Espécies superabundantes

Por Yanna Dias Costa

Graduação em Ciências Biológicas (Unicamp, 2012)
Mestrado Profissional em Conservação da Fauna Silvestre (UFSCar e Fundação Parque Zoológico de São Paulo, 2015).

Categorias: Ecologia
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Além das espécies invasoras, os ambientalistas e estudiosos da conservação biológica tem se preocupado com outro fenômeno: as espécies superabundantes, que apesar de serem nativas (não exóticas), possuem dominância sob as outras espécies locais, se comportando como espécies invasoras, crescendo e se reproduzindo descontroladamente, causando desequilíbrio ecológico.

Causas

As ações humanas sob os ecossistemas naturais, causam a diminuição de cobertura vegetal, fragmentação de habitat e extinções de espécies. Atividades como a extração de madeira, os incêndios, formação de pastos para o gado, herbicidas, entre outros, causam impacto no solo e na vegetação. Quando a flora passa pelo processo de desmatamento, por quaisquer um desses motivos, ela pode se regenerar, começando pelo estágio inicial de sucessão, com plantas que chamamos de pioneiras. Essas são espécies com características evolutivas que as permitem colonizar os ambientes em condições adversas.

Ao decorrer da sucessão ecológica secundária, gradativamente a vegetação vai sendo substituída, graças ao papel ecológico das plantas pioneiras, que possuem estratégias para se desenvolver em locais altamente degradados, fazendo a ciclagem de nutrientes e os tornando disponíveis para o solo. Durante a sucessão, novas espécies conseguem se desenvolver, com as novas condições daquele ambiente, transformado pelas pioneiras, e assim sucessivamente, até o alcance de uma floresta madura, que chamamos de clímax. Algumas dessas espécies pioneiras, que lidam bem com alta luminosidade, vento, solos mais pobres, menos água, são beneficiadas nos estágios iniciais e se reproduzem muito, chegando ao ponto de ser prejudicial ao desenvolvimento de outras plantas.

A principal causa da ocorrência de espécies superabundantes, são as alterações antrópicas, nos ambientes naturais. O mesmo se aplica para a fauna, algumas espécies animais de hábitos generalistas e oportunistas toleram variações de condições ambientais e se dão bem em ambientes antropizados, com o aumento de suas populações.

Consequências

As espécies dominantes possuem características que as beneficiam e as tornam melhores competidoras: conseguindo nutrientes e fotossíntese de forma mais eficiente, alta tolerância aos distúrbios e ao estresse ambiental, ciclo reprodutivo rápido, fácil dispersão, altas taxas de crescimento e capacidade de regeneração pós herbivoria, no caso das plantas.

As consequências da superabundância de algumas espécies é o desequilíbrio ecológico. Por exemplo, as trepadeiras (plantas que necessitam de um suporte para viver) são plantas importantes na composição, estrutura e funcionamento dos ecossistemas florestais, mas algumas espécies são favorecidas por distúrbios antrópicos e se tornam superabundantes. Seu crescimento desequilibrado impacta na sobrevivência de árvores, causando limitações no crescimento e reprodução delas. Em áreas de sucessão secundária, algumas espécies de trepadeiras podem prejudicar este processo, tendo a necessidade de intervenção humana, com manejo de espécies, para restauração florestal.

Na fauna, as espécies dominantes também possuem maior capacidade de competição por recursos e sucesso contra predação e doenças. Um ambiente deturpado terá uma fauna menos especialista, como menor quantidade de aves frugívoras e insetívoras. Isso contribui para diminuição dos serviços ecossistêmicos prestados, baixando a taxa de dispersão de sementes, por exemplo. Esses fatores levam às mudanças na dinâmica e funcionamento das comunidades, com empobrecimento da diversidade biológica.

Um outro exemplo são os predadores de sementes pré-dispersão e pós-dispersão. Em ambos os casos, diminui-se o crescimento de novas plantas, através de atividades de animais que predam as suas sementes, como formigas, algumas aves e mamíferos. Em áreas muito degradadas há diminuição de animais de grande e médio porte e aumento da população de pequenos animais, como os roedores. Nesses pequenos fragmentos, há superabundância de pequenos roedores, o que implicará em pressões diversas sob outras plantas, dificultando a sobrevivência de algumas espécies de flora.

As espécies superabundantes podem levar à redução da diversidade biológica natural, alterando a composição de espécies e suas abundâncias relativas e até mesmo levar outras espécies à extinção.

Referências:

http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252009000100012&nrm=iso

https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/91/91131/tde-16042015-105326/publico/Vanessa_Jo_Girao_versao_revisada.pdf

https://www.unifal-mg.edu.br/ppgca/system/files/imce/Defesa/Disserta%C3%A7ao_MarianePZanatta.pdf

https://bdtd.inpa.gov.br/bitstream/tede/1946/5/Disserta%C3%A7%C3%A3o_Jos%C3%A9%20Guedes%20Fernandes%20Neto.pdf

https://revistapesquisa.fapesp.br/2018/02/15/as-engrenagens-da-floresta/

https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/119178/galbiati_la_tcc_rcla.pdf?sequence=1

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