Guerrilha do Caparaó

Mestre em Educação (UFMG, 2012)
Especialista em História e Culturas Políticas (UFMG, 2008)
Graduada em História (PUC-MG, 2007)

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A Guerrilha do Caparaó foi um movimento de resistência ao regime militar atuante entre os anos de 1966 e 1967 formado por civis e graduados nas Forças Armadas que foram a favor das Reformas de Base, propostas por João Goulart, e contrários ao Golpe de 1964.

O Golpe de 1964 e a formação do grupo de guerrilheiros

O nome original do grupo era Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), mas ficou conhecido como Guerrilha do Caparaó por ser este o local em que os guerrilheiros atuavam. O Parque Nacional do Caparaó situa-se entre os estados de Minas Gerais (MG) e Espírito Santo (ES).

Seus integrantes, cerca de 16 pessoas, foram militares de baixa patente e civis que apoiaram as Reformas de Base de Jango. Dentre os militares, destacam-se o subtenente Jelcy Rodrigues Corrêa, os marinheiros Avelino Bioen Capitani e Amaranto Jorge Rodrigues Moreira, e os sargentos Amadeu Felipe da Luz Ferreira e Edval Augusto de Melo. Dentre os civis destacam-se Hermes Machado Neto e Milton Soares de Castro. Os guerrilheiros, antes de ocuparem a Serra do Caparaó, foram treinados em Cuba, apoio obtido através de Leonel Brizola.

Leonel Brizola, apoiador de Jango e das Reformas de Base, era a principal figura de referência desses militares e já articulava levantes populares caso os militares tomassem o poder. Entretanto, tendo Jango aceitado de forma branda o golpe e se exilado no Uruguai, Brizola viu seus planos tornarem-se improváveis e passou a apoiar os movimentos de guerrilha rural que já existiam entre os militares afastados pelo Golpe de 1964.

A guerrilha que não aconteceu

Em 1966 o grupo estabeleceu-se progressivamente na Serra do Caparaó. Entretanto, esta era a terceira tentativa de implantação da guerrilha, tendo as duas primeiras – no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina – falhado. Dessa forma, o grupo comprou um sítio nas proximidades da serra e nele instalou sua primeira base. Foram levados para o local aproximadamente 2,5 toneladas de equipamentos. Nesse contexto, Amadeu foi escolhido para liderar o grupo.

Os militantes enfrentaram diversas dificuldades, tais como a escassez de alimentos, o clima frio da região e a falta de diálogo com a população ao redor, que passou a denunciar o grupo. Apesar do treinamento em Cuba, o grupo não compreendeu um aspecto básico para o sucesso da guerrilha rural: integrar-se à população para ter seu apoio e tornar-se progressivamente parte dela.

A escassez de alimentos levava os guerrilheiros a terem que recorrer ao comércio local, o que contribuiu para a descoberta precoce do grupo pela Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG).

O grupo já vinha sendo observado pela polícia da região após denúncias feitas pela população, que temia o avanço comunista e a perda de suas propriedades, imaginário este nutrido pelos militares. Foi desmantelado a partir de fins do mês de março, começando pelos dissidentes Jelcy e Josué Cerejo. No dia 31 de março foram presos outros oito integrantes surpreendidos em sua base por policiais do II Batalhão de Manhuaçu. Os guerrilheiros foram mantidos na penitenciária de Linhares (MG) até o julgamento, onde Milton foi encontrado morto em sua cela, sendo a causa oficialmente divulgada a de suicídio. O grupo iniciado em 1966 não chegou a realizar nenhuma ação efetiva.

Bibliografia:

GUIMARAES, Plínio Ferreira. “Os comunistas estão chegando!”: a Guerrilha do Caparaó e o medo da população local. In: SALES, Jean Rodrigues (org.). Guerrilha e revolução: a luta armada contra a ditadura militar no Brasil. Rio de Janeiro: lamparina, FAPERJ, 2015, p. 15-35.

Arquivado em: Ditadura Militar
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