Cobra Norato

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Cobra Norato, lançado em 1931, é considerado um dos melhores poemas épicos brasileiros, junto a I-Juca Pirama, de Gonçalves Dias, que o antecede em pelo menos um século. Ele nasce no auge do movimento modernista, das mãos de um dos principais poetas da primeira geração deste período da literatura brasileira.

Raul Bopp alcança o intento ensaiado por Mário de Andrade, aliar as falas aborígines e africanas, modificando a sintaxe, evitando os abusos e afetações cometidas pelo autor de Macunaíma. Cobra Norato extrai seu vigor das terras amazônicas de uma forma distinta da realizada por Gonçalves Dias.

Este poema é uma alegoria mitológica tecida pela singularidade da paisagem do Amazonas, concebida originalmente como uma narrativa infantil. A história é, a princípio, lúdica, pois em seu início Bopp enlaça o pescoço da Cobra com um laço, estrangulando-a e entrando, assim, no couro do animal. Este gesto antropofágico caracteriza a literatura da época e marca este movimento predominante nos anos 30, constituindo sua obra mais significativa.

De posse da Cobra Norato, o poeta pode circular pelo mundo, após adormecer. Ele deseja encontrar a rainha Luzia, pois pretende pedir sua filha em casamento. Enquanto ele busca a amada, tenta traduzir para o leitor as paisagens que avista no cenário da Amazônia. Desta forma vai vencendo os obstáculos que se instauram em sua travessia, como nos contos de fadas e nas narrativas populares.

O poema descreve então o selvagem universo que se desdobra diante do poeta, com matas fétidas que geram serpentes, rios esbeltos compelidos a limpar ravinas gosmentas, germes lodosos, lamaçal abundante, entre outras visões terríficas e silvestres. Suas aventuras incessantes são relatadas com a mesma verve exótica.

Depois de muitas andanças, o protagonista segue à procura da noiva da Cobra Grande e leva consigo um anel e um pente de ouro, presentes que oferecerá à moça. Enquanto esta Cobra se arrasta por tubos e desemboca aos pés de Nossa Senhora, o poeta desembarca nas terras altas ao lado da noiva desejada.

O gaúcho Raul Bopp se une ao grupo de São Paulo, que desenvolve os ideais verde-amarelos e antropofágicos. Cobra Norato é sua obra mais conhecida. As edições mais recentes foram corrigidas pelo poeta, que, assim, estabeleceu uma disposição mais aperfeiçoada entre as várias partes do livro; além disso, ele extraiu alguns versos e inseriu trechos diferentes.

Este poema é, sem dúvida, um texto Modernista de intenso valor; por seus relatos vigorosos, seu estilo lírico, o uso equilibrado e criativo das tradições populares, é hoje um clássico da literatura brasileira.

Arquivado em: Literatura
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