Período Cambriano

Doutorado em Geociências (USP, 2015)
Mestrado em Geologia Sedimentar (UNISINOS, 2008)
Graduação em Ciências Biológicas (UNISINOS, 2006)

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O Período Cambriano (541–485.4 milhões de anos) é o período conhecido pela explosão da vida na Terra, quando se originaram todos os principais filos de organismos multicelulares, e ocorreu a irradiação de quase todos os grupos que encontramos atualmente, em um período de tempo geologicamente curto.

Durante o Cambriano, os continentes estavam divididos em 3 porções de terra menores localizadas nos trópicos, e uma porção maior (o Gondwana) ao sul, e todos envoltos pelo oceano. As temperaturas que se elevaram a partir do final do Pré-Cambriano permaneceram estáveis durante todo o Cambriano.

Os locais onde afloram as rochas cambrianas contendo os fósseis deste período no mundo são raros, tendo como principais e mais conhecidos o Folhelho Burgess, no Canadá, o Folhelho de Maotianshan, na China, e os argilitos de Emu Bay, na Austrália.

As faunas desse período, embora primitivas, apresentavam inúmeros padrões morfológicos, uma imensa variedade de espécies, em sua maioria animais de corpo mole, e novas estratégias ecológicas, como a predação, enterrar-se profundamente no sedimento e construir túneis complexos e ramificados. Também apresentavam alguns animais esqueléticos relativamente grandes, como as trilobitas, braquiópodes, e o anomalocaris, um dos grandes predadores deste período.

Ilustração de alguns animais primitivos do Período Cambriano, incluindo o Anomalocaris (centro). Ilustração: Dotted Yeti / Shutterstock.com

Explosão Cambriana: a grande biodiversidade da fauna

As faunas fósseis que representam a explosão da vida nos mares durante o Cambriano são a Tommotiana, a de Chengjiang, e a do Folhelho Burgess.

A Fauna Tommotiana (em inglês small shelly fauna) representa o conjunto de fósseis que existiram logo no início do período Cambriano, há cerca de 570-560 milhões de anos. É caracterizada por uma fauna fóssil de pequenos animais de conchas, representando os primeiros metazoários com partes duras preservadas. Seus fósseis são encontrados em afloramentos principalmente na Rússia, entre outros locais do mundo, e abrange uma grande quantidade de pequenos fósseis de corpos duros (esqueléticos), como conchas, cones, tubos, espículas, moluscos, braquiópodes, esponjas, anelídeos, os extintos arqueociatídeos (primeiros animais formadores de recifes), entre outros.

A Fauna Chengjiang (520 milhões de anos, Cambriano Inferior) ocorre principalmente em afloramentos de Folhelhos Maotianshan, na China, conhecidos por conter todos os grupos fósseis encontrados na fauna do Folhelho Burgess, evidenciando a diversificação dos metazoários ainda no Cambriano Inferior. A fauna é caracterizada por organismos de corpo mole, bem preservados, e composta por 185 espécies de esponjas a cordados e 60 artrópodes, tais como o Anomalocáridus, Hallucigenia, Wiwaxia, Opabinia, trilobitas, entre outros.

A Fauna do Folhelho Burgess ou Burgess Shale (510 milhões de anos, Cambriano Médio) são os fósseis de animais invertebrados mais importante do mundo, pois registra um dos acontecimentos cruciais da história da vida na Terra: o resultado do processo de diversificação que ocorreu logo após o período de explosão da vida na Terra (explosão Cambriana). As rochas contendo esta fauna fóssil afloram em rochas canadenses, e contém fósseis de organismos de corpo mole preservados nos mínimos detalhes. A fauna evoluiu bastante desde a ocorrência da fauna anterior (a fauna de Chengjiang), sendo caracterizada por organismos invertebrados, sem partes resistentes fossilizáveis, e sem correspondentes com organismos da atualidade. É composta por 140 espécies distribuídas em 119 gêneros, quase um gênero por espécie, contendo artrópodes diversos (14 gêneros de trilobitas), 30 outros artrópodes (transicionais entre trilobitas e crustáceos), celenterados, medusóideos, polipóideos, anelídeos variados e equinodermos holotúróideos.

Figura 2. Vista de um afloramento do Folhelho Burguess no topo das Rock Montains canadenses, Yoho National Park. Foto: NorthStarPhotos / Shutterstock.com

Como surgiu a vida nos mares do período Cambriano

As principais condições que geraram a explosão da vida e da diversidade durante o Cambriano foram a falta de predadores nos mares, pois estes estavam originando-se e desenvolvendo-se junto a todos os outros organismos, o aparecimento de pequenos esqueletos biomineralizados (conchas e recifes), e principalmente, as mudanças geoquímicas nos mares, devido ao aumento da temperatura global e do oxigênio na Terra, liberado pelos recifes.

Impressão de uma trilobita fóssil, do Burgess Shale. Foto: inEthos Design / Shutterstock.com

Referências:

TEIXEIRA, W.; FAIRCHILD, T.; TOLEDO, M.C.M. & TAIOLI, F. (2007). Decifrando a Terra. 2ª edição, São Paulo, SP; Companhia Editora Nacional, 623p.
PRESS, F.; SIEVER, R.; GROTZINGER, J. e JORDAN, T.H. (2013). Para entender a Terra. Tradução R. Menegat (coord.), 6ª edição, Porto Alegre, RS; Bookman, 656p.

http://agencia.fapesp.br/explosao-de-vida/9893/

http://www.cprm.gov.br/publique/Redes-Institucionais/Rede-de-Bibliotecas---Rede-Ametista/Canal-Escola/Breve-Historia-da-Terra-1094.html

http://www.scotese.com/climate.htm

http://labs.icb.ufmg.br/lbem/aulas/grad/evol/especies/preposcambriano.html

Hou, X., and Bergström, J. 2003. The Chengjiang fauna – the oldest preserved animal community. Paleontological Research, v.7(1):55-70.

Arquivado em: Geologia, História
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