França Antártica

Mestre em História (UFAM, 2015)
Graduado em História (Uninorte, 2012)

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A França Antártica se caracterizou pelo período em que os franceses tomaram posse de uma pequena parte do litoral brasileiro. As disputas luso-francesas tinham relação com o controle sobre riquezas, comércio e colônias no ultramar. Nesse sentido, a presença francesa no litoral Atlântico-Sul reflete a relação dinâmica entre vários estados europeus pelo monopólio das terras do Novo Mundo.

Conforme aponta Bicalho (2008), em novembro de 1555, três navios franceses, comandados por Nicolas Durand de Villegagnon, chegaram à Baía da Guanabara (no atual Estado do Rio de Janeiro) com a intenção de iniciar um empreendimento colonial. No entanto, tal acontecimento não inaugura a presença francesa naquelas regiões. Holanda (1997) afirma que a presença francesa na região data de antes da chegada de Pedro Álvares Cabral. Assim, nos primeiros anos do “descobrimento”, diferentes nações europeias desenvolviam relações comerciais com os indígenas do Novo Mundo. Os franceses navegavam pelo litoral desenvolvendo trocas comerciais com os indígenas desde fins do século XV.

Mas, até então, muitas expedições comerciais eram desenvolvidas por particulares. O que muda a partir da expedição de 1555, é que o Projeto de Fundação da França Antártica teve apoio de Henrique II (rei de França), Gaspar de Coligny (Almirante da Marinha Real), Duque de Guise (cardeal de Lorena), de comerciantes e armadores franceses. O envolvimento destes personagens sugere que a implementação daquela colônia francesa envolveu grandes investimentos iniciais.

Um dos principais objetivos da França Antártica era garantir uma parcela do mercado de especiarias já monopolizada pelos portugueses. Para tanto, cerca de 600 colonos, entre camponeses, mercenários, aventureiros e pequenos proprietários católicos e protestantes se estabeleceram na região. Na ilha que ficou conhecida como de Villegagnon, prepararam o terreno para tal empreitada. Desenvolveram alianças com os índios Tamoios que foram incorporados àquele núcleo colonial como mão de obra e força militar contra outras nações indígenas e europeias, especialmente os portugueses que intentavam a retomada do território.

As dificuldades daquele empreendimento logo se fizeram sentir. Doenças, péssimas condições de alimentação e disponibilidades de bens necessários na vida cotidiana constituíam a base de várias deserções, fugas e migrações de franceses para aldeias indígenas. Bicalho (2008) aponta que o próprio Villegagnon submetia sua comunidade a uma severa disciplina, proibindo o contato e mesmo o casamento entre franceses e indígenas. Tais questões levaram ao enfraquecimento das colônias francesas e ao desinteresse dos investidores pelo empreendimento. Somaram-se a isso a crise religiosa que assolava a França no contexto das guerras religiosas entre católicos e protestantes na Europa Moderna.

Uma segunda expedição empreendida em 1557, por uma maioria de protestantes, elevou ainda mais os ânimos dos portugueses católicos que consideravam aquele empreendimento colonial como de profundo caráter protestante. Este problema também foi um dos fatores para a eclosão de conflitos de caráter religioso no seio da própria colônia francesa. Em março de 1560, os portugueses iniciaram o processo de expulsão dos franceses, tomando sua fortaleza e dissipando-os pelos matos. Dispersos pelo território, os franceses ainda retornariam àquela Baía e manteriam o comércio de especiarias e pau-brasil com os corsários franceses. Foi somente com a expedição de Estácio de Sá, ocorrida em 1565, a qual incluía jesuítas como Manoel da Nóbrega e José de Anchieta, que os franceses foram definitivamente expulsos. Para legitimar o poderio luso na região foi fundada, ainda naquele ano, a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Referências:

BICALHO, B.; FERNANDA, Maria. A França Antártica, o corso, a conquista e a" peçonha luterana". História (São Paulo), v. 27, n. 1, 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/his/v27n1/a04v27n1; Acesso em: 25 out. 2017.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. História Geral da Civilização Brasileira – Tomo I: A época colonial – do descobrimento à expansão territorial. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.

 

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