Comércio triangular

Graduada em História (Udesc, 2010)
Mestre em História (Udesc, 2013)
Doutora em História (USP, 2018)

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Comércio triangular foi o nome atribuído às relações comerciais estabelecidas entre três continentes do mundo: África, Europa e Américas (do Norte, do Sul e Central), entre os séculos XVI e XIX. Os europeus e suas metrópoles como Portugal, Espanha, Inglaterra e França encabeçaram esta forma de exploração e fizeram do mundo atlântico um negócio bastante lucrativo.

O principal elemento do comércio triangular foi o chamado tráfico negreiro, que envolvia o aprisionamento de africanos em seus povos, sua transferência forçada – a diáspora africana – por meio dos navios negreiros e a chegada no novo mundo. Todo esse movimento era organizado por agentes do tráfico, em troca de produtos manufaturados apreendiam e enviavam forçadamente homens e mulheres para serem explorados nas colônias europeias.

O comércio triangular iniciava com a troca de produtos manufaturados como armas de fogo, joias, aguardente, tabaco e tecidos de algodão por homens e mulheres no continente africano, que foram trazidos às Américas e transformados em escravos, sendo trocados por açúcar, tabaco e ouro, produtos estes que eram cedidos pelos senhores de escravos – proprietários de minas ou de terras.

Assim, os nativos africanos traficantes de escravos tinham papel importante nesta forma de comércio, afinal, sem os escravizados as produções de açúcar e tabaco e a exploração das minas não teria sucesso nem seria tão lucrativa.

Aqui no Brasil a questão do comércio triangular é um exemplo bastante emblemático. Com a divisão das capitanias hereditárias e o início da exploração das terras, os portugueses iniciaram a exploração da terra chamada de massapê, uma terra fértil para produção de cana-de-açúcar. Em Pernambuco muitas foram as terras destinadas a este produto e o trabalho nos engenhos era feito por sujeitos escravizados. Quanto mais branco, refinado e puro fosse o açúcar, melhor e mais lucrativo o produto para a Coroa portuguesa.

Já na Bahia o tabaco foi o principal produto produzido. Os mais refinados tinham como destino a Europa, mas os mais grosseiros foram utilizados como moeda de troca para o tráfico negreiro na costa africana. Neste período a cana foi o principal produto explorado por Portugal. O monopólio do açúcar era característico das plantations, sistema baseado na monocultura para exportação, latifúndios e mão de obra escrava.

Para que o monopólio do açúcar funcionasse o mais importante era a garantia de mão de obra. A escravização indígena gerava polêmicas e controvérsias, especialmente com a Igreja Católica. Já a escravização africana não levantava desconfortos morais entre a sociedade, fazendo com que a exploração do trabalho escravo africano fosse aceita com bastante facilidade. Desta forma o lucrativo tráfico de escravos caminhou ao lado do mercado do açúcar e posteriormente da exploração do ouro, garantindo lucros consideráveis a Portugal, no caso do Brasil, e às metrópoles europeias que tantas colônias exploraram no novo mundo.

O caso de Portugal é um exemplo da exploração do comércio triangular. Enquanto mantinha feitorias por toda a costa atlântica africana, explorava as terras das colônias. O lucro – tanto do tráfico como das monoculturas ou da exploração do ouro – ficava com Portugal.

Este sistema mercantil que trocava humanos, explorava sua força de trabalho e investia na exploração das colônias gerava lucros altos tanto para os negociantes africanos, como para as metrópoles e para os comerciantes das colônias. Por este motivo foi um sistema que durou tanto tempo, sendo extinto apenas no século XIX, por iniciativa da Inglaterra.

A exploração das colônias americanas por parte das Coroas europeias baseou-se na exploração de homens e mulheres africanos, que garantiam a força de trabalho nas monoculturas e na exploração de minérios, fazendo do oceano Atlântico um mundo em conexão com três vértices: África, Europa e Américas.

Referência:

SCHWARCZ, Lilia & STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

Arquivado em: Brasil Colônia
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