Peste bovina

Mestre em Ciência Animal (UFG, 2013)
Graduada em Medicina Veterinária (UFG, 2010)

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A peste bovina ou Rinderpest era uma doença viral aguda, altamente contagiosa e letal, que acometia os animais ungulado, principalmente bovinos e bubalinos. Presume-se a existência dessa enfermidade desde a era dos povos egípcios, onde registrou-se muitas mortes coletivas de animais de tração. Essa virose se espalhou por todos os continentes e se tornou uma pandemia de grandes proporções.

A primeira escola de medicina veterinária e também a OIE (Organização Mundial de Saúde Animal) foram criadas em decorrência dos crescentes surtos de Rinderpest, na expectativa de se estudar e compreender melhor a doença, estabelecendo as estratégias de combate à doença. No Brasil, os registros indicam a introdução da doença, no ano de 1921, mas sua manifestação logo foi limitada por ações de sacrifício, controle de trânsito animal, medidas de desinfecção e quarentena.

Em 1994, a FAO (Food and Agricultural Organization of the United Nations) implementou o programa de erradicação da peste bovina do mundo, projeto que foi bem aderido por dirigentes de diversos países. Em 1999, conseguiu-se desenvolver a vacina, a partir do vírus vivo, que foi de suma importância no controle da doença. Finalmente, em 2011, a peste bovina foi declarada como a primeira enfermidade animal erradicada do mundo.

O agente etiológico da doença consiste-se em um vírus da família Paramyxoviridae, gênero Morbillivirus, envelopado, com fita de RNA simples e propriedades biológicas de infectar diferentes órgãos e tecidos, acometendo células hematopoiéticas, epiteliais, mesenquimais, neuroendócrinas. Esse vírus resiste a temperaturas de 56ºC, durante 60 minutos ou a 60ºC, por 30 minutos. Mantém-se estável entre pH 4 e 10. Mas são susceptíveis à solventes lipídicos e desinfetantes à base de hidróxido de sódio (2%), fenol e cresol.

No meio ambiente o Morbilivírus é inativado de forma rápida, devido à sensibilidade à luz e radiação ultravioleta. Mas em baixas temperaturas e em tecidos refrigerados ou congelados permanecem viáveis por longos períodos.

A transmissão da doença se dava por contato direto ou indireto (secreções e excreções) entre animais os infectados e os suscetíveis. Mas a literatura cita que não havia indícios de transmissão vertical ou por aerossóis e fômites. O período de incubação variava de 7 a 21 dias.

Os sinais clínicos apresentados pelos bovinos ou bubalinos incluíam febre alta, anorexia, depressão, taquipneia, taquicardia, congestão das mucosas, descargas oculares e nasais serosas a mucopurulentas, ressecamento do focinho, redução da ruminação, constipação e queda na produção. A doença cursava também com a fase erosiva, em que manifestavam-se lesões necróticas na mucosa oral e a fase gastroentérica, com a presença de diarreia mucosa ou sanguinolenta. Relata-se que a maioria dos animais morriam entre a fase erosiva e a gastrointestinal, mas raramente, quando esses sobreviviam, percebia-se que os sinais regrediam com 10 dias e eles recuperavam-se após 20 dias.

Os ovinos e os caprinos apresentavam a doença de forma mais branda e os sinais incluíam febre, anorexia, secreção ocular moderada, diarreia. Já os suínos não apresentavam a secreção ocular, mas a desidratação pelos sinais gastrointestinais poderiam levar à morte.

Ao exame necroscópico visualizava-se lesões necróticas da mucosa oral disseminadas pelo palato mole, faringe e porção inicial do esôfago; abomaso com a parede espessa, acinzentada ou descolorida; edema e congestão intestinal, engrossamento linear e enegrecimento das cristas das dobras do ceco, cólon e reto; linfonodos aumentados de tamanho e placas de Peyer com necrose linfóide.

Em razão de algumas viroses e enfermidades (aftosa, diarréia viral bovina, febre catarral maligna, estomatite papular, teileriose entre outras), cursarem com sinais semelhantes ao da peste bovina, é importante fazer o diagnóstico diferencial. O diagnóstico definitivo é feito a partir da identificação ou isolamento do vírus em amostras de sangue ou tecidos e as técnicas preconizadas são: detecção de antígenos por imunodifusão em gel de ágar, RT-PCR (reação em cadeia da polimerase com transcrição reversa), neutralização viral, imunoistoquímica e algumas outras.

A peste bovina foi controlada e erradicada por ações de vacinação, vigilância e monitoramento do rebanho e das áreas críticas. As últimas notificações ocorreram em 2007, na África e na Ásia e desde então a doença encontra-se eliminada, mas por ser uma enfermidade de grande impacto econômico, rápida disseminação e alta mortalidade, o foco da era da pós-erradicação é continuar o monitoramento e principalmente reduzir o número de laboratórios que contém o vírus armazenado. A FAO tem oferecido assistência para destruí-lo ou realocá-lo em instalações de alto nível de segurança, de forma a prevenir possíveis acidentes ou, principalmente, seu uso criminoso.

Referências

World Organisation for Animal Health (2013). - RINDERPEST - Aetiology Epidemiology Diagnosis Prevention and Control. OIE, Paris.

Peste Bovina. Registro de doenças infecciosas dos animais. Centro de Segurança Alimentar e Saúde Pública. Universidade do Estado de Iowa, 2008. http://www.cfsph.iastate.edu/Factsheets/es/peste_bovina_rinderpest.pdf

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