Talibã

Por Saulo Castilho

Mestre em História Comparada (UFRJ, 2020)
Bacharel em História (UFRJ, 2018)

Categorias: Afeganistão, Islamismo
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O Talibã, “estudantes” no idioma pashtun, é um grupo político-religioso que surgiu no Afeganistão durante a década de 1990. São conhecidos pelo caráter repressivo de seus governos, fruto de uma interpretação extrema da Sharia, o sistema de leis islâmicas. Estiveram no poder entre 1996 e 2001, quando foram derrotados por forças estadunidenses que ocuparam o Afeganistão. Vinte anos depois, enquanto norte-americanos e europeus retiravam seus últimos agentes e tropas do país, o Talibã tomava o controle da capital Cabul.

Origem

O Talibã foi fundado em 1994 pelos mujahidin, grupo de guerreiros islâmicos de orientação wahabista - corrente ultra conservadora com origem na Arábia Saudita. Os mujahadin afegãos vinham de diferentes regiões do país e tinham em comum a forte retórica religiosa, visto que frequentavam escolas (madrassas) wahabistas. Nelas, aprendiam principalmente a teologia e o direito.

Além disso, possuíam forte conexão com a CIA estadunidense e o serviço secreto do Paquistão. Tal apoio deu-se no contexto da Guerra Fria, marcada pela intervenção indireta de estadunidenses e soviéticos em conflitos de seu interesse. Foi o caso da Guerra do Afeganistão (1979–1989).

O conflito começou quando a URSS invadiu o Afeganistão visando preservar o governo socialista estabelecido após a Revolução de Saur (1978). Sua presença permitiu que os comunistas permanecessem no poder até 1989, embora sem governabilidade de fato.

A maioria dos afegãos via negativamente a invasão soviética. Foi nesse contexto que diferentes grupos de mujahidin declararam uma guerra santa contra os soviéticos.

Chegada ao poder

Quando os comunistas saíram do poder, um governo transitório foi estabelecido pelos rebeldes. Todavia, a unidade dos mujahidin durou pouco, dando início a uma disputa por poder.

Em 1994, um grupo de ex-guerreiros pertencentes a uma madrassa na província de Candaar, sul do Afeganistão, destituiu o chefe militar local e iniciou a pacificação da região. Graças às promessas de segurança e pela retórica religiosa, essa facção obteve apoio popular e, rapidamente, tornou-se o movimento conhecido como o Talibã.

Em 1996, o Talibã havia conquistado a capital e a maioria das províncias afegãs.

Resistência ao Talibã

A chegada do Talibã ao poder não agradou toda a população afegã. O motivo estava na interpretação do grupo sobre a lei e a manutenção da ordem, baseadas no conservadorismo religioso e em normas sociais adotadas pelos pashtuns.

Na prática, essa concepção gerou um governo altamente repressivo. Mulheres foram basicamente excluídas da vida pública, a cultura não-muçulmana foi censurada e destruída, e duras punições para crimes comuns foram estabelecidas.

Desse modo, grupos de outras etnias, como os tajiques, uzbeques e hazaras, tentaram resistir à expansão do Talibã. Contudo, em 2001, pouco antes da invasão estadunidense ao Afeganistão, o território estava basicamente sob o controle do Talibã.

Invasão estadunidense e retorno ao poder

O estopim para a invasão dos Estados Unidos ao Afeganistão foi a recusa do Talibã em extraditar Osama bin Laden, líder da Al-Qaeda. Os ex-muhajidins possuíam uma ligação com a organização que consistia, inicialmente, numa rede de guerreiros muçulmanos formada durante a Guerra do Afeganistão.

Em outubro de 2001, os EUA e aliados iniciaram a bombardear o Afeganistão e contaram com o apoio das forças locais contrárias ao Talibã. Em dezembro, o Talibã havia sido dado como superado.

Os anos seguintes foram marcados por conflitos entre o Talibã e as forças norte-americanas presentes no Afeganistão. Os primeiros ingressaram em guerrilhas nas regiões montanhosas e foram se expandindo gradualmente. Enquanto os segundos buscaram criar um regime político que atendesse aos seus interesses geopolíticos.

A partir de 2018, o Talibã e os EUA iniciaram negociações diplomáticas para a retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão. Entre idas e vindas, elas se estenderam até 2021, ano em que os EUA completaram sua saída.

Leia também:

Bibliografia:

DA SILVA, Pedro Henrique Ferreira. ARÁBIA SAUDITA E A PROPAGAÇÃO DO WAHABISMO PELO MUNDO: UMA ANÁLISE DO FINANCIAMENTO PARA GRUPOS TERRORISTAS1.

DODGE, Toby. Afghanistan and the Failure of Liberal Peacebuilding. Survival, v. 63, n. 5, p. 47-58, 2021.

ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, The Editors. “Taliban”. Encyclopaedia Britannica. Disponível em: https://www.britannica.com/topic/Taliban. Acesso em: 20/11/2021.

FEROZ, Emran.Ocidente fechou os olhos para a realidade no Afeganistão e a Guerra ao Terror”. Brasil de Fato. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2021/08/20/ocidente-fechou-os-olhos-para-a-realidade-no-afeganistao-e-a-guerra-ao-terror. Acesso em: 16/11/21.

HARTMANN, Arturo; SCHMIDT, Thales. Entenda a história recente do Afeganistão (...)”. Brasil De Fato. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2021/08/22/entenda-a-historia-recente-do-afeganistao-e-veja-o-que-dizem-mulheres-do-pais-sobre-o-taliba. Acesso em: 16/11/21.

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