Cuidado parental

Por Paulo Henrique Pinheiro Ribeiro

Mestre em Zoologia (UESC, 2013)
Graduado em Ciências Biológicas (UEG, 2010)

Categorias: Etologia
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Na natureza, o principal objetivo de cada espécie e propagar sua carga genética, ou seja, passar seus genes adiante, e a única forma de se fazer isso, é tendo filhotes. Os filhotes nascem frágeis e na maioria das vezes indefesos, logo, em vários casos, é necessário que os pais permaneçam por perto, cuidando dos filhotes, até que esses estejam prontos para viverem sozinhos. A esse cuidado demandado pelos pais, nós damos o nome de cuidado parental.

No entanto, não são todas as espécies que apresentam esse comportamento, o que nos leva a pensar que estão indo contra seu propósito evolutivo, uma vez que deixam seus filhotes por sua conta assim que nascem, correto? Errado. Na natureza, existem diversas estratégias comportamentais, e muitas vezes, o que garante sucesso evolutivo para uma espécie pode não garantir para a outra. Antes de falar de cuidado parental, precisamos entender a seleção r/k. Existem, basicamente, duas estratégias reprodutivas no que diz respeito ao trato com os filhotes a estratégia “r” e a estratégia “k”, e as espécies que utilizam cada uma dessas estratégias são chamadas respectivamente de “r estrategistas” ou “k estrategistas”. Falaremos separadamente sobre cada uma delas:

Espécies r estrategistas

As espécies “r estrategistas” são as que investem em uma prole grande, ou seja, tem muitos filhotes de uma só vez, mas que não investem em cuidado parental. Basicamente, a estratégia é usar as energias para ter um número muito grande de filhotes de uma só vez, que nascem praticamente independentes, para que haja uma chance maior de alguns membros dessa ninhada chegar à vida adulta. Durante o processo de desenvolvimento, vários desses filhotes não sobreviverão, mas se uma pequena porção atingir o estágio reprodutivo a espécie terá cumprido a sua propagação gênica. Sendo assim, a espécie poupa o tempo e a energia que demandaria durante o cuidado parental encurtando assim os intervalos entre um período reprodutivo e outro.

A maioria dos “r estrategistas” são invertebrados, como mosquitos, aranhas, borboletas, caranguejos, no entanto, muitas espécies de vertebrados também apresentam essa adaptação. Os casos mais conhecidos são dos peixes, onde a maioria das espécies é r estrategistas, apesar de alguns, mesmo com uma ninhada grande, apresentarem cuidado parental. Um outro exemplo bem conhecido é o das tartarugas-marinhas, que podem botar até mais de 100 ovos de uma vez, mas que depois da desova abandonam o ninho e quando os filhotes nascem eles estão à própria sorte.

Ovos de tartarugas-marinhas eclodindo (modelo em resina). Foto: topten22photo / iStock.com

Espécies k estrategistas

As espécies “k estrategistas”, ao contrário, investem em uma prole pequena, raramente passando de cinco filhotes por ninhada, e muito dependentes. Os filhotes das espécies “k estrategistas” nascem sem nenhuma condição de viverem sozinhos, sendo assim, precisam ser cuidados pelos pais até atingirem à independência, ou seja, apresentam cuidado parental.

A maioria dos vertebrados, são “k estrategistas”, como leões, algumas espécies de jacarés, primatas e inclusive, os seres humanos. A estratégia adotada por esses grupos é investir em cuidado parental, uma vez que suas ninhadas são pequenas, até que os filhotes estejam devidamente preparados para enfrentar o mundo sozinhos, o que aumenta sua chance de sobrevivência.

Alguns invertebrados também apresentam cuidado parental, como as espécies de aranhas, como por exemplo a espécie Toxeus magnus, que secreta uma substância para alimentar os filhotes até que eles estejam completamente independentes. O cuidado parental é o que garante a sobrevivência das espécies, perpetuando o sucesso evolutivo das mesmas.

Pinguim protege sua prole. Foto: TasfotoNL / iStock.com

Investir em cuidado parental é algo oneroso, e algumas espécies podem levar anos até que o filhote esteja completamente desenvolvido, como por exemplo os filhotes de elefantes, que, no caso dos machos, abandonam as manadas somente após quase 10 anos vivendo com as mães. Independente da estratégia utilizada, é importante lembrar que se as espécies estão vivas até hoje, tanto estratégia r quanto k estão funcionando, logo, não existe uma estratégia melhor que a outra, apenas adaptações diferentes.

Referências

Alcock, J. 2011. Comportamento Animal – Uma Abordagem Evolutiva. 9a Edição. Artmed

Gotelli, N. J. 2009. Ecologia.4ª.ed Planta Editora.

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