que homenageia a atriz mundialmente famosa, Marilyn Monroe. Contudo, no Brasil, o Pop está intimamente ligado ao popular, às mazelas do povo brasileiro. Isso é visto na obra “Lindonéia, a Gioconda dos Subúrbios” (1966) de Rubens Gerchman, onde a inspiração é uma mulher do subúrbio que foi assassinada.

Antônio Dias

Antônio Dias é um importante artista da Nova Figuração no Brasil. Ele trabalha com texturas e relevos em suas obras, dando a elas, muitas vezes, um caráter de escultura.

Suas temáticas exploram o sombrio, o violento e o grotesco da década de 60. Logo, é comum encontrar elementos como explosões, caveiras, pedaços do corpo humano e sangue em suas criações.

Como obras marcantes do período destaca-se: “Nota sobre a Morte Imprevista” (1965) e “Vencedor?” (1965).

"Nota sobre a morte imprevista".

Rubens Gerchman

Dos artistas da Nova Figuração, Rubens Gerchman é aquele que mais dialoga com a Pop Art ao aderir elementos da cultura de massa em suas obras. Mesmo assim, o artista não anula a cultura brasileira, trazendo elementos do cordel e do rococó brasileiro.

Gerchman demonstra ter uma preocupação com a organização espacial da obra, resultado de uma forma racional de pensamento acerca da representação. Algumas de suas obras mais famosas são: “O Rei do Mau Gosto” (1966) e “Os desaparecidos” (1968).

Claudio Tozzi

Claudio Tozzi é um artista que ao longo de sua carreira está constantemente experimentando novas formas de fazer arte. Discutindo questões urbanas e políticas, o artista usou a técnica da serigrafia por um período de tempo. Tozzi avança em suas pesquisas, incorporando novas relações cromáticas, formas geométricas, texturas e volume.

Duas obras de destaque são: “Eu Bebo Chopp e Ela Pensa em Casamento” (1968) e o painel “Guevara, Vivo ou Morto” (1967).

Referência Bibliográfica:

ANTONIO Dias. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa45/antonio-dias. Acesso em: 16 janeiro de 2022. Verbete da Enciclopédia.

CLAUDIO Tozzi. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível em: Acesso em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa8528/claudio-tozzi. 16 janeiro de 2022. Verbete da Enciclopédia.

FERNANDES, T. Revisitando a Nova Figuração dos anos 1960: Dias, Barros e Gerchman. Disponível em: <https://nuvemcritica.com/2018/06/01/revisitando-a-nova-figuracao-dos-anos-1960-dias-barros-e-gerchman/>. Acesso em: 16 jan. 2022.

NEOFIGURAÇÃO. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2022. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3813/neofiguracao. Acesso em: 16 janeiro de 2022. Verbete da Enciclopédia.

TATE. New Figuration. Disponível em: <https://www.tate.org.uk/art/art-terms/n/new-figuration>. Acesso em: 16 jan. 2022.

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