Aumento do nível do mar

Por Rafael Barty Dextro

Mestre em Ecologia e Recursos Naturais (UFSCAR, 2019)
Bacharel em Ciências Biológicas (UNIFESP, 2015)

Categorias: Geografia, Oceanografia
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Um dos efeitos indiretos do aquecimento global mais discutidos e temidos pela sociedade é o aumento do nível do mar. Cerca de 40% da população mundial (mais de 2 bilhões de pessoas) vivem em zonas costeiras e estão ameaçadas caso os cenários de previsão de aumento do nível dos oceanos se concretizem nas próximas décadas.

Com o acumulo de gases do efeito estufa na atmosfera, provenientes de diversas ações humanas (como queimadas, emissões veiculares e industriais), nosso planeta tem apresentado uma tendência crescente de aquecimento da temperatura média. Isso afeta todos os ecossistemas mundiais de maneiras únicas. Por um lado, há a ocorrência de eventos climáticos intensos e severos, como a mudança dos padrões regionais de chuvas que podem causar seca ou inundações em diferentes locais, e por outro há o aquecimento dos oceanos que além de afetar diretamente a vida marinha induz o degelo das calotas polares no Ártico e na Antártida.

Em relação ao norte do planeta, temos gelo acumulado no Ártico, Groenlândia, norte da Europa, Rússia e Canadá. Em todos esses locais, nas últimas décadas, vem sendo noticiado a ocorrência de verões mais quentes e intensos que contribuem para uma menor formação de neve e gelo. Além disso, as massas de gelo que eram consideradas “perpétuas” (do inglês permafrost) no Ártico, Groenlândia, Sibéria e Alasca tem sofrido derretimento, com graves efeitos locais e globais. Um estudo no norte do Canadá relevou que a taxa de degelo observada na atualidade é maior do que a estimada para os últimos 4000 anos. Outro estudo, baseado em acompanhamento de imagens de satélite, calculou uma redução de 12% da área total de cobertura de gelo ártico desde 1979, apontando para um cenário ainda mais grave num futuro não muito distante.

Concentração de gelo no Ártico em 2018. A linha amarela indica a posição média da extensão de gelo entre 1981 e 2010. Fonte: NOAA.

Acompanhe no vídeo abaixo a retração da camada de gelo no Ártico, entre 1990 e 2016.

Na Antártida, principal e maior zona de acumulo de gelo do hemisfério sul, o degelo vem ocorrendo em taxas alarmantes. Em fevereiro de 2020 foi registrado na península antártica a temperatura mais elevada para o continente antártico: 18 graus Celsius. Segundo pesquisadores, um elevado derretimento antártico ocorrido por volta de 120.000 anos no passado teria elevado o nível do oceano global em 3 metros, o que deixou uma marca no registro estratigráfico de vários locais do mundo.

O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) tem produzido relatórios contínuos sobre o aumento do nível do mar e seus efeitos. Segundo a compilação de diversos estudos contendo estimativas, se nada for feito e as emissões prosseguirem nas taxas atuais, os oceanos podem subir entre 1 e 1,5 m até 2100. Em um cenário extremo, com aumento das emissões de gases do efeito estufa para estimular grande crescimento econômico dos principais países poluidores, esse aumento pode chegar a 2,5 m até o final do século. Entretanto, se todos os signatários do Acordo Climático de Paris cumprirem suas metas estipuladas, o aumento estimado do nível do oceano para 2100 diminui para 0,5 m.

O aumento do nível do mar terá diferentes gravidades dependendo da localização geográfica. Os efeitos em ilhas de todo o mundo, no sudeste asiático, Oceania, América Central e também no delta de grandes rios como o Amazonas serão devastadores para as populações locais. Contudo, estudos preliminares indicam que a taxa de aumento do nível oceânico pode não ser homogênea ao redor do mundo, afetando mais intensamente os países banhados pelo oceano Atlântico (uma vez que ele tem aquecido em taxas superiores aos demais oceanos do mundo). A única forma de impedir o agravamento deste cenário é cobrar das autoridades o cumprimento de acordos ambientais para redução da emissão de gases poluentes, desacelerando esse processo.

Leia também:

Referências:

Fisher, D., Zheng, J., Burgess, D., Zdanowicz, C., Kinnard, C., Sharp, M. and Bourgeois, J., 2012. Recent melt rates of Canadian arctic ice caps are the highest in four millennia. Global and Planetary Change84, pp.3-7.

O’Neill, S., Williams, H.T., Kurz, T., Wiersma, B. and Boykoff, M., 2015. Dominant frames in legacy and social media coverage of the IPCC Fifth Assessment Report. Nature Climate Change5(4), pp.380-385.

Wang, M. and Overland, J.E., 2009. A sea ice free summer Arctic within 30 years?. Geophysical research letters36(7).

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