Aterro Sanitário e MDL

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O que é o MDL?

O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) é uma ferramenta criada pelo Protocolo de Kyoto que permite a um país desenvolvido, citado no anexo I do Protocolo, investir em tecnologias e projetos nos países em desenvolvimento que gerem redução ou não emissão de gases de efeito estufa (GEE) que não ocorreriam sem a existência do projeto (este é o chamado “critério de adicionalidade” do projeto).

Uma vez implantado este projeto que reduza ou evite a emissão de GEE, ele deverá ser submetido a todo um processo de validação, registro, monitoramento e verificação para que depois se emitam as chamadas Reduções Certificadas de Emissão (RCE’s) que poderão ser comercializadas com os países desenvolvidos para que eles atinjam suas metas de redução conforme traçado no Protocolo de Kyoto.

Desta forma empresas públicas ou privadas de diversos países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, vem investindo em projetos que consigam reduzir a emissão de gases de efeito estufa (GEE), como o gás metano, um dos principais constituintes do biogás produzidos em aterros sanitários.

Aterro Sanitário e os Gases de Efeito Estufa

Os aterros sanitários são locais para onde os resíduos sólidos urbanos podem ser destinados. Diferentemente dos lixões (depósitos a céu aberto), nos aterros sanitários existe toda uma preparação do solo para que não haja contaminação do lençol freático e das áreas de entorno, assim como o monitoramento do ar para que sejam verificadas as emissões de gases provenientes dos resíduos enterrados ali.

O gás emitido durante a decomposição dos resíduos sólidos em um aterro é chamado de biogás e sua composição pode variar levemente dependendo dos tipos de resíduos descartados ali e suas características. Porém, basicamente, esse gás é composto por dióxido de carbono e metano, dois dos principais gases causadores do efeito estufa.

Mas, se por um lado o biogás proveniente dos aterros é um dos vilões da camada de ozônio se lançado na atmosfera, por outro lado, o metano (CH4) é um gás que por seu alto poder calorífico representa uma excelente forma de energia. Assim, foram desenvolvidos projetos com o intuito de captar o gás gerado nos aterros e transformá-lo em energia elétrica. Desta forma, além de se conseguir aproveitar os resíduos para gerar energia, ainda evita-se o lançamento de GEE na camada de ozônio e seu conseqüente impacto. É aí que entram os projetos de MDL em aterros.

O biogás também pode ser usado de outras formas como em sistemas de calefação ou como combustível veicular, sendo que neste último caso, ele deverá passar por um sistema de beneficiamento que aumentará sue teor de metano, aumentando assim, seu poder calorífico.

Aterros Sanitários e MDL

Um dos exemplos mais conhecidos de projetos de MDL implantados em Aterro Sanitário é o caso do Aterro Sanitário Bandeirantes, localizado em Perus na região metropolitana de São Paulo. Com uma área total de 1.400.000m² o Aterro Bandeirantes está desativado desde março de 2007 tendo operado durante 28 anos e recebido, até 2006, cerca de 36 milhões de toneladas de resíduos. (COELHO, 2008).

A captação do biogás gerado no aterro foi iniciada em 2004 após uma série de estudos preliminares sobre a viabilidade do projeto e a instalação de uma usina termelétrica a biogás em 2003, onde o gás captado no aterro é tratado (retirada a umidade e feita uma pré-filtragem) e depois transformado em energia. (COELHO, 2008)

O Aterro Bandeirantes possui capacidade para gerar aproximadamente 170 mil MWh de energia elétrica por ano e possibilitou, até então, a comercialização pela prefeitura de São Paulo de 1.262.793 RCE’s (Reduções Certificadas de Emissão), ou créditos de carbono, sendo que cada crédito corresponde a 1 tCOe (tonelada de carbono equivalente) que deixaram de ser lançados para a atmosfera. (Sites “Jim Naturesa” e “Abril”)

O Diferencial

O gás gerado nos aterros sanitários geralmente é tratado através da queima direta em flares para que o metano contido nele possa ser transformado em dióxido de carbono que, embora também seja nocivo para a camada de ozônio, possui um potencial poluidor várias vezes menor que o do metano.

Com essa medida já é possível reduzir o potencial de dano à camada de ozônio, mas, mesmo assim, os danos ainda seriam muito grandes se levarmos em consideração a grande quantidade de lixo descartada diariamente no mundo todo.  E esse é um dos motivos pelo qual a realização de projetos de MDL em aterros sanitários se tornou algo tão promissor.

O primeiro benefício da implantação de um projeto de MDL em aterro sanitário, como o citado anteriormente, é ambiental, já que toneladas de gases deixarão de ser lançados na atmosfera evitando-se assim o efeito devastador na camada de ozônio e todas as suas consequências. Mas ainda podemos citar dois benefícios adicionais: a geração de energia e o lucro advindo da comercialização dos créditos de carbono.

O empecilho, na maioria, das vezes, é que estes projetos exigem investimentos iniciais bastante altos o que pode acabar inviabilizando sua execução principalmente para municípios pequenos. No entanto, uma alternativa que vem sendo adotada com sucesso em algumas regiões do Brasil é o “Consórcio entre Municípios” onde diversos municípios pequenos e próximos resolvem construir em conjunto um aterro sanitário de maiores proporções melhorando assim, a relação custo-benefício do projeto.

Outras formas de aproveitamento do biogás (calefação, uso como combustível), também possuem potencial para exploração dos créditos de carbono, porém, ainda não possuem metodologia aprovada ou tecnologia suficiente para seu aproveitamento de forma tão atrativa para investidores quanto àquelas relacionadas aos aterros sanitários.

Como funciona

Em primeiro lugar deve ser realizado um estudo da viabilidade técnica e econômica do empreendimento que leve em consideração o potencial de geração de energia do biogás de acordo com a quantidade e composição dos resíduos descartados no local. O estudo deve conter também uma avaliação do custo da energia gerada pelo aterro em comparação com a fornecida pela concessionária local.

Para a geração de energia, que reduz drasticamente a quantidade de gases emitidos (mesmo com um projeto de MDL como o do Aterro Bandeirantes haverá a emissão de gases para a atmosfera, mas a quantidade é praticamente insignificante se comparada à não existência do projeto) e possibilita a obtenção de créditos de carbono, o que se faz, é aproveitar os poços de drenagem de gás já existentes nos aterros sanitários – em alguns casos é necessário instalar mais poços - e ligá-los a uma rede de coleta que levará o gás até a usina de geração.  Estes poços de drenagem geralmente são feitos de brita e podem ser horizontais ou verticais (alguns aterros adotam sistemas mistos).

A rede de coleta costuma ser instalada no subsolo para evitar acidentes e é ligada a bombas de vácuo que permitem a manutenção de uma vazão constante e regular de biogás para a usina de geração. Além disso, em alguns casos, também é necessária a realização de uma impermeabilização de cobertura na região do aterro para evitar que o gás escape para a atmosfera. Essa cobertura geralmente é feita com argila de baixa permeabilidade compactada.

Em uma primeira etapa após a captação, o biogás, que contém umidade e algumas impurezas em sua composição, passa por um processo de retirada da umidade e uma pré-filtragem na usina de gás onde também pode passar por um processo de resfriamento e só depois é encaminhado para a usina de geração de energia onde alimentará moto-geradores, responsáveis por gerar a eletricidade. Os motores utilizados para geração de energia são adaptados para trabalhar com biogás e também podem ser utilizadas turbinas. A partir daí a energia gerada no aterro poderá ser fornecida pela rede local para os consumidores.

 

Fontes:

http://empresasefinancas.hsw.uol.com.br/comercio-de-carbono1.htm

http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/eventos/conteudo_300740.shtml

http://portal.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/servicoseobras/servicos/0011

http://www.ambiente.sp.gov.br/destaque/2004/marco/25_termeletrica.htm

http://noticias.uol.com.br/ultnot/economia/2006/04/06/ult29u47126.jhtm

http://www.slideshare.net/jimnaturesa/biogas-presentation-878302

http://www.rc.unesp.br/igce/aplicada/ead/residuos/res13.html

COELHO, Hosmanny M. G. Aproveitamento Energético do Lixo Urbano e Resíduos Industriais. Lavras: UFLA/FAEPE, 2008. 1ª Edição. 102p.

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