Invasões inglesas no Brasil

Por Fernando Roque Fernandes

Mestre em História (UFAM, 2015)
Graduado em História (Uninorte, 2012)

Categorias: Brasil Colônia
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As invasões inglesas no Brasil devem ser consideradas sob duas dimensões. A primeira delas está relacionada aos empreendimentos econômicos estabelecidos entre ingleses e indígenas no primeiro século da colonização. Daí a razão pela qual os portugueses chamaram os ingleses de invasores. A segunda e mais conhecida, se caracteriza pelo crescimento das práticas de pirataria decorrentes do colapso daquelas relações comerciais. Assim, as atividades de corsários e piratas devem ser analisadas em perspectiva.

Outra questão primordial nesse processo é a relação que os navios ingleses estabeleceram entre a costa brasileira e a costa africana a partir de suas atividades mercantilistas. A primeira viagem dessa natureza foi registrada em 1530. O inglês William Hawkins, negociante de Plymouth, teria empreendido três viagens, entre os anos de 1530 e 1532. Tais excursões marcaram a entrada de comerciantes e navegadores ingleses no Atlântico Sul. Numa delas, o próprio William teria chegado à costa africana. Desde então se tornou comum embarcações inglesas criarem rotas intercontinentais, chegando à Inglaterra abarrotados de pau-brasil e marfim. Um comércio regular foi estabelecido entre a Inglaterra, regiões da África Ocidental e do Nordeste Brasileiro. Nesse sentido, a chegada de ingleses à costa brasileira fez parte de um projeto de expansão marítima iniciado na primeira metade do século XVI e caracterizado por fortes relações econômicas.

Um comerciante inglês chamado Pudsey, da cidade de Southampton teria, inclusive, mandado construir um forte militar na Bahia, em 1542. Tal atitude evidenciava a presença regular de ingleses no litoral brasileiro no início da colonização. Para evitar choques com os portugueses, os ingleses preferiam estabelecer trocas comerciais com os indígenas através do escambo. Na segunda viagem empreendida por Willian, um chefe indígena o teria acompanhado até a Inglaterra e lá se apresentado à Corte, onde permaneceu. Até fins do século XVI, a presença inglesa na costa brasileira foi caracterizada pela forte relação comercial com os indígenas. Apesar da diminuição da atuação inglesa no litoral brasileiro, a partir de fins do século XVI, o comércio com indígenas do Atlântico-Norte parece ter crescido substancialmente.

Na região do delta amazônico, no Estado Colonial do Maranhão, desde fins do século XVI e início do XVII, os ingleses estabeleceram contato com grupos indígenas e passaram a comercializar, além de muita madeira, outras especiarias de alto valor no mercado europeu (algodão, urucum, tabaco e gêneros do reino animal, como papagaios, tartarugas, peixes-boi, etc.). Um mapa do delta amazônico desenvolvido em 1629, pelo cartógrafo português João Teixeira Albernaz indica a localização de uma fortaleza inglesa naquela região, da qual os portugueses haviam se apossado. Outro mapa, desenvolvido em 1640, ainda indica a localização daquela fortaleza inglesa.

Isso nos permite observar que, para além do que afirma a historiografia que trata da atuação inglesa nas colônias portuguesas, tal presença não se caracterizou apenas pelas práticas de pirataria e tentativas de invasões, empreendidas por comandantes como Francis Drake (1577), Robert Withrington e Christopher Lister (Salvador/1587), James Lancaster (Recife/1595) e o mais famoso dos piratas ingleses: Thomas Cavendish (Santos/1591). Portanto, se deve observar que as colônias portuguesas na América (Brasil e Maranhão) tiveram lugar de destaque nos interesses marítimos ingleses. Práticas comerciais também constituíram, juntamente com práticas de pirataria, importantes elementos na expansão ultramarina inglesa. Assim, as colônias portuguesas se caracterizaram como alvo potencial, mas, também, ponto de apoio para os ingleses, nos séculos XVI e XVII.

Mapas Coloniais:

ALBERNAZ, João Teixeira. Pequeno Atlas do Maranhão e Grão-Pará (1629). Biblioteca Digital Luso-Brasileira. Disponível em: http://bdlb.bn.gov.br/acervo/handle/123456789/15348; Acesso em: 03 dez. 2017.

ALBERNAZ, João Teixeira. Litoral do Pará, Marajó e a Cidade de Belém e parte do Maranhão. Atlas do Brasil de 1640. Guia Geográfico: mapas do Brasil. Disponível em: http://www.brasil-turismo.com/para/albernaz.htm; Acesso em: 03 dez. 2017.

Referências:

FAUSTO, Boris & FAUSTO, Sergio. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1994. Disponível em: http://limendi.com.br/wp-content/uploads/2015/10/historiadobrasil.pdf; Acesso em: 02 dez. 2017.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. História Geral da Civilização Brasileira, tomo I: A época colonial: do descobrimento à expansão territorial. Bertrand Brasil, 2008.

HULSMAN, Lodewijk & GUZMAN, Décio. Swaerooch: o comércio holandês com índios no Amapá (1600-1615). Revista Estudos Amazônicos, v. 6, n. 1, p. 178-202, 2011. Disponível em: http://www.ufpa.br/pphist/estudosamazonicos/arquivos/artigos/1%20-%20VI%20-%208%20-%202011%20-%20Lodewijk_Hulsman.pdf; Acesso em: 02 dez. 2017.

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