Tardígrados

Mestre em Ecologia e Evolução (Unifesp, 2015)
Graduada em Ciências Biológicas (Unifesp, 2013)

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Os tardígrados constituem um filo de pequenos animais invertebrados relacionados com os artrópodes e os onicóforos. Os animais do filo Tardigrada, juntamente com os dos filos Arthropoda e Onychophora, formam um grupo conhecido como Panarthropoda.

Popularmente, os tardígrados são conhecidos como ursos-d’água, graças à sua locomoção, forma do corpo roliça e pernas com garras. Eles possuem, no total, quatro pares de pernas e cada uma possui de quatro a oito garras. Diferentemente dos artrópodes, os apêndices não são articulados.

Graças à sua locomoção, forma do corpo roliça e pernas com garras, os tardígrados são chamados popularmente de ursos-d’água. Ilustração: 3Dstock / Shutterstock.com.

Estes animais microscópicos, que em geral possuem entre 0.1 e 0.5 mm, podem ser encontrados numa ampla variedade de habitats (incluindo oceanos, água doce, ou até mesmo sobre filmes de água que se formam sobre as plantas) e a maior parte das espécies possui distribuição cosmopolita — condição na qual uma espécie é amplamente distribuída pelo mundo. Os tardígrados podem formar agregações extremamente densas, de até 2 milhões de de indivíduos por metro quadrado.

Tal qual os artrópodes, os tardígrados possuem uma cutícula de quitina que é trocada periodicamente (muda). A cutícula destes animais é altamente permeável a água e a gases. As trocas gasosas, inclusive, se dão por toda superfície corporal e os tardígrados não possuem estruturas respiratórias especializadas. O sistema nervoso desses animais também se assemelha ao dos artrópodes, sendo localizado ventralmente e de forma pareada.

Em sua maioria, as espécies de tardígrados se alimentam do conteúdo de células vegetais, as quais são perfuradas por seu aparelho bucal que inclui um estilete protusível. Há também espécies de solo que se alimentam de algas, detritos, nematodos e outros pequenos animais (até mesmo outros tardígrados). Quando ingerido, o alimento passa pela faringe, esôfago, intestino (onde ocorre a digestão), reto e ânus.

Quanto à reprodução, a maior parte das espécies é dióica, mas há também espécies hermafroditas. Geralmente o acasalamento e a postura de ovos ocorrem no momento de uma muda. Na maior parte das espécies terrestres, o macho deposita o esperma diretamente no interior do trato feminino, antes da muda ser completada, e a fertilização ocorre no ovário. Já em algumas espécies aquáticas, o macho deposita o esperma numa cutícula feminina velha contendo ovos.

Uma das características mais marcantes dos tardígrados é a sua resistência a condições adversas, incluindo temperaturas extremas (altíssimas e baixíssimas), ausência de água, ausência de oxigênio, alta concentração de solutos, baixa pressão, elevados índices de radiação etc. Isso ocorre pois, em resposta às condições ambientais, estes animais são capazes de entrar em um estágio de dormência chamado de criptobiose — que pode durar anos —, no qual todos os processos metabólicos ficam interrompidos. Nestas condições, há estudos que mostram que os tardígrados podem sobreviver no espaço e até mesmo sobreviver e se reproduzir após três décadas congelados. Entre as explicações para a resistência extrema dos tardígrados estão a presença de diversos genes de reparação de DNA e também a síntese de uma proteína (descoberta recentemente e apelidada de de DSUP) que se liga ao DNA e age como um escudo contra a radiação.

Referências:

Ruppert, E. et al. Zoologia dos Invertebrados. 7ª ed. São Paulo: Editora Roca. 2005.

Brusca, R. & Brusca, G. Invertebrates. 2nd Edition. Sunderland: Sinauer Associates. 2003.

Hashimoto, T. et al. Extremotolerant tardigrade genome and improved radiotolerance of human cultured cells by tardigrade-unique protein. Nature Communications. 2016.

Pechenik, J. Biologia dos Invertebrados. 7ª Edição. Porto Alegre: Artmed. 2016.

Reece, Jane B. et al. Biologia de Campbell. 10ª Edição. Porto Alegre: Artmed. 2015.

Sadava, D. et al. Vida: A Ciência da Biologia. Volume 2: Evolução, Diversidade e Ecologia. 8ª Edição. Porto Alegre: Artmed. 2009.

Tsujimoto et al. Recovery and reproduction of an Antarctic tardigrade retrieved from a moss sample frozen for over 30 years. Cryobiology. 2016.

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