Pensamento Econômico no Brasil

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Com o termo "Pensamento Econômico no Brasil" busca-se realizar uma recolha dos mais importantes nomes e correntes de pensamento que prevaleceram no cenário nacional através dos tempos. Através da análise de seus principais personagens e das teses defendidas pelos mesmos é possível refazer a trajetória econômica seguida pelo Brasil desde o período colonial até a atualidade.

No Brasil colônia foram poucas as obras dedicadas à matéria, mesmo porque a economia estava voltada exclusivamente ao comércio externo, além do fato das limitações impostas pelo pacto colonial tornarem qualquer exercício intelectual relacionado às ciências econômicas deveras extravagante. Ainda é importante notar que nesse período o Brasil não era visto interna nem externamente como uma unidade, existindo "ilhas" isoladas de desenvolvimento econômico, como afirmava Celso Furtado. Deste período, o autor que certamente merece destaque é o padre André João Antonil (nascido Giovanni Antonio Andreoni em Lucca, na Itália), amigo do padre Antônio Vieira e radicado no Brasil, tendo passado aqui o restante de sua vida no exercício religioso e na pesquisa dos mais diversos aspectos da sociedade local. Do fruto de suas observações surgiu em 1711, em Lisboa, "Cultura e Opulência do Brasil", onde o padre Antonil abordava a economia açucareira, do tabaco, exploração de ouro e prata, bem como a criação de gado bovino. O livro seria proibido pelo Conselho Ultramarino Português, temeroso de que as descrições pormenorizadas do padre servissem aos interesses de possíveis invasores.

Outro personagem de destaque surgiria apenas no início do século XIX. Seu nome era José da Silva Lisboa, o Visconde de Cairú, que, influenciado pelas ideias relativamente recentes de Adam Smith, publica entre outras obras, um "Princípio de Direito Mercantil", primeira publicação em língua portuguesa sobre economia política. Faleceu em 1835.

Após o Visconde de Cairú a matéria de economia entra em franco declínio do qual parece não se recuperar. No círculo dos intelectuais brasileiros, o que atraía mais interesse eram as ciências jurídicas. Veremos um renascimento nas discussões econômicas, bem como o surgimento de personalidades dedicadas ao tema justamente quando o Brasil empreende o esforço de se tornar um país industrializado, deixando de ser uma economia largamente baseada na agricultura. Apesar das primeiras indústrias terem surgido na metade do século XIX, muito por esforço de Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá, o comércio, indústria e as atividades econômicas que iam além do cenário agrícola eram ainda escassas.

O marco para o acirramento dos debates econômicos será a inauguração da Companhia Siderúrgica Nacional, que dá as bases para a industrialização brasileira. A partir daí, surgem personagens importantes entrincheiradas em três correntes de pensamento: a neoliberal, a desenvolvimentista e a nacionalista/socialista. Os desenvolvimentistas estavam ligados ao setor privado, com alguns apoios no setor público, e pregavam a importância fundamental da industrialização nacional, planejamento econômico, com ampla participação do Estado. Seus principais personagens estavam ligados à CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe), agência instituída pela ONU para auxiliar as economias da América Latina, ajudando em sua industrialização e progresso. Já os neoliberais, com destaque para Eugênio Gudin e Octávio Gouveia de Bulhões, acreditavam ser necessário primeiro estabilizar a economia para se ter acesso ao crescimento econômico. Pregavam o livre mercado, sem vigilância ferrenha do Estado, em franca oposição aos desenvolvimentistas. Os nacionalistas/socialistas estavam representados pelo emblemático Celso Furtado, além de Rômulo de Almeida e Américo de Oliveira. Estes consideravam fundamental a participação das empresas estatais no processo de industrialização, bem como o desenvolvimento de projetos prioritários como mineração, petroquímica, energia, telecomunicações e transportes. Sua orientação baseava-se em Keynes e nas teses da CEPAL para o desenvolvimento brasileiro. Em trajetória completamente à margem destas correntes figuraria Inácio Rangel.

O debate entre esses grupos durou até o início da década de 1990, sendo que hoje o projeto liberal capitaneado por Eugênio Gudin é considerado falho e ultrapassado, mais propenso a funcionar numa economia já desenvolvida. Apesar disso, foi esse o modelo seguido pelo regime militar durante toda a sua existência, gerando até mesmo "herdeiros" como Roberto Campos (apelidado pela esquerda brasileira de "Bob Fields") e Delfim Netto.

Já os modelos defendidos por Celso Furtado e pela equipe da CEPAL acerca do desenvolvimento nacional sobreviveram melhor ao teste do tempo, sendo que os seus conceitos fundamentais ainda se encontram em prática pelas recentes equipes responsáveis pela política econômica do país.

Bibliografia:
SOUZA, Nali de Jesus. Pensamento econômico brasileiro . In Desenvolvimento Econômico. 5a ed. São Paulo: Atlas, 2005, Disponível em http://www.nalijsouza.web.br.com/pensa_econ_brasil.pdf . Acesso em 07/06/2011.

Visconde de Cairú . Disponível em http://www.netsaber.com.br/biografias/ver_biografia_c_1294.html . Acesso em 07/06/2011.

FERREIRA, José. ANTONIL, Padre André João (1649 - ?) . Disponível em http://www.fcsh.unl.pt/cham/eve/content.php?printconceito=789 . Acesso em 07/06/2011.

Arquivado em: Economia
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