Lagartos

Mestre em Zoologia (UESC, 2013)
Graduado em Ciências Biológicas (UEG, 2010)

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Lagarto, calango, labigó, dependendo de onde você mora no Brasil, esses animais vão receber diferentes nomes populares que, no entanto, pertencem à mesma linhagem. Os lagartos, assim como as serpentes, pertencem à linhagem Lepidosauria (Lepisidos = escamas; sayros = lagartos), uma linhagem irmã das aves, crocodilos e dos dinossauros não-avianos. Juntamente com as serpentes, eles compõe a ordem Squamatta, que é um termo em latim para plural de escamado, se referindo à principal característica externa dos lagartos que é ter a pele coberta por escamas. Uma das principais diferenças entre lagartos e os répteis da linhagem dos dinossauros e das aves é em relação ao posicionamento dos membros, nos lagartos eles ficam posicionados lateralmente ao corpo enquanto nos répteis da linhagem dos dinossauros e das aves, os membros ficam posicionados abaixo do corpo.

Atualmente existem cerca de 5500 espécies de lagartos e essas estão distribuídas em quatorze famílias que são: Amphisbaenidae (com 164 espécies), Lacertidae (306), Teiidae (135), Gymnophtalmidae (231), Anguidae (118), Helodermatidae (2), Varanidae (73), Iguanidae (38), Phrynosomatidae (137), Dactyloidae (377), Chamaleonidae (187), Agamidae (416), Scincidae (1503) e Gekkonidae (881). Dessas famílias, as únicas em que nenhuma espécie ocorrem no Brasil são Agamidae, Chamaleonidae, Phrysonomatidae, Varanidae, Helodermatidae e Lacertidae.

Características e origens

Os lagartos são tetrápodes, ou seja, vertebrados com quatro membros locomotores e, apesar de algumas linhagens atuais possuírem apenas dois ou nenhum membro locomotor, os ancestrais de todas as espécies de lagartos são tetrápodes. A maioria das espécies de lagartos possuem a anatomia externa similar, com a cabeça em formato triangular, quatro membros posicionados ao lado do corpo e cauda longa. O tamanho das espécies pode variar de menos de 2 centímetros, na espécie Sphaerodactylus ariasae encontrada na República Dominicana, até os enormes dragões-de-Komodo (Varanus komodoensis) que pode atingir até 3 metros de comprimento e pesar mais de 70 kg. Em tempos pré-históricos, a Austrália abrigou um dos maiores lagartos já existentes, o Megalania (Varanus priscus), que podia atingir mais de 7 metros e pesar mais de 1000 kg. Hoje em dia, no entanto, cerca de 80% das espécies de lagarto são pequenas.

Apesar de parecer uma serpente, esse é um lagarto da espécie Blanus cinereus. Foto: TheRocky41 / Shutterstock.com

Os fósseis de lagartos mais antigos datam do Mesozóico, um período que foi completamente dominado por uma linhagem irmã dos lagartos, os Archosauria, que compreendia os dinossauros não-avianos e avianos. Por isso, os lagartos enfrentaram muita competição por alimento, o que é uma das hipóteses para o tamanho reduzido da maioria das espécies bem como a alimentação insetivora, pois competir por espaços e presas menores era mais fácil e factível para as linhagens de lagartos da época. Com o tempo e a extinção de dinossauros eles atingiram tamanhos maiores, até chegar no já mencionado Megalania.

Fóssil de um Megalania em museu da Australia. Foto: Danny Ye / Shutterstock.com

Algumas espécies de lagartos possuem dois ou nenhum membro, mas isso não significa que eles não são tetrápodes. Os ancestrais dos lagartos foram tetrápodes e essa condição apoda, ou seja, sem membros, é um caracter mais recente, derivado de um ancestral com quatro membros. A família Amphisbaenidae, por exemplo, é composta somente por espécies sem membros. Existe uma espécie de lagarto da América Central, o Bipes biporus, que possui somente os membros dianteiros, os quais ele usa para adentrar em buracos. Espécies apodas são fossoriais, ou seja, vivem em baixo da terra, e provavelmente essa característica apoda foi selecionada ao longo da história evolutiva por esse fato.

Comportamento

A maioria das espécies de lagartos são terrestres, habitando terra firme, no entanto também é possível encontrar várias espécies com hábitos arborícolas e inclusive semi-aquaticos, como as iguanas-marinhas-de-Madagascar Amblyrhynchus cristatus, que se alimentam de algas marinhas, podendo mergulhar e ficar vários minutos submersa. Lagartos são ectotérmicos, o que significa que eles precisam de ajuda da temperatura do ambiente para regularem a sua própria, sendo assim, é bem comum avistar lagartos nas horas mais quentes do dia sobre rochas absorvendo calor. Muitas espécies possuem hábitos noturnos e são extremamente adaptados a vários tipos de ambientes, não ocorrendo apenas nos pólos e áreas muito frias. São extremamente adaptatos para pântanos e desertos.

As iguanas-marinhas-de-Madagascar podem passar vários minutos à até 10 metros de profundidade. Foto: Andy Deitsch / Shutterstock.com

Os lagartos se locomovem movimentando os membros, no caso das espécies apodas, o rastejamento é feito por contrações musculares, fazendo com que o animal deslize pelo solo. Existem, no entanto, algumas espécies com comportamentos locomotores bastante peculiares, como o dragão-voador (Draco volans), que possuem na lateral do seu corpo extensas projeções de pele, que dá a eles a capacidade de planar quando saltam de uma árvore para a outra, amplificando a sua capacidade de deslocamento. Algumas espécies podem se locomover usando somente as patas traseiras quando se sentem ameaçadas, como o teiú (Salvator merianae) e lagartos do gênero Enyalius. Outras espécies, como a mais famosa delas, o lagarto-Jesus-Cristo (Basiliscus basiliscus), também usam somente as patas traseiras em uma situação de fuga, só que nesse caso, eles conseguem inclusive atravessar pequenos cursos d’água corrento. Sim, correndo sobre a água.

As longas projeções de pele do dragão-voador permitem que ele plane quando salta de uma árvore para a outra. Foto: Corina Sturm / Shutterstock.com

Hábitos alimentares

A grande diversidade dos lagartos também é refletida na sua alimentação. A maioria das espécies é insetívora, ou seja, se alimentam de insetos, no entanto existem espécies completamente herbívoras, como as iguanas e carnívoras com grande potencial de predação, como os dragões-de-Komodo, que podem predar animais grandes como cabras e até búfalos-asiáticos. Algumas espécies, como os membros da família Helodermatidae produzem veneno e os usam para matar as presas, sendo o mais conhecido o monstro-de-Gila (Heloderma suspectum). Uma outra espécie que possui veneno é o dragão-de-Komodo. Ele morde os animais e depois segue seu rastro até encontra-los mortos, e aí então se alimentam da carcaça.

A maioria dos lagartos é insetívora. Foto: Ben Edlich / Shutterstock.com

Reprodução

Lagartos são ovíparos, ou seja, botam ovos e deles saem os filhotes. Sua fecundação é interna e a reprodução é sexuada, o que significa que os gametas masculinos são injetados dentro do aparelho reprodutivo da fêmea e ali são fecundados. Uma espécie em particular, o Aspidoscelis uniparens se reproduzem por partenogênese, ou seja, os filhotes nascem à partir de um óvulo não fecundado. Nessa espécie não existem machos, apenas fêmeas.

Lagartos são ovíparos, o que significa que seus filhotes nascem de ovos. Foto: Rashid Valitov / Shutterstock.com

Para aprofundar: se quiser saber mais sobre lagartos e répteis em geral, assista o documentário “Animais de sangue frio” produzido pela BBC com narração de David Attenborouhg.

Referências:

Pough, J. H.; C. M. Janis; J. B. Heiser.2008. A vida dos Vertebrados. 4ª ed. São Paulo, Atheneu.

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