Aves migratórias

Graduação em Ciências Biológicas (UNIFESP, 2014)

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As aves migratórias são um grupo de aves que realizam migrações. Migração é o movimento direcional em massa de indivíduos de uma determinada espécie que se desloca da área de reprodução para áreas de alimentação e descanso em uma determinada época do ano. Em outra época do ano, os animais retornam para suas áreas de reprodução, repetindo esse ciclo anualmente. Esse fenômeno é amplamente difundido entre as aves e tem como uma das causas a oferta de alimento sazonalmente disponível. Nas regiões mais frias, a intensidade de luz diária tem sido indicada como um fator que estimula o movimento de migração. Já nas regiões tropicais, onde há pouca variação no fotoperíodo, fatores como a precipitação e, consequentemente a floração e a frutificação, podem servir como estímulo para as migrações. As aves migratórias são subdivididas em três grupos: as do Hemisfério Norte, do Hemisfério Sul e Neotropicais. As que vêm do Hemisfério Norte são consideradas grandes migrantes, pois cruzam hemisférios, voando mais de 20 mil quilômetros.

Estes deslocamentos, que podem cobrir metade do globo terrestre, exigem resistência e habilidade. Antes da migração, as aves passam por um período de alimentação intensa e de engorda pré-migratória. A gordura é o principal estoque energético para os animais nesse período, e seus depósitos na cavidade do corpo e nos tecidos subcutâneos aumentam dez vezes, alcançando de 20% a 50% da massa corpórea não gordurosa. A orientação e navegação necessárias para que esses animais encontrem o caminho são complexas e baseiam-se em muitas indicações sensoriais, como localização pela luz do sol, diferentes odores do ar, magnetismo e o movimento das estrelas. As distâncias percorridas variam de acordo com cada espécie, sendo que podem ocorrer variações no comportamento migratório. Se ao longo das movimentações ocorrem eventos que possam causar grandes mortalidades, como a descaracterização da área por drenagem, contaminação por óleos combustíveis ou redução da quantidade e acessibilidade aos recursos alimentares, as populações rapidamente respondem de forma negativa.

A migração precisa gerar um ganho muito alto para a ave, pois é um fenômeno energeticamente custoso. Para algumas espécies de aves, por exemplo, a fonte de alimento não está disponível durante o inverno e os benefícios da migração são muito claros. Já para outras espécies, o retorno energético consiste na economia da energia que gastariam para manterem seu metabolismo no estresse térmico do ambiente que estavam. Para outras ainda, a principal vantagem da migração é a reprodução durante o verão, quando os recursos são abundantes e as aves têm mais tempo para forragear, devido aos dias mais longos. Um dos principais riscos da migração é a presença de predadores que se alimentam dos animais exaustos que percorreram longas distâncias. Assim, é comum migrantes viajarem em grupos para ter menos riscos de serem capturados.

De todas as aves que realizam extensas migrações, a campeã parece ser a andorinha-do-mar do Ártico, que percorre 18.000 quilômetros no fim do verão ao abandonar as costas árticas e se dirigir às costas antárticas, onde passa o inverno para se alimentar. Na primavera retorna aos seus locais de reprodução no Ártico, percorrendo então a mesma distância de uma volta completa em torno da Terra.

Andorinha-do-mar do Ártico. Foto: Arto Hakola / Shutterstock.com

Os beija-flores de garganta vermelha, Archilochus colubris, são os menores endotermos migrantes e também possuem um desempenho impressionante no quesito migração. Realizam um voo, sem parar, de 800 quilômetros através do Golfo do México. Eles voam por volta de 40 quilômetros por hora cruzando o Golfo do México em cerca de 20 horas.

Beija-flor de garganta vermelha. Foto: Steve Byland / Shutterstock.com

Bibliografia:

Pough, F. Harvey; Janis, Christine M. & Heiser, John B. - A Vida dos Vertebrados- 4º Edição, Atheneu Editora São Paulo, 2008

Maria Alice S. Alves- Sistemas de migrações de aves em ambientes terrestres no Brasil: exemplos, lacunas e propostas para o avanço do conhecimento- Revista Brasileira de Ornitologia 15 (2) 231-238, 2007

Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade- Relatório Anual de Rotas e Áreas de Concentração de Aves Migratórias no Brasil, 2014

Alessandro Pacheco Nunes & Walfrido Moraes Tomas- Aves Migratórias Ocorrentes no Pantanal: Caracterização e Conservação- ISSN 1517-1981, 2004

Cynthia de Oliveira Pinto- As Grandes Migrações Continentais- Monografia apresentada à Faculdade de Ciências da Saúde do Centro Universitário de Brasília como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Licenciado em Ciências Biológicas, 2002

Alessandro Pacheco Nunes & Walfrido Moraes Tomas- Aves migratórias e nômades ocorrentes no Pantanal- Embrapa Pantanal Corumbá, MS, 2008

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