Espécie

Mestre em Ecologia e Evolução (Unifesp, 2015)
Graduada em Ciências Biológicas (Unifesp, 2013)

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Espécie (do latim: species, “tipo” ou “aparência”) é unidade básica do sistema que usamos para classificar os organismos, a taxonomia. A taxonomia agrupa os organismos vivos em níveis hierárquicos que compartilham similaridades, as categorias taxonômicas. Espécies são a unidade fundamental dessas categorias, que por sua vez são organizadas em grupos mais abrangentes (gênero, família, ordem, classe, filo, reino e domínio são os principais).

No dia a dia nós fazemos distinções entre os organismos intuitivamente. É fácil perceber que a cebola e o alho são espécies distintas, uma vez que diferem em sua aparência. Mas nem sempre as diferenças visuais diferenciam espécies: você vê o brócolis e a couve-flor como tipos diferentes, mas eles são tratados como uma única espécie, Brassica oleracea. Então, o que diferencia uma espécie de outra? É o homem quem as delimita arbitrariamente ou os organismos são de fato divididos em entidades reais?

Praticamente todos os biólogos concordam que espécies são unidades naturais fundamentais, no entanto sua definição tem sido um dos temas centrais da biologia, não havendo um consenso universal. Ao longo dos últimos séculos o entendimento sobre o que é uma espécie mudou bastante, partindo de uma visão baseada essencialmente na aparência (conceito morfológico), até chegar a conceitos mais elaborados que refletem a história evolutiva dos organismos. Atualmente, existem mais de 25 conceitos, mas a maior parte deles possui limitações.

O mais difundido é o conceito biológico de espécie, que define espécies como grupos de populações que estão potencialmente isolados reprodutivamente de outros. A justificativa para definir espécies em termos de isolamento reprodutivo é que este é um evento-chave no processo de especiação. Assim, teoricamente, uma vez que o isolamento reprodutivo está estabelecido entre duas linhagens, é seguro afirmar que elas se tornaram independentes evolutivamente. No entanto é bastante difícil testar o isolamento reprodutivo na prática e o conceito biológico tem várias limitações. Ele não se aplica, por exemplo, a vários organismos (e.g. espécies assexuadas ou extintas). Além disso, existem espécies que diferem em vários aspectos evidentes e que mesmo assim trocam genes entre si, como é o caso do urso-cinzento e o urso-polar.

Outro conceito que merece destaque é o filogenético. De acordo com ele, uma espécie é a “ponta” de uma filogenia, isto é, o menor grupo diagnosticável de indivíduos que compartilham um mesmo padrão de ancestralidade. A principal limitação deste conceito é determinar qual é o grau de diferença necessário para que espécies sejam consideradas separadas. Um outro exemplo, o conceito ecológico, define espécies em termos do nicho ecológico.

Os diferentes conceitos de espécie (biológico, filogenético, ecológico e muitos outros), no entanto, não são excludentes. Duas espécies estar isoladas reprodutivamente e diferir em morfologia, ecologia etc., satisfazendo assim conceitos diversos, contudo nem sempre todas estas condições estarão presentes.

Uma das fontes de controvérsias no reconhecimento de espécies é que, para a maioria das definições, o conceito (teoria) e a delimitação (prática) não estão claramente separados. Segundo o conceito unificado de espécie (ainda pouco disseminado) a solução para isso seria tratar espécies como linhagens que estão evoluindo separadamente, pois esta seria a única propriedade fundamental de uma espécie e que é compartilhada pelos diversos conceitos existentes. As propriedades fundamentais dos diversos conceitos de espécies existentes (morfologia, isolamento reprodutivo, padrão de ancestralidade, ecologia) são tratadas neste conceito unificado como propriedades secundárias, que servem apenas como critérios operacionais e linhas de evidências para a delimitação de espécies.

Leia também:

Referências:

Species Concepts and Species Delimitation. De Queiroz, K. (2007).

Entendendo a Evolução. IB-USP.

Reece, Jane B. et al. Biologia de Campbell. 10ª Edição. Porto Alegre: Artmed. 2015.

Ridley, Mark. Evolução. 3ª Edição. Porto Alegre: Artmed. 2006

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